Os melhores no Brasil em 2024: (1) – João "felps" Vasconcellos

Aos 29 anos, atleta repete feito de 2020 e fatura o ouro na listagem

Foto: Arte/DRAFT5

João "felps" Vasconcellos é sem dúvidas um dos mais experientes e condecorados nomes da história do Counter-Strike brasileiro ainda em atividade. Dono de um currículo invejável e campeão por onde passou, o veterano repete o feito de 2020 - quando dominou a América do Sul junto da BOOM - e leva para casa a medalha de ouro na lista de melhores jogadores no Brasil.

COMEÇO RAIZ

Nascido na capital do estado de São Paulo, o pequeno João conheceu o mágico mundo dos jogos eletrônicos ao ver um PlayStation em uma lan house. Não demorou para que o console de mesa da Sony desse lugar aos computadores com o fenômeno Counter-Strike instalado e felps, por consequência, acabou entrando de cabeça no FPS da Valve.

"Eu passei na frente de uma lan house, quando era bem pequenininho. Estava indo para um clube aquático. Lá no fundo tinha um PlayStation 1, a galera estava jogando um futebolzinho. Vi de longe, me interessei e entrei. Desde então, comecei a ir, jogar os jogos de computador. Meu primeiro contato foi ali, uns dois meses depois que vi esses jogos de PlayStation. Vi o CS:Source ali, naquela época, conheci o CS 1.6. Descobri todos os CS ali. Isso há muito tempo, foi lá em 2006", relembrou.

Foi na LGX Lan, uma das mais tradicionais da capital paulista, que felps deu os primeiros passos no competitivo, ainda nos tempos de Counter-Strike: Source, posteriormente migrando ao recém-lançado CS:GO. Diferentemente de outros jogadores da época, felps não demorou a abraçar a então nova versão do jogo, largando em vantagem sobre os concorrentes.

O jovem felps de míseros 18 anos na BGS 2014 com a camisa da GFX | Foto: Games Academy

Ele, não por acaso, disputou alguns dos primeiros torneios de CS:GO realizados no Brasil pela plataforma XCL, que anos mais tarde daria origem à gigante Gamers Club. Ainda nos primórdios da era Global Offensive, felps defendeu algumas das principais tags do cenário nacional, vide semXorah, Dexterity - onde atuou ao lado de Epitácio "TACO" de Melo, que anos mais tarde seria seu companheiro de time nos momentos mais altaneiros da carreira -, Yakuz4, Mastermind, Keyd Stars e g3nerationX.

"Cheguei ao meu primeiro time por meio de amigos, sabe? Eles tinham uns times bem amadores na época do Source, então um amigo meu de escola estava com um time e me chamou. Fiz o teste, porque só jogava Gun Game, nunca tinha jogado competitivo. Foi isso. Desde então, quando saiu o CS:GO, fui pra cima do jogo para tentar ser profissional", contou.

CHANCE DE OURO

Não demorou para que as transferências de TACO, Lincoln "fnx" Lau e Wilton "zews" Prado à Luminosity deixassem lacunas na Games Academy, com felps, Ricardo "boltz" Prass e Luis "peacemaker" Tadeu chegando à equipe para preencherem-nas.

felps, assim como toda a equipe, ganhou notoriedade a nível internacional rapidamente e o esquadrão logo foi contratado pela Tempo Storm, ainda na primeira semana de 2016. Meses mais tarde, a escalação assinou com a Immortals, onde felps viveu um dos pontos mais altos da carreira, sendo eleito o MVP da DreamHack Open Summer 2016, torneio vencido pelos brasileiros sobre os anfitriões da emblemática Ninjas in Pyjamas.

felps era a grande estrela da Immortals de 2016 | Foto: Adela Sznajder/DreamHack

BATENDO NA PORTA

Com fnx de saída da SK Gaming, felps tornou-se a escolha óbvia para as tropas de Gabriel "FalleN" Toledo. Com a melhor equipe do mundo batendo à porta, o jovem astro deu adeus à Immortals para embarcar no maior desafio da carreira até então e, apesar do começo de temporada em marcha lenta, não demorou a empilhar títulos na era de ouro do Brasil na modalidade.

Ao todo, foram cinco troféus erguidos com a camisa do lendário clube alemão: cs_summit 1, IEM Sydney 2017, ECS S3 Finals e ESL One Cologne 2017. Quis o destino que o PGL Major Kraków 2017, justo o quarto a ser disputado pelos brasileiros após uma série de três títulos, não saísse como o planejado e a SK acabasse eliminada pela Astralis do imparável Nicolai "device" Reedtz ainda nas quartas.

"O melhor momento da minha carreira foi na SK, obviamente, quando estávamos ganhando os títulos. Acredito que tenha sido o auge, estava entre os melhores do mundo", reconhece.

Depois da frustração em solo polonês, a equipe liderada por FalleN não conseguiu manter a pegada e felps, prejudicado por problemas pessoais, acabou deixando a equipe ainda em outubro de 2017, retornando apenas para a disputa do ELEAGUE Major Boston 2018, onde o sonho da SK - que mal treinara com ele - esbarrou no conto de fadas da Cloud9.

Nos últimos meses de felps na SK, problemas pessoais acabaram afetando o desempenho do jovem atleta | Foto: Adela Sznajder/DreamHack

Foi junto da Não Tem Como de fnx e companhia que felps retornou à ação já em março de 2018, mas o insucesso da equipe levou-a à mudanças profundas que culminaram com a saída do clutch master. No fim das contas, o plantel acabaria assinando com a INTZ que competiu durante a maior parte do segundo semestre daquele ano em solo norte-americano.

Ao mesmo tempo, a internacionalização do MIBR de Jacky "Stewie2K" Yip e Tarik "tarik" Celik não rendia os frutos desejados. Foi preciso então recorrer ao velho conhecido para tentar voltar ao topo do mundo em 2019.

Apesar de esporadicamente emplacar boas campanhas - vide a ida às semifinais do IEM Katowice Major 2019 e o bronze da BLAST Pro Series: Miami 2019, a equipe não conseguiu se firmar entre as principais forças do planeta e felps, já em junho de 2019, trocou de lugar com Lucas "LUCAS1" Teles, rumando à Luminosity.

Mesmo voltando a ter um elenco 100% brasileiro, MIBR não se saiu bem na primeira metade de 2019 | Foto: StarLadder

A organização canadense, todavia, não demorou a desligar o disjuntor do projeto encabeçado por Lucas "steelega" Lopes após a não classificação ao StarLadder Major Berlin 2019, deixando felps em busca de uma nova casa para 2020.

VOLTA PRA CASA

Quando a BOOM acertou com o elenco que defendeu a INTZ durante a reta final de 2019, felps então foi escolhido para ser o quinto elemento da composição que viria a dominar a América do Sul ao longo do pandêmico 2020.

felps nos primeiros meses de GODSENT | Foto: Divulgação/GODSENT

O sucesso da equipe, por óbvio, se limitou às competições domésticas, dada a inexistência de grandes campeonatos presenciais por conta da situação de saúde global.

felps acabou sendo eleito o melhor jogador em atividade no Brasil naquela temporada. O país novamente provou ser pequeno demais para o astro, que embarcou junto de TACO no ambicioso projeto da GODSENT para 2021, o qual mesclava a experiência da dupla com a juventude de três talentosos atletas.

ENVIADOS DE DEUS

Alternando entre a Europa e a América do Norte, o esquadrão brasileiro foi pouco a pouco superando as expectativas do público, conquistando mais notavelmente a divisão norte-americana da DreamHack Open Semptember 2021 e chegando à IEM Fall 2021 - NA, competição que servia como porta de acesso ao Major de Estocolmo, com a confiança em alta para lutar pelo grande objetivo da temporada.

felps alcançou o PGL Major Stockholm 2021 junto da GODSENT | Foto: Divulgação/PGL

Com uma campanha surpreendente, a GODSENT deixou para trás nomes como a 00NATION de Vito "kNg" Giuseppe e a Team Liquid de FalleN, sendo freada apenas pela FURIA na finalíssima do campeonato. A prata na disputa colocou a equipe no PGL Major Stockholm 2021 e, apesar da fraca campanha em solo sueco, a GODSENT ainda teve tempo de terminar a temporada em alta com a classificação à ESL Pro League S15 e a ida às quartas da IEM Winter 2021, onde acabou sendo eliminada pela Ninjas in Pyjamas no último jogo de device com a camisa dos ninjas.

SEGUE O FLUXO

2022, entretanto, não foi tão generoso com a GODSENT, que acabou ficando de fora do Major da Antuérpia após sequer passar pelas seletivas abertas. Já em março, problemas familiares tiraram felps da ação. Seria somente em agosto que o experiente jogador voltaria à ação, sendo o grande nome do ambicioso projeto que marcou a entrada do Fluxo na modalidade.

Com pouco tempo de treino, a equipe não conseguiu avançar ao RMR das Américas que levava ao IEM Rio Major 2022, mas a dor foi estacanda por cinco títulos em sequência que alçaram o Fluxo a diversos campeonatos internacionais na reta final daquele ano.

felps ajudou a colocar o Fluxo no maior torneio da modalidade | Foto: Stephanie Lindgren/BLAST.tv

Mantendo a pegada no início de 2023, o Fluxo conseguiu a tão sonhada classificação ao Major de Paris, mas nem mesmo tal resultado foi capaz de manter felps na equipe. Em meio às saídas de FalleN e Marcelo "chelo" Cespedes, a Imperial resolveu então seguir apostando na experiência para continuar competindo entre as grandes do continente, buscando felps e HEN1 para se recompor.

Os primeiros meses junto do clube carioca foram duros, mas tudo mudou quando a experiência da dupla foi aliada à juventude de Lucas "decenty" Bacelar e Kaiky "noway" Santos: "Eu sabia que uma hora ou outra eles iriam vingar, mas foi muito rápido."

O IMPERADOR FELPS

Dadas as diversas mudanças sofridas pela Imperial na reta final de 2023, muitos certamente não consideravam a possibilidade da formação liderada por Vinicius "VINI" Figueiredo se firmar como uma das grandes forças da América do Sul já nos primeiros meses de 2024.

A respota dos imperadores aos céticos, entretanto, veio ainda no primeiro semestre, com felps sendo crucial para as classificações à ESL Pro League S19, BLAST Premier: Spring Showdown 2024 e PGL Major Copenhagen 2024 - grande objetivo do time, por óbvio.

Na capital dinamarquesa, os imperadores foram bem, deixando para trás ENCE, Apeks e GamerLegion para sobreviverem à primeira fase. No Elimination Stage, apesar de ter começado sua campanha com vitória sobre a Virtus.pro, a Imperial caiu diante das favoritas Team Spirit e Vitality antes de ser eliminada pela FaZe Clan em jogo que precisou de três mapas para ser resolvido a favor dos eventuais vice-campeões.

Imperial foi uma grata surpresa do Major de Copenhagen | Foto: Stephanie Lindgren/PGL

Os imperadores, entretanto, não conseguiram capitalizar sobre a mágica campanha na Dinamarca. O desgaste do agitado primeiro semestre pesou e a equipe brasileira perdeu ritmo, tanto a nível doméstico, onde perdeu dois classificatórios regionais para a paiN, quanto à nível internacional, sendo eliminada nas últimas colocações da ESL Pro League S19.

"Não sei o que aconteceu com a gente, se acabou o gás. Talvez não estávamos dando mais certo como equipe e aí foi só ladeira abaixo, mas não sei ao certo a resposta", disse ao ser perguntado sobre o turbulento período.

Depois de algumas semanas de instabilidade, a equipe reencontrou o caminho das vitórias ao garantir vaga tanto na Thunderpick World Championship 2024, quanto na ESL Pro League S20. O primeiro semestre, apesar disso, não terminou bem, com os imperadores amargando a lanterna da FiReLEAGUE Global Finals.

Imperial perdeu ritmo após grande campanha no Major de Copenhagen | Foto: Igor Bezborodov/ESL

O clube então optou por mudar, trocando HEN1 por Santino "try" Rigal em uma movimentação bastante controversa que foi muito criticada pela comunidade. A mudança não surtiu efeito imediato e a Imperial seguiu tendo dificuldades a nível doméstico.

Apesar disso, felps não acredita que a chegada do argentino teve tanto impacto na queda de rendimento da equipe: "Sendo bem sincero, não acho que foi isso que influenciou. Ambos são excelentes AWPers. O time caiu como um todo. Já estava meio ruim com o HEN1 no final do primeiro semestre. Tentamos melhorar e só piorou. Não acredito que a troca foi o grande motivo. Talvez tenha influenciado um pouquinho, mas foi geral, como um todo."

A ESL Pro League S20, no entanto, parecia ter recolocado a Imperial nos trilhos à medida em que a equipe passou por cima de BIG e MOUZ para alcançar os playoffs, onde apesar de um jogo duro, acabou eliminada pela Team Spirit na respeitável 9ª/12ª posição.

Apesar disso, na volta ao Brasil, a ficha voltou a cair, com os imperadores sendo eliminados ainda nas semifinais do CBCS Masters 2024, não conseguindo fazerem valer de um convite de última hora para a IEM Rio 2024 e falhando em carimbar o passaporte à ESL Pro League S21 via ESL Challenger League S48 - SA.

EPL S20 foi um lapso no segundo semestre apagado da Imperial | Foto: Viola Schuldner/ESL

Por mais que tenha alcançado as quartas de Thunderpick World Championship 2024, caindo diante da The MongolZ, uma das grandes sensações da reta final da temporada, a equipe aterrissou em solo chinês sob desconfiança para brigar por vaga no Major de Xangai.

Mesmo depois de bater a Case na estreia do RMR das Américas, a Imperial viu-se à beira da eliminação ao perder MD1s em sequência para MIBR e paiN. Foi preciso confirmar o favoritismo diante de KRÜ e RED Canids para manter o sonho vivo. A vitória da FURIA sobre a 9z, contudo, permitiu que os imperadores respirassem aliviados com a classificação ao torneio mais prestigiado do cenário mundial.

Mas, diferentemente do que se viu na edição de Copenhagen, a Imperial sequer teve chances no Opening Stage do Major de Xangai. Dominada pela paiN na estreia, a equipe de felps teve a chance de relegar os compatriotas da FURIA à "bacia das almas", mas titubeou e viu FalleN e companhia escapando com um amargo 13-11. No jogo pela vida, os imperadores não foram nada competitivos, caindo de joelhos diante da Complexity.

Ano da Imperial se findou de forma melancólica em Xangai | Foto: Divulgação/Perfect World

"Chegamos (em Xangai) em péssima fase, já não estávamos mais confiantes. Acabou que, quando classificamos para o Major, tiramos um peso gigantesco das costas e faltou energia para o resto do Major. Em Copenhagen estávamos bem, ganhando dos times, já chegamos ganhando da ENCE, então estávamos confiantes. Em Xangai, já chegamos mal", explicou.

Ao final de 2024, o melhor jogador no Brasil tem futuro indefinido naquele que - para a surpresa de muitos - considera "o pior momento da carreira": "O pior está sendo agora. Estou tendo que tomar muitas decisões difíceis que podem mudar o meu futuro. Acho que o pior momento (da minha carreira) está sendo agora, apesar de já ter passado por muitos (risos)", admitiu.

"Meus planos para 2025? Não sei ainda muito bem. Não tem nada feito. Vocês vão saber, ou não, nas próximas semanas. Sendo bem sincero, não tenho nada decidido ainda", finalizou.

O MELHOR JOGADOR NO BRASIL EM 2024

felps foi um verdadeiro fenômeno ao longo de 2024, figurando nas listas de melhores jogadores de 14 campeonatos disputados em solo brasileiro. Em boa parte destes, as boas exibições do experiente jogador culminaram com o sucesso coletivo da Imperial, fato crucial para que felps levasse o ouro.

Além de ter sido MVP dos classificatórios para o RMR das Américas do Major de Copenhagen e da ESL Pro League S19, felps ainda foi EVP em outras 12 ocasiões, sendo as mais notáveis nas seletivas para a BLAST Premier: Spring Showdown 2024 e Thunderpick World Championship 2024.

Arte/DRAFT5

Estatisticamente falando, felps teve 1.12 de rating (#8), 81.5 de ADR (#5), 1.24 de impacto (#4) e 0.74 de KPR (#5) números incríveis que colocam-no como o melhor jogador no Brasil ao longo de uma temporada brilhante.

O PRÊMIO

A lista dos melhores jogadores e jogadoras do ano da DRAFT5 acontece desde 2018 no masculino, com edições do feminino a partir de 2020. Ao longo de toda a temporada, a equipe elege os MVPs e EVPs de todos os torneios em território nacional, com cada um tendo um peso conforme a importância e equipes que disputam.

Ao fim do ano, o cálculo leva em conta quantas listagens cada player recebeu e numa fórmula exclusiva calcula o que chamamos de D5 Points. Contudo, não é apenas este item que define a lista, que também considera conquistas coletivas, estatísticas e mais.

Para entender como funciona o ranking e as estatísticas de cada jogador, acesse o link melhoresdoano.draft5.gg.