Muito além da
Team Liquid, a carreira de Michael "
Grim" Wince envolve uma longa e árdua caminhada até o mais alto escalão do Counter-Strike norte-americano. Das decepções nas incansáveis tentativas de alcançar a elite do continente, às restrições impostas ao prodígio pela pouca idade. O protagonista do mais novo episódio da série
G2000 é um exemplo de persistência - e habilidade - em um defasado cenário que já não enxerga com tão bons olhos o futuro de sua região. Confira outros episódios:
DESDE CEDO, OS OBSTÁCULOS
Os primeiros relatos de Grim atuando competitivamente datam do meio de 2017, quando atuando pela
Broken Alliance ao lado de Logan "
Voltage" Long, foi campeão da
ESEA Main S25, conseguindo o acesso à
Premier e alcançando a fase fechada de diversos classificatórios de sua região. Inevitavelmente, a line-up mudaria de casa para a disputa daquela que seria a primeira temporada de Grim na segunda divisão da América do Norte. Pela
SoaR Gaming, ainda com seus 16 anos, o jogador teria ao lado outro jovem prodígio, Ryan "
Snakes" Amann. Juntos, os dois garotos foram as peças mais cruciais na campanha que promoveu a equipe norte-americana à
ESL Pro League S7, divisão de elite do CS:GO do continente. Na surpreendente caminhada da composição rumo ao alto escalão de sua região, Grim emplacou 1.31 de rating 2.0, o mais alto dentre o quinteto. Mas o sonho de disputar a
EPL acabou provando-se um verdadeiro pesadelo para a composição. Antes mesmo do início da disputa, começariam os problemas envolvendo a organização.
Bons desempenhos juntos da SoaR não conseguiram ser repetidos por Grim em passagem pífia pela Dignitas | Foto: HLTV.org Sem mais o apoio da
SoaR, a equipe fecharia com a
Dignitas, mas perderia Snakes, um de seus mais importantes jogadores, por conta das restrições de idade. Na ausência do jogador, Grim não conseguiu suprir a baixa. Em vinte e dois mapas disputados, apenas dois triunfos na sétima temporada da
Pro League. Campanha vexatória que resultou no rebaixamento da equipe. "
Eu definitivamente penso que nossa queda livre começou com o Snakes não podendo jogar a EPL conosco por causa da restrição de idade", disse Grim em entrevista ao site especializado
HLTV.org. "
Ele era muito impactante. (...) Estava sempre ganhando clutches e pegando ao menos dois abates enquanto ancorando algum bombsite", analisa o norte-americano. Apesar de algumas aparições esporádicas em campeonatos de grande renome da América do Norte, a
Dignitas não conseguiria ser a mesma sem Snakes. Logo, a equipe seria dispensada e Grim acabaria sem um time para chamar de seu. A espera por uma nova organização, no entanto, não demoraria. Pouco mais de um mês depois, o norte-americano seria procurado pela
AZIO eSports, que fecharia com o time para a disputa da sexta temporada da divisão continental da
ECS. Mas, por conta da ausência de contratos da organização junto aos atletas, a
Spacestation Gaming acabaria por assinar oficialmente com Grim e companhia em uma polêmica "transferência".
Grim durante sua passagem pela Spacestation na NSG Eastern Conference Championship 2018 | Foto: HLTV.org A estadia de Grim junto à equipe duraria pouco mais de sete meses, sendo repleta de insucessos. À essa altura, seus números cairiam bruscamente e ele e seus companheiros seriam dispensados pela organização norte-americana. Mas nada de terra arrasada.
REUNIÃO DE AMIGOS
Se fecha uma porta, mas se abre uma janela. A saída da
Spacestation seria a chance de Grim se reunir com seus ex-companheiros de
Broken Alliance, que vinham atuando na
ESEA Advanced sob a tag de
The Quest. "
Fizemos a The Quest com o objetivo de trazer o Grim de volta e tentar construir algo novamente", explicou Matthew "
mCe" Elmore, então treinador do prodígio. Apesar da campanha na temporada de retorno à
MDL, a de número 31, a equipe conseguiu se classificar para a
ECS S8 graças às revigorantes atuações do jovem rifler. Na
MDL S32, Grim seguiu apresentando o que se espera de um prodígio como ele: sonoros 1.26 de rating 2.0 ao longo de 14 mapas na fase regular. Mas a conquista mais expressiva de Grim junto ao elenco seria a vaga na
DreamHack Open Atlanta 2019, conquistada após vitórias sobre as rivais
Riot Squad e
Complexity no classificatório fechado para o evento. Não por acaso, o mix finalmente encontraria uma nova casa: a
Triumph seria atraída pelas grandes atuações do quinteto. Logo no início de novembro de 2019, a equipe - liderada estatisticamente pelo prodígio de 18 anos - fecharia com a nova organização. A estreia não seria das melhores: derrota na rodada inaugural dos
playoffs da
ESEA Premier. No entanto, o time conseguiu se recuperar através da chave dos perdedores, chegando à terceira colocação e garantindo vaga na
ESEA Global Challenge.
Grim durante a disputa de sua primeira LAN internacional em quase dois anos | Foto: Alex Maxwell/DreamHack Sem dúvidas, a inexperiência em um nível de competição internacional pesou, e a equipe não conseguiu resultados expressivos em nenhum dos dois eventos, onde foi derrotada por equipes de grande potencial, tais como a dinamarquesa
Heroic, a alemã
Sprout e a finlandesa
HAVU. Apesar dos pesares, a esperança de retornar à elite do CS:GO norte-americano através da
Relegation que levava à
ESL Pro League era grande. Mas em uma manobra que viu a
ESL cortar o número de equipes da
EPL pela metade - de 48 para 24 - a
Triumph acabou perdendo a sua chance sem aviso prévio.
VAI E VOLTA
O desânimo causado pela polêmica decisão da organizadora do torneio, a falta de treinos adequados e a chance de se juntar à uma equipe mais experienciada na
Riot Squad fizeram com que Grim pulasse do barco. Devido à dispensa do elenco, o período longe da
Triumph acabaria por não durar muito. Apesar do fato de que boa parte dos amigos de Grim não se fazerem mais presentes na equipe, o jovem rifler, já com seus 19 anos no início de 2020, abraçou a causa, muito por causa de Alan "
Shakezullah" Hardeman. "
Eu tinha fé no Shakezullah como capitão, o respeitava muito como jogador e queria jogar com Voltage mais uma vez", afirmou.
A crença no trabalho de Shakezullah como capitão foi crucial para o retorno de Grim à Triumph | Foto: HLTV.org Não à toa, foi sob a liderança de Shakezullah que Grim ostentou implacáveis 1.32 de rating 2.0 ao longo da
ESEA Premier S33, onde foi a peça mais crucial na caminhada da
Triumph rumo à vaga nas finais norte-americanas do torneio. "
Com o tempo, ele pode se tornar o melhor rifler do mundo ao lado de EliGE", analisa o capitão. As mudanças na escalação norte-americana não impactaram negativamente no jogo da estrela. Pelo contrário, tais alterações, somadas à perda de peso de Grim, criaram um ambiente de pura confiança propício à ascensão meteórica do jogador de 19 anos. "
Eu realmente gostava de jogar naquela line-up porque era como uma família. Nós brincávamos constantemente uns com os outros e ficávamos no TS o dia inteiro, antes e até mesmo depois dos treinos. (...) A maioria dos times não tem isso. Ter um time de amigos resulta em performances melhores", afirma Grim. E foi nesse espírito de união que a equipe caminhou rumo à fase fechada da
cs_summit 6, torneio válido pelo
Regional Major Ranking e que contava com participações de
MIBR,
Cloud9,
Team One e
Envy. Definitivamente, uma boa oportunidade para atrair olhares.
Em meio às polêmicas envolvendo o lado brasileiro e as acusações de adversários trapaceando, a
Triumph do jovem rifler chegou à partida decisiva contra o
MIBR precisando vencer para se classificar. Em uma performance de outro mundo, Grim já havia derrubado 100 adversários ao final dos dois primeiros mapas da MD3. Só no primeiro, uma
Overpass que contou com 59 rodadas, Grim foi responsável por 64 abates. No segundo,
Dust2, foram mais 36. No terceiro e decisivo,
Mirage,
o norte-americano não seria capaz de evitar a derrota de sua equipe, apesar dos incansáveis esforços que lhe conferiram o K/D de 123/70. Confira abaixo a análise do treinador brasileiro Giovanni "
gio" Deniz acerca da partida do prodígio:
O CHAMADO DO DEVER
O recado foi dado: havia na
Triumph um prodígio pronto para o Counter-Strike do mais alto nível. Não demorou muito para que o chamado viesse. Pouco mais de um mês após a acachapante exibição,
a Team Liquid veria no tal prodígio o jogador ideal para substituir Nicholas "nitr0" Cannella. Após uma despedida em grande estilo junto à
Triumph,
onde auxiliou sua antiga casa a garantir vaga na divisão norte-americana da ESL Pro League S12, Grim se juntou oficialmente à cavalaria. E a adaptação do jogador foi assustadoramente rápida, mais do que qualquer um poderia imaginar. Em pouco tempo, o jovem atleta já mostrou ser peça-crucial em uma eventual remontada da
Liquid, que não faz grande 2020 até então. Por sinal, em seus dois primeiros compromissos, dois vices:
ESL One Cologne 2020 - NA e
DreamHack Open Summer 2020 - NA. Na primeira competição, 1.27 de rating 2.0 e alguns incríveis highlights. Na segunda, breve queda: 1.07. Números que, apesar de expressivos, ainda passam longe de refletir o potencial e a qualidade individual de um jogador que cavou seu espaço dentre os grandes em tão pouco tempo.
UMA MÁQUINA DE MATAR
Grim é uma verdadeira máquina de matar. Um fragger de alto impacto capaz de definir os rumos de rounds sozinho e que esbanja poder de fogo, podendo suprir as necessidades de qualquer equipe de ponta do cenário norte-americano. Sorte a da
Team Liquid. Um rifler de grande impacto, capaz de defender com muita solidez do lado contra-terrorista e de ser o segundo entry de um time do lado terrorista. Nas palavras de seu ex-capitão Shakezullah, "
ele nunca quer parar de jogar e deseja estar em constante evolução", o que justifica sua rápida crescente.
No entanto, nem tudo são flores. O próprio Grim admite que seu estilo mais solto, forjado nos PUGs América do Norte afora, pode acabar sendo difícil de adaptar nas futuras competições internacionais que a equipe disputará no retorno às LANs. Por sinal, tal fato deverá ser consumado em um futuro muito próximo. Ao final de novembro, a cavalaria rumará ao Velho Continente para a bootcamp e disputa de campeonatos. Os resultados recentes mostram que Grim, apesar da habilidade, talvez não seja o que a
Liquid realmente precisava, leia-se um espírito de verdadeira liderança. Mas quem duvida que ele será a salvação da equipe?