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G2000: brutt - Entre idas e vindas

Nascido em 16 de agosto de 2000, brutt é hoje um dos jovens com maior projeção no cenário local

por Guilherme 'Guiki' Cerdera / 29 de Out de 2019 - 21:49 / Capa: Arte/DRAFT5
Poucas pessoas podem se dar ao luxo de abandonar um jogo por algum tempo e depois voltar a jogar em um nível igual, ou ainda maior, do que quando tinham parado. O personagem deste artigo da série G2000 por esse momento, ficou mais de um ano afastado do Counter Strike para hoje impressionar os que acompanham sua trajetória no jogo.

Com uma habilidade inconfundível, e um jeito desenrolado de falar, Matheus "brutt" Queiroz, de apenas dezenove anos, é considerado um dos grandes talentos do CS nacional. Mesmo com uma história ainda curta no cenário, com pouco tempo entre os melhores, o jovem alcançou conquistas que o deixam orgulhoso e fazem ele sentir que "tornou-se um profissional".

Confira outros episódios da série G2000:

PRÉ COUNTER-STRIKE

O início de brutt faz referência ao de tantos outros nomes do counter-strike. O caçula que desde muito novo aprendeu a compartilhar o pc com os dois irmãos, o menino que tinha poucas horas para jogar, o início em jogos de baixa complexidade: "Desde os cinco anos eu jogo, comecei com o Soldat por causa do meu irmão. Mesmo sendo um jogo 2d, estava tudo ali, Deathmatch, captura de bandeira, enfim, era um jogo com objetivos", lembrou.

Soldat foi o primeiro jogo que brutt se lembra ter jogado | Foto: Reprodução


Por conta de sua infância ter sido passada na Vila Aliança, em Bangu, região com atuação de tráfico e confrontos, o jogador conta que sua mãe não o deixava ir muito longe de casa. "Tinha uma lanhouse umas quatro ruas da minha casa, a outra já ficava muito dentro da favela, e minha mãe não deixava eu ir por ter medo. A sorte é que morávamos numa espécie de condomínio e a lanhouse ficava nessa área", comentou. O jogador lembra ainda dos dias em que não podia sair: "Quando tinha algum problema, tiro, essas coisas, minha mãe não deixava eu sair de caso por uns três, quatro dias, com medo de ainda ter bala passando", pontuou.

À partir daí o jovem tomou gosto por todo tipo de games, jogando muita coisa até chegar ao primeiro fps. "Na época que eu tinha entre dez e onze anos comecei a ir para as lanhouses. Lá, o jogo da vez era o crossfire, que é muito popular no Rio de Janeiro, também joguei Combat Arms, e depois fui para o Infestation", contou.

PRIMEIRO PC E TRANSIÇÃO

Já em 2014, brutt continuava jogando Infestation, até que um curioso problema começou quando o jogador se interessou pelo CS:GO. "Eu tinha muito medo de jogar na noite do Infestation, era muito medroso. De seis às oito da noite na vida real, era dia dentro do jogo, e quando passava disso ficava de noite. Como eu tinha medo, já saía do pc assim que dava oito horas, que era exatamente o horário que meu irmão chegava em casa", lembrou. Com a mudança para o Counter-Strike, apenas um pc dado de presente pelo irmão pode trazer paz entre os horários: "Eu dormia de tarde, chegava em casa às cinco horas e queria jogar até as três da manhã, dividindo o pc com mais dois não teria como", observou.

E assim o jogador passou a dedicar horas e mais horas ao CS:GO, subindo nas ranqueadas e aprimorando seu jogo. Brutt também acompanhava o cenário profissional de perto, vendo notícias e vídeos sobre as melhores equipes do Brasil. Depois de quase um ano jogando, o jovem foi incentivado por um amigo de seu irmão a participar de um campeonato. O então amigo, que depois viraria companheiro de time, era Eduardo "duz" Macedo, que até pouco tempo atrás era coach da Team Reapers.

Na primeira competição que aconteceu em agosto de 2015, brutt não chegaria longe, terminando eliminado nas fases iniciais dos playoffs. Ainda sim, a participação no RNG Brazilian Open, teria o jogador saindo como um dos melhores participantes. "Era meu primeiro campeonato, e eu já estava jogando com alguns dos melhores do cenário, tipo destiny, iDk, Straka... sempre guardei na lembrança porque tive o maior número de clutches e de aces", lembrou Matheus.

Jovem terminou entre os melhores de torneio online | Foto: Reprodução


PAUSA E TILT

Mesmo com boas chances de seguir como um dos melhores jogadores do cenário, brutt decidiu parar de jogar por um tempo. O motivo eram as notas que iam muito mal: "Eu não encostei mais no cs depois desse torneio. Estava viciado, jogava quase dez horas por dia e não conseguia tirar notas para passar. Decidi parar de jogar cs e ir pro lol, porque lá eu apenas brincava um pouco, tipo três horas, e já ficava mais de boa para fazer outras coisas", revelou.

A virada do ano de 2015 não foi o suficiente para trazer o jogador de volta ao CS:GO, e ele passou os anos de 2016 e 2017 jogando apenas o moba da Riot. Foi apenas em dezembro de 2017 que brutt decidiu dar uma nova chance ao jogo. "Fiquei muito tempo no lol, e no final comecei a querer tryhardar para subir patente. Cheguei até platina três, mas senti que o jogo estava me tiltando demais e que eu não conseguia progredir, daí voltei ao CS", lembrou.

UMA VOLTA RELÂMPAGO

Logo que voltou a jogar, brutt foi direto para a Ranked Pro da Gamers Club. Em menos de uma semana o jogador atingiu o level 20 e, aconselhado por duz, decidiu pagar o benefício para ter maior contato com os melhores jogadores. "Foi muito rápido para pegar level 20 e jogar em alto nível, na primeira ranked pro fiquei em quarto, ai na segunda desci de nível e fui jogar a qualify porque estavam dando um fone. Terminei em primeiro e recebi o prêmio", revelou.

Rapidamente o jogador começou a chamar atenção de alguns jogadores, e fez amizade com o então streamer Daniel "dan-" Azevedo, que o apresentou para outros nomes do cenário. A proximidade rendeu uma indicação em 2018 para jogar na Supernova Academy, ao lado de nomes como o de Abraão "abr" Campagnac. O time jogou apenas uma liga e encerrou as operações, levando brutt a iniciar uma equipe ao lado de amigos dan- e Kevin "BALERO" Guedes. "Montamos o time sem pretensão de treino nem nada, era apenas para se divertir", disse.


Logo na primeira liga amadora a equipe chegou em terceiro lugar, mas, novamente, o time foi desmontado por conta do momento de cada jogador. Brutt havia terminado o ensino médio em 2017 e queria se dedicar aos estudos, escolhendo fazer um preparatório para provas do ENEM ou militar. O jogador variou durante meses sua participação no CS, jogando de maneira não profissional até o mês de agosto de 2018, quando um torneio em lan despertou seu interesse novamente.

O MOMENTO DO CS

Com a motivação renovada no CS:GO, brutt decidiu voltar a competir em alto nível. Jogando pugs na GC todos os dias, o jogador recebeu convite para jogar no Vitória eSports. A organização se desfez, mas a equipe continuou atuando junta sob o nome de TEAM HARDNEJA, com a Team Reapers por trás, mas ainda sem assinar.

Embora estivesse a cada dia mais inserido como um profissional de CS:GO, brutt ainda conciliava as aulas do cursinho com os treinos e jogos da equipe. "Chegou uma época que eu estava matando muita aula no curso, vários dias não ia, e isso começou a enlouquecer minha mãe(rs). Ela se preocupava muito comigo, mesmo nessa época não gostava que eu ficasse acordado até tarde, desligava meu pc da tomada, cortava a internet, e brigava muito", revelou.

Ainda atuando como HARDNEJA, a equipe cresceu no cenário e começou a alcançar resultados cada vez melhores, sendo o mais relevante a terceira colocação da ESEA Open Season 29 Brazil no qual brutt teve rating de 1.14. O time fechou o ano com o terceiro lugar na Liga Principal Gamers Club de novembro, ficando muito próximo de subir para o cenário mais elevado do Brasil na época.

VIRADA DE ANO E VIDA DE PROFISSIONAL

Time anunciado pela Team Reapers em 12/18 | Foto: Reprodução @Teamreapersbr


Em 2019 o jovem jogador consolidou sua carreira no CS:GO nacional, chegando ao status que ocupa hoje. O início do ano não foi dos melhores, mas a Team Reapers passou a crescer pouco a pouco, mudando sua equipe e se adaptando para um novo nível de jogo. A formação chegou ao título da Liga Principal de março deste ano, com brutt fazendo um kdr de 2.02 e adr de 110.75 na grande final.

Nessa mesma época o jovem enfrentou uma grande decisão em sua vida. Com a nota obtida no ENEM, brutt conseguiria ingressar em uma faculdade pública do Rio de Janeiro, mas a sua cabeça estava em outro lugar: "Quando passei para a faculdade cheguei para minha mãe e disse que não queria fazer. Ela ficou doida. Nessa época, mesmo já jogando em um time, a minha mãe não enxergava o CS como algo sério, não me via como um profissional, e eu também não me enxergava assim ainda", contou.

Na contramão da faculdade, brutt passou a dedicação máxima no jogo e desenvolvimento da Reapers. Nessa época, a principal perda sentida foi a ida de Bruno "b4rtiN" Câmara para a Team One, mas as chegadas de Gerson "netim" Neto, Maxcel "maxcel" Rocha e Lucas "Lucaozy" Neves, elevaram o time ao patamar de uma grandes equipes do Brasil. O time alcançou a terceira posição na Brasil Premier League Season 8, com brutt fazendo 1.25 de rating.

O mvp da liga Pro de junho | Reprodução @gamersclubcs


Mantendo-se firmes, a equipe conquistou o maior título da line, a Liga Dell Profissional Gamers Club de junho, título que garantiu o time na GC Masters III, com o jogador terminando eleito o mvp da competição. "Nesse momento em que viajei para a GC Masters e depois fui para a Up Expo, comecei a me sentir um profissional, realmente alguém que vive do jogo. A partir disso minha mãe começou a confiar mais em mim", revelou.

Esse foi o momento de melhores resultados para Matheus, que conseguiu ainda o título da Up Expo Game, com um rating de 1.16, além de um segundo lugar na ESEA Open 31, com rating de 1.33. O jogador destacou as classificatórias para o Minor das Américas como seu melhor torneio, no qual alcançou um rating de 1.21.

AUGE, QUEDA E RECOMEÇO

Foto: Lucas Spricigo/Draft5 brutt em atuação na GC Masters III | Foto: Lucas Spricigo/Draft5


Com os bons resultados conquistados até o meio do ano, uma grande expectativa foi depositada sobre a Team Reapers para o CBCS Season 1. Os ceifeiros eram tidos como os grandes favoritos ao título da competição, mas acabaram patinando nas primeiras rodadas e terminaram em uma frustrante quarta colocação. A equipe não conseguiu passar da campeã Imperial e-Sports e terminou o torneio abaixo do esperado. O awp do time, entretanto, foi dono do maior K/D e do maior ADR do torneio, sendo estes de 1.66 e 93.2, respectivamente.

Após o fim do campeonato a Team Reapers decidiu encerrar a line que vinha mantendo, decidindo ficar apenas com brutt. O jogador sentiu que a falta de treino no início do campeonato pesou: "A mudança para São Paulo acabou quebrando a sinergia do time, ficamos julho inteiro quase sem treinar. Ainda assim acho que o time precisava mudar mesmo, da maneira que estava não tinha como. Nessa nova equipe o objetivo é ficar melhor, não temos pretensão de vencer o campeonato já de uma hora pra outra, vai ser um trabalho a longo prazo.", afirmou.

ESTILO DE JOGO

O jovem jogador é um awp híbrido, com características que permitem que ele fique sem a arma em diversos rounds. Sua versatilidade vai além, com brutt afirmando que não possui nenhuma preferência de posição ou função a ser exercida nos mapas. O jogador nega ainda a condição de agressividade in-game, revelando mudar o estilo a cada adversário que enfrenta. A mira do jogador também chama atenção, com precisão incrível mesmo sem a awp.

O estilo de jogo da Reapers colocava brutt em um posicionamento mais recuado, fazendo suporte para seu time e a cobertura um pouco mais de trás. "Como nós tínhamos o lucao e o netim rushando, até o sir acompanhando, alguém tinha que ficar pra trás", contou. O jovem também diz se sentir confortável em usar a awp do lado TR, mas identifica que, "não é todo mapa que vale usar a awp de tr, uma inferno por exemplo acho que é muito situacional", disse. Os mapas de preferências do awp ficam por conta da Overpass e Dust 2, nos quais ele se diz satisfeito em jogar em qualquer bomb, com uma grande confiança de seu potencial.


A mentalidade de Matheus também evoluiu, e ele mesmo sabe que ainda existem momentos que a idade pesa. "O frag nunca pesou no meu psicológico durante o jogo, mas em uma partida decisiva isso pesa, eu ainda sou muito novo. Esse ano aprendi que não importa o quão mal eu comece no mapa eu vou virar de lado e me recuperar, e depois que passei dessa parte sinto que evoluí muito", revelou.

O jogador contou ainda que prefere comprar desert eagle em detrimento de uma scout sem colete, mas que nem sempre foi assim. "Eu fiquei bom de desert depois de tanto que o duz disse que eu era ruim. Realmente eu não treinava dm de desert, e meus tiros não entravam. Precisei treinar muito no dm para me adaptar", contou.

Mesmo sendo um jogador com grande potencial para se tornar um nome ainda maior no cenário, brutt também apresenta maturidade para falar sobre sua carreira: "Eu penso que não posso pular etapas. Ir lá para fora é um sonho, viajar o mundo fazendo o que eu amo. Só que nesse momento sinto que talvez eu posso chegar lá e não jogar no mesmo nível que jogo aqui. Ainda estou longe do topo, tenho muito para aprender, porque a pior coisa seria ir para fora, jogar mal e ter de voltar. Nesse ano estou me estruturando para quando chegar a hora eu ter uma base e não cair.", finalizou. Com essa mentalidade é fácil imaginar que brutt continuará nos holofotes do CS nacional e construirá uma carreira sólida.
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