Por onde anda: Carlos "viol" de Paula

Hoje VP de engenharia da Gamers Club, viol foi um dos muitos que vestiu a camisa do MIBR no passado e foi um dos responsáveis pela descentralização do eixo Rio-São Paulo no Counter-Strike

por Gabriel Melo / 29 de Jul de 2020 - 21:41 / Capa: Arte por DRAFT5
Diferente dos tempos atuais, antigamente era possível presenciarmos nos torneios nacionais de Counter-Strike épicas batalhas proporcionadas por equipes de diferentes estados. Times estes que davam tudo de si para colocar a região natal no topo do competitivo brasileiro. Minas Gerais chegou nesse patamar e muito disso se deve ao personagem deste Por onde Anda: Carlos “viol” de Paula.

Trata-se de uma figura que parte da atual comunidade deve conhecer por conta do trabalho que ele executa na Gamers Club como VP de Engenharia da plataforma. Mas a história construída por viol na modalidade vai muito além disso já que ele, simplesmente, é um ex-MIBR e um dos poucos que conseguiu alcançar a glória em duas versões diferentes do CS: no saudoso 1.6 e no Source, o precursor do Global Offensive.

À DRAFT5, Viol conta que começou a trabalhar na Gamers Club há mais ou menos oito meses após traçar como meta pessoal voltar a fazer parte do mundo dos esportes eletrônicos.

No começo de 2019 eu coloquei na cabeça que queria voltar a me envolver com os esports, sendo jogador, treinador ou trabalhando com desenvolvimento. Como eu já tinha uma carreira em tecnologia e também já conhecia o Fly e o Wert, optei por vir para a GC e acabou dando certo”, afirma.

Comandando o time de engenharia da Gamers Club, viol trabalha no desenvolvimento da plataforma e infraestrutura e o que o mais lhe deixa feliz na atual função é a possibilidade de desenvolver pensando na comunidade: “É muito legal. Temos um time de produto que faz muita pesquisa com a galera para desenvolvermos e estarmos muito próximos da comunidade. É uma das partes mais legais da GC, de estar bastante preocupada com a comunidade”.

Viol conta que sempre gostou bastante de “coisas relacionadas a computador” e que esse amor, de certa forma, “tem um pouco de relação com o CS. Na época, o Tu:Ps, um cara que jogava comigo na época do KaOz me chamou para trabalhar com programação e aí eu acabei entrando para essa área. Eu desenvolvia alguns sites com templates grátis só para brincar e no final de 2007 comecei de forma mais profissional”.

Quando questionado do porque não resolveu voltar ao Counter-Strike como jogador ou treinador, viol lembra que em 2017 chegou a “brincar” pelo extinto Team Wild, quando percebeu que ia precisar de muita dedicação.

Voltar ao competitivo ia ser mais duro. A jogabilidade do CS:GO é muito diferente do 1.6 e eu teria que aprender muita coisa conciliando com o trabalho. Ia ficar complicado, daí preferi ficar com a carreira de tecnologia e não voltar forte, jogando”, explica.

Viol representando o Brasil na DreamHack Lima | Foto: Arquivo pessoal


OS PRIMEIROS PASSOS NO CS

Viol é um dos ex-jogadores que começaram a carreira ainda no outro milênio e jogando Quake. Já os primeiros passos no Counter-Strike meio que foram dados por acaso. Ou melhor, por conta de um bolo que tomou de um amigo: “Eu tinha marcado com um amigo de ir na lan para jogar Quake e ele não foi. Aí todo mundo estava jogando CS e eu perguntei para o cara que tava do meu lado que jogo que era e como fazia para jogar. Eu nem sabia quem era, mas ele me explicou um pouco do CS e eu comecei a jogar”.

Em 2001 eu fui para a lan house achando que a galera tava jogando Quake, mas todo mundo só jogava CS. Na época eu até achei o jogo mega lento em relação ao Quake, mas como todo mundo estava jogando eu precisei jogar”, recorda.

Já a definitiva entrada no competitivo aconteceu três anos depois, quando, com um time que se chamava Junkies, viol conseguiu se classificar para a final nacional de uma edição da Liga Monkey que foi realizada dentro do parque Hopi Hari, em Campinas

A gente disputou a seletiva e fomos disputar o nacional. Foi aí que começou o competitivo. Esse campeonato foi o qual eu mais me identifiquei a ponto de considerar como o início da minha carreira”, afirma.

E esse torneio realmente foi importante para a carreira de viol já que, segundo o próprio, antes dessa Liga Monkey “nunca tinha saído de Belo Horizonte para jogar um torneio”.

PLANTANDO O KAOZ PELO BRASIL

KaOz foi a primeira grande equipe que viol defendeu no Counter-Strike. Trata-se da tag responsável por colocar Minas Gerais sob o holofote do cenário nacional. 

Era o melhor time de Minas e já tinha marcado boa presença em alguns eventos nacionais”, relembra viol. “Eu entrei em 2005 e foi o melhor ano, o ano que mais ficou marcado na minha carreira a ponto de eu considerá-lo como a virada de chave”, completa.

E em um dos primeiros campeonatos vestindo a camisa do KaOz, viol mostrou para todo o Brasil a que veio. Na estreia da Brazil Cup de 2006, o ex-jogador e os companheiros venceram nada mais nada menos que a formação do MIBR que poucos meses depois se consagraria como campeã mundial na Electronic Sports World Cup (ESWC).

Saímos de Belo Horizonte sabendo que íamos pegar o MIBR no primeiro jogo. Conversando, falamos na época ‘beleza, vamos estrear enfrentando o time que foi montado para ser a seleção do país, mas vamo lá né?’. E nessa partida eu fiz a melhor apresentação da minha carreira”, conta.

Viol lembra que em determinado momento da partida, quando foi olhar o placar, ele já havia matado 21 vezes os adversários e morrido apenas uma: “Terminei o jogo derrubando mais de 30 bonecos. Foi um jogaço. Vencemos por 19 a 15”.

O jogador revela que, depois desse memorável jogo, eles foram para fora da lan-house onde acontecia o evento e além de todo mundo estar olhando pra eles incrédulos, alguém o disse que no antigo mIRC criaram até um canal para homenageá-lo, chamado “#viol-the-king”, com bastante gente no canal. “A galera já me conhecia de jogar na internet. Alguns até me chamavam de pronet e essa partida foi a virada de chave”, afirma.

Viol na época de Source defendendo o TeamTD | Foto: Arquivo pessoal


IMBATÍVEL NO SOURCE

Pouco mais de um ano após a histórica vitória sobre o MIBR.sp e defender outra importante equipe brasileira, playArt, viol surpreendeu todos ao aceitar o desafio de defender a vsONE em outra versão do CS: o Source.

Ivan "ruffo" Ruffo e o co-fundador da GC Felipe “wert” Pregnolatto foram os responsáveis por tirarem viol do 1.6. E isso aconteceu por conta do projeto apresentado pelo vsONE, que era montar a equipe mais forte já vista no CS:S. 

Eles queriam que eu aprendesse a jogar Source. Eu nunca havia jogado e falei que estavam malucos. O que me levou (a trocar de modalidade) foi o projeto. Tínhamos uma rotina bem fixa de treinos e eles eram bem pesados. O plano era se tornar um time global, porém acabou não vingando porque o cenário do Source não cresceu muito”, relembra.

Mas de acordo com viol essa formação do vsONE “ficou conhecida por nunca ter perdido um campeonato presencial dos quais disputou"

EU ESCOLHO O MIBR

E foi graças ao Source que viol realizou outro sonho na carreira: o de vestir a camisa do MIBR.

Após uma breve pausa no Counter-Strike, viol voltou a competir em 2010 no Source defendendo outra importante equipe da versão: o Team TargeTDown: “Eles me chamaram para jogar em um super projeto e eu voltei na pegada”.

Só que eu recebi também o convite do MIBR e eu cheguei a conciliar os dois times. Nessa época eu ainda trabalhava e estudava. Mas o pessoal do TeamTD pediu para eu escolher entre um time e o outro. Eu ponderei e escolhi o MIBR”, conta.

Ao explicar o motivo que levou a escolher o MIBR ao invés da equipe de Source, viol é categórico: “MIBR é MIBR, né. Desde que comecei a entender sobre competitivo, o MIBR era o melhor time. Tinha vídeos e vídeos do MIBR e era o time mais forte. Foi uma realização”.

Por mais que, de certa forma, tenha preterido o TeamTD, viol diz que é grato por tudo o que o time fez por ele. “Foram coisas de poucos meses porque eu tinha parado de jogar em 2009 e um ano depois me chamaram. O TeamTD era o melhor time do Source e eu estava entre os melhores da versão. Mas de fato foi uma passagem pequena já que eles não queriam uma pessoa dividida e eu optei pelo MIBR”, afirma.

Viol completa que o TeamTD o fez voltar a jogar e entrar no MIBR: “O convite foi feito porque, pelo menos, eu estava jogando Source”.

O ex-jogador fez parte do MIBR na época que a equipe não tinha mais o volumoso patrocínio do fundador da tag Paulo Velloso. De acordo com viol, nesse período o então responsável pelo playArt Bruno “peace” Ramos acabou “entrando mais forte” no Made in Brazil.

Ele assumiu algumas coisas e o patrocínio não era mais o mesmo. Antigamente o MIBR fazia bootcamp na Suécia e a galera recebia salário. Na nossa época a gente tinha um grande apoio em viagens, mas não recebíamos salários. Não tínhamos o que o MIBR teve no passado. Quem deu maior suporte foi o peace com os patrocínios que ele conseguiu na época de playArt”, recorda.

O primeiro compromisso de viol com a camisa do MIBR aconteceu três semanas após o retorno ao 1.6, conforme conta. Foi na WCG Pan-American Championship 2010 e viol se lembra muito bem porque na época “estava sendo muito criticado porque a galera não me conhecia da época de KaOz. O pessoal estava me criticando e falando ‘ele veio do Source’. Chegou essa WCG e fiz um grande campeonato”.

Vestindo a camisa do MIBR, viol conquistou importantes torneios da época e disputar uma competição internacional. Esta última graças ao título da edição latino-americana da DreamHack, disputada em Lima, no Peru, em 2010. A vitória garantiu a equipe na edição de inverno do prestigiado evento, sediada na Suécia.

(Disputar a DreamHack) Foi a realização de um sonho porque era uma meta pessoal disputar um campeonato internacional e acabei conseguindo vestindo a camisa do MIBR”, revela.

Viol e MIBR na disputa da DreamHack Winter 2010 | Foto: Arquivo pessoal


ME SINTO REALIZADO

Viol “pendurou o mouse” de forma definitiva um pouco depois da DreamHack Winter 2010 e de ter deixado o MIBR. 

A principal causa (da minha aposentadoria) foi a realização do meu sonho de disputar um campeonato internacional. Era a minha meta. Fora também a necessidade de conciliar trabalho, estudo e jogo. Foi um combo disso com o fato do CS 1.6 estar morrendo naquela época. Só tinham dois campeonatos por ano acontecendo, enquanto nos tempos áureos a gente tinha uns oito a nível nacional”, afirma.

Quando questionado se considera-se privilegiado pela história que construiu no Counter-Strike, viol responde que se orgulha bastante de tudo o que fez: “Não sei se privilegiado porque envolve muita dedicação. Talvez sim, mas com muita dedicação para chegar onde cheguei na minha carreira.

Um dos fatos de que se orgulha é o de ter sido um dos responsáveis por descentralizar o Counter-Strike do eixo Rio-São Paulo atuando por KaOz e também playArt.

O KaOz e o playArt foram alguns dos responsáveis por quebrar a polarização que existia. Também existiam equipes de outras regiões como inSanity e Team One do Centro Oeste, GoldenGlory e Adrena do sul e geralmente eram os mesmos times que ganhavam as seletivas regionais e iam disputar os nacionais”, aponta.

Quanto a arrependimentos, viol cita o fato de não ter acreditado que o Counter-Strike: Global Offensive “ia ter a grandeza de hoje. Na época vi o FalleN com o projeto da Games Academy e com certeza ele é um dos responsáveis pelo CS ser o que é nos dias de hoje”.

Viol explica que não acreditou o CS:GO pelos insucesso que presenciou com outras antigas versões do jogo como Condition Zero e o próprio Source: “Achei que ia demorar mais pra vir uma versão que ganhasse atenção tanto do público do CS 1.6 quanto do Source, mas o GO veio com uma evolução absurda e superou todas as expectativas”.

Apesar de tal arrependimento, o VP de Engenharia da Gamers Club se considera “um cara bem feliz com a profissão que tenho. Estou bem satisfeito onde estou hoje, trabalhando forte para desenvolver a comunidade gamer na Gamers Club, que já é a plataforma líder na América Latina, e jogar CSGO hoje em dia só brincando mesmo”.
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