Por onde anda: Raphael "cogu" Camargo

Conheça um pouco da história de uma das lendas do Counter-Strike brasileiro

por Gabriel Melo / 14 de Mai de 2020 - 17:28 / Capa: Arte/DRAFT5
Três podem ser as formas com as quais um jogador consegue se tornar imortal no Counter-Strike: com o próprio nome batizando uma posição, sendo lembrado por gerações como especialista em uma arma ou então como a estrela de uma equipe. E o personagem que terá parte da gloriosa trajetória contada neste Por Onde Anda entrou para a história do FPS das três maneiras. Estamos falando de Raphael "cogu" Camargo.

Se no passado foi a grande referência do Made in Brazil, o mibr, atualmente cogu é um dos principais influenciadores da Falkol. À DRAFT5, o ex-jogador conta que se tornou streamer porque "é uma coisa que eu gosto muito e me sinto bem fazendo". Mas ele considera a stream que faz diferente das demais: "Eu jogo CS há pouco mais de 20 anos. Eu acho que tenho bagagem pra ajudar muito time, ajudar muita gente, e é o que eu tenho feito. Faço análise de demo quase todos os dias, e nessa análise eu melhoro o meu jogo e melhoro o jogo da galera que tá assistindo junto comigo. Esse é o meu foco, sempre ajudar o proximo".

Questionado se isso significa que não há mais possibilidade da comunidade o assistir competindo, cogu responde que não é impossível, "mas é muito difícil". Isso porque, conforme conta, "tenho outras prioridades hoje em dia e uma delas, que é a mais essencial, é a minha família. Minha mulher está grávida de 8 meses, a gente tem a Manuzinha que é a filha dela, um cachorro. Então minhas prioridades hoje em dia são outras comparadas com as de um menino de 16, 17 anos que está começando a vida agora. É totalmente diferente".

Cogu diz não pensar muito no futuro. O objetivo que tem, hoje, é "continuar fazendo barulho, ser um ótimo streamer, trazer gente pra perto, incentivar, melhorar. Eu acho que eu sou uma pessoa bem dedicada e se a gente continuar fazendo esse trabalho que temos feito dá pra ajudar bastante gente sim".

cogu com a camisa da Falkol | Foto: Arquivo pessoal / cogu


A BENDITA UNHA

O ex-mibr assim como outros nomes da velha guarda começaram a jogar Counter-Strike ainda criança. No caso de cogu, foi por volta dos 14 anos e de forma bastante inusitada: uma unha encravada que o fez ficar de molho do futebol.

"Na época eu jogava futebol de campo. Se não me engano no Corinthians e eu tive uma unha encravada que tive que operar para tirar ela por completo. Foi quando eu não pude jogar bola por uns 2, 3 meses enquanto ela crescia novamente. Aí teve um menino do prédio onde eu morava que me chamou para ir em uma lan house que tinha ali perto. Comecei a jogar CS e não parei mais. Dali foi até os dias de hoje"relembra.

Foi também por um intermédio de um vizinho, o Rodrigo, que cogu começou a competir no FPS. Ele conta que a lan perto de casa "estava atrasada perto da versão do CS que era jogada naquele momento. Na época lá era só Beta 5.2, enquanto o CS já estava indo pra versão 1.0. E tinha um menino do meu prédio, o Rodrigo, que estudava com um jogador que o nick era Bombado. Ele era o capitão de um time que chamava XM. Foi quando eu fui pela primeira vez na Monkey da Vila Mariana e estava tendo um campeonato lá".

Nesse campeonato em questão, cogu revela que conheceu outro grande ícone do CS nacional: Alexandre "Gaules" Borba, "que já estava jogando pelo g3x na época e foi aí que eu tive o contato com os campeonatos grandes de CS. Daí eu comecei no XM, que era eu, Bombado, Serial_Killer, Djpes e AKstorm".

G3X: O PRIMEIRO GRANDE TIME

Por mais que seja lembrado pela época que vestiu a camisa do mibr, cogu fez parte de outra lendária tag do cenário nacional: g3nerationX (g3x). Passagem a qual se lembra com carinho. "Foi bastante vitoriosa também. A gente chegou a jogar uma CPL nos EUA, a de Dallas. Nós não ganhamos. Não chegamos tão perto, mas os times contra os quais jogamos lembro que eu destruí. Foi ali que eu lembro que eu comecei a ficar conhecido internacionalmente. Eu lembro que o SpawN ficava atrás de mim assistindo e ficava falando que um dia eu ia ser muito bom", relembra.

"O g3x foi meu primeiro time praticamente. Então tenho um carinho especial. E lá com eles foi onde eu tive aquela sede de aprender, a vontade de ganhar e o sonho de me tornar o melhor", afirma cogu.

cogu comemorando o título da ESWC 2006 | Foto: Divulgação / ESWC


A ERA MIBR

O bom desempenho mostrado na época de g3x foi primordial para cogu ser convidado a fazer parte do mibr. O jogador revela o motivo que o levou aceitar o covite: "a oportunidade que eu teria pra crescer o meu jogo, tanto individual quanto em equipe. O mibr era o maior rival do g3x, mas eles já treinavam fora do país. Eles contavam com o Paulo Veloso, o pai do Pred e ele acabava patrocinando muito pesado o time de uma forma que conseguiam treinar contra os melhores times. Eu fui morar no RJ quando eles me chamaram. Então o que o mibr proporcionou foi isso, foi todo o suporte pra eu conseguir ser o jogador que eu sou hoje".  

Sem sombras de dúvidas o título da ESWC 2006 foi o ponto mais alto da trajetória de cogu no mibr. Mas isso não quer dizer que é a única boa lembrança do ex-jogador junto ao time. Ao lembrar daquela época, cita a conquista da shgOpen 2007 e o vice da GameGune disputada no mesmo ano.

"Eu tenho várias boas lembranças né. Em termos de campeonato, teve uma série nos EUA em que se encontrava os melhores times do mundo e eu lembro que um deles a gente ganhou, outro ficamos em segundo; se não me engano foi a Intel Extreme Masters em 2008. Teve uma shgOpen que ganhamos do Pentagram; a GameGune que ficamos em segundo contra a fnatic em 2007 e nesse mesmo torneio, que nesse mesmo camp batemos 16-2 contra Pentagram. Teve um campeonato em Cancun, nesse não contavam com os melhores times mas com certeza uma das melhores viagens que eu já fiz. Foram vários campeonatos e eu tenho muitas memórias boas dessa época", conta.

VOLTA AO FUTEBOL E PRIMEIRA PARADA

Logo após alcançar o topo do mundo do Counter-Strike, com o título da ESWC, cogu surpreendeu toda a comunidade ao anunciar que estava largando a modalidade para voltar ao futebol. Decisão a qual garante que não se arrepende, mesmo após mais de 10 anos. "Não me arrependo porque foi uma experiência de vida muito boa pra mim. Em termos de CS com certeza eu perdi um pouco porque fiquei uns 4 meses sem jogar, mas acabei conhecendo o meu tio (irmão do meu pai), que é uma baita homem, fez eu crescer muito como pessoa", afirma.

De acordo com cogu, diferente do que muitos pensavam na época, a curta volta ao futebol não foi pensada pós-título mas antes do torneio disputado na França: "eu já tinha tomado a decisão antes de ir pra França. Tanto é que quando a gente ganhou o campeonato, o Paulo Veloso me ligou para parabenizar e eu tava todo feliz e tal, mas eu falei 'Paulo, aconteceu uma coisa e assim que eu voltar pro Brasil eu vou pro Catar jogar bola'. Ele com aquele jeito carioca, perguntou o que eu tava indo fazer lá no Catar. Mas já estava tudo certo, era um sonho antigo, um sonho de criança que eu tinha, e que eu tive que tentar. Eu tinha que saber se eu era capaz, dar o meu máximo e ver se eu conseguia essa carreira".

Mas o futebol, para a felicidade daqueles que torciam para o jogador e para o mibr, não foi capaz de fazer com que cogu pendurasse os periféricos. Isso só aconteceu em 2009, quando o jogador percebeu que o CS estava perdendo força no esport.

"Quando eu comecei a fazer faculdade em 2009, praticamente não tinha mais CS tanto aqui no Brasil quanto fora também. Pra ter uma ideia, um campeonato dos portes de ESWC e WCG estava pagando 15 mil dólares pro primeiro lugar. Isso não pagava nem a viagem que a gente faria daqui pra lá, ainda mais hotel, alimentação e transporte. Então, nenhum patrocinador queria pagar porque não era sustentável. Foi aí que eu tive um choque pela primeira vez e pensei 'puts, o CS vai acabar e o que eu vou fazer da minha vida?'. E nessa época eu comecei a sofrer um pouco de pressão da família, que foi quando eu decidi fazer a faculdade de Direito", afirma.

cogu completando para Immortals na ELEAGUE em 2017 | Foto: ELEAGUE


RETORNANDO NO GLOBAL OFFENSIVE

Cogu, assim como muitos outros veteranos da era 1.6, voltou a competir no Counter-Strike com a versão Global Offensive. Nesta, contudo, o ex-jogador não teve o destaque de outrora, por mais que também tenha defendido times conhecidos do cenário como ProGaming.TD, paiN Gaming, INTZ e competindo fora do país pela Gorilla Core.

À DRAFT5, cogu conta que quem o incentivou a voltar a jogar foi Renato "nak" Nakano: "Quando eu ainda estava fazendo faculdade, o Nak me ligou falando 'cogu, você tem que voltar pro cenário. O CS cresceu de novo. O CS tá animal, tá grande e tem bastante campeonato'. Eu lembro até hoje. Eu estava cortando o cabelo, saí de lá e fui pra casa pesquisar e, realmente, o cenário tava grande e eu pensei 'puts, eu vou tentar voltar a jogar esse jogo que eu amo tanto'.

Ao fazer um balanço sobre a passagem no CS:GO, cogu acredita que "faltou muita coisa" para ter conseguido o mesmo sucesso do que na versão anterior."Acredito que faltou estar no time certo com pessoas com o mesmo foco e treinar da maneira correta. Faltou treinar contra os melhores times", aponta.

"Não considero minha passagem no CS:GO vitoriosa. De longe não foi vitoriosa se eu comparar com o 1.6. Mas é o jogo que eu amo, o jogo que eu gosto de jogar", completa.

AMOR PELA AWP

"Amor à primeira vista". É desta forma que cogu classifica a relação que possui com a AWP. "Não tive nada que me levou a ser um ótimo awper ou qual o motivo. Eu não me recordo o porquê. Mas eu também não me recordo de ser um assault AK/Colt. Eu sempre fui AWP desde o início. Acho que foi amor à primeira vista, devo ter pego ela e com ela fiquei até hoje", completa.

Foi desfilando com a verdinha que cogu não foi só considerado como um dos melhores awpers do mundo, mas de forma geral um dos melhores jogadores daquela época: "Fui considerado o melhor jogador da América daquela década, um dos melhores jogadores do mundo e o segundo melhor AWP do mundo. Acho que essas conquistas são poucas pessoas que conseguem alcançar. Mas é isso, treinar, continuar treinando, continuar melhorando sempre. Ser um streamer melhor, ser um pai melhor, um namorado melhor. E é isso, muito obrigado!

O ex-jogador relembra ainda a disputa que teve com Dennis "walle" Wallenberg, que ficou a frente do brasileiro na "eleição" promovida pela HLTV.org de melhor awper do mundo. "Ficou uma briga entre eu e o Walle. Ele era muito bom, mas sinceramente? Eu fui muito melhor do que ele", opina.

"Eu tenho muito orgulho de tudo o que eu já conquistei, de tudo o que eu já vivi, do que eu represento e eu acho que eu me imortalizei no CS sim", finaliza.
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