Da melancolia às glórias, o 2025 da FURIA começou em marcha lenta, mas decolou após uma aposta ousada na internacionalização e em jogadores que elevaram o nível do clube brasileiro a um patamar nunca antes vistos. Relembre, em detalhes, como foi o ano furioso.
Embora tenha terminado 2024 com uma boa campanha no Major de Xangai, a FURIA pouco teve a celebrar nos primeiros meses do ano, sendo eliminada precocemente tanto da BLAST Bounty Spring 2025, quanto da IEM Katowice 2025.
Primeiros meses do ano foram verdadeiramente melancólicos para a FURIA | Foto: Stephanie Lindgren/BLAST PremierNa ESL Pro League S21, por mais que tenha sobrevivido com dificuldade à primeira fase, sequer conseguiu chegar perto dos playoffs. Na BLAST Open Lisbon 2025, um verdadeiro vexame: depois de ser derrotada pela sempre perigosa Natus Vincere na estreia, sucumbiu à modesta M80 de forma verdadeiramente traumática para ser eliminada dentre as lanternas do torneio.
Uma fraquíssima campanha na PGL Bucharest 2025, onde a equipe venceu apenas um dos quatro jogos que disputou, acabou sendo o estopim para mudanças mais do que profundas no plantel furioso.
Marcelo "chelo" Cespedes e Felipe "skullz" Medeiros acabaram sendo preteridos em prol da internacionalização do time, que surpreendeu o mundo ao buscar no até então desconhecido Danil "molodoy" Golubenko o pilar para uma nova era na FURIA.
Para ajudar a acomodar o cazaque, o experiente Mareks "YEKINDAR" Gaļinskis também foi contratado até o fim do Major de Austin, chegando ao clube brasileiro com a missão de recuperar a boa forma que o fez ser um dos melhores entry fraggers do planeta no passado.
Por mais drásticas que tenham sido, as trocas surtiram um efeito quase que imediato na PGL Astana 2025, onde a equipe liderada pelo agora rifler Gabriel "FalleN" Toledo deixou para trás GamerLegion, MIBR e ODDIK para alcançar as quartas de final, onde voltou a vencer o MIBR para progredir às semifinais.
FURIA deixou boa impressão no primeiro compromisso com molodoy e YEKINDAR | Foto: Sebastian Pandelache/PGLEmbora tenha esbarrado na gigante Team Spirit - não sem uma boa luta -, a primeira impressão foi bastante positiva. Menos de 24 horas depois, a FURIA já havia cruzado mais de 10 mil quilômetros rumo aos Estados Unidos para disputar a IEM Dallas 2025.
Se já não seria fácil passar pela The MongolZ em circunstâncias convencionais, a longa viagem não facilitou as coisas para os furiosos, que caíram diante da equipe asiática e, apesar da vitória sobre a Lynn Vision, sucumbiu à GamerLegion e acabou eliminada na 9ª/12ª posição no último compromisso antes do Major de Austin.
No principal campeonato da modalidade, a FURIA mais do que uma grande campanha, passaria um recado ao marchar com tranquilidade pelo Stage 2, onde desbancou Lynn Vision, M80 e B8 para avançar com saldo de 3V-1D, sendo o único revés diante da paiN.
No Stage 3, uma impecável campanha com vitórias sobre The MongolZ, Aurora e Virtus.pro colocaria FalleN e companhia nos playoffs com 3V-0D, marcando o retorno dos brasileiros à etapa decisiva do maior espetáculo do cenário mundial pela primeira vez desde o IEM Rio Major 2022.
FURIA acabou não sendo párea para a paiN em Austin | Foto: Michal Konkol/BLAST.tvQuis o destino que, logo no jogo que marcava o retorno do país aos playoffs, FURIA e paiN precisassem medir forças por vaga nas semifinais. Apesar do favoritismo furioso, como diria o filósofo Mário Jardel, "clássico é clássico, e vice-versa."
Embora estivesse na liderança da Inferno, terceiro e decisivo mapa do embate, por 7-1, a equipe liderada por FalleN dormiu no ponto e viu Rodrigo "biguzera" Bittencourt e companhia cavando uma épica virada, consumada na prorrogação por 12-16 no jogo que pôs fim à campanha furiosa em Austin, bem como ao semestre de seus rivais.
É bem verdade que o segundo semestre do ano não começou da melhor forma possível, vide a eliminação ainda na fase de grupos da FISSURE Playground #1 após um par de derrotas diante da SAW, mas talvez nem mesmo o mais otimista torcedor brasileiro pudesse esperar o que o futuro reservava à FURIA.
Foi preciso dar uma resposta imediata já na IEM Cologne 2025, onde Gabriel "FalleN" Toledo e companhia deixaram para trás FlyQuest, Astralis, Falcons - esta despachada em jogo onde Maxim "kyousuke" Lukin produziu números assustadores - e G2 para alcançarem os playoffs.
FURIA começou o semestre mostrando evolução, mas pecando na consistência | Foto: Viola Schuldner/ESLUma dramática derrota diante da MOUZ nas quartas de final machucou, mas mais uma vez foi possível ver sinais de evolução. O desempenho, contudo, não se repetiu no classificatório para a BLAST Bounty Fall 2025, onde os furiosos acabaram assombrados pelo fantasma da Team Liquid outra vez.
Vieram então quase três semanas sem compromissos oficiais, onde a FURIA pôde arrumar a casa ao se dedicar exclusivamente aos treinamentos. Foi aí que a virada de chave parece ter acontecido.
Despachando as favoritas Team Spirit e MOUZ, a equipe brasileira conseguiu garantir vaga nas finais da BLAST Open London 2025 onde, embora não tenha conseguido passar pela G2, eventual campeã, novamente apresentou um Counter-Strike de encher os olhos.
Gradativamente transformando os playoffs em rotina, a escalação treinada por Sid "sidde" Macedo retornou então à Sérvia para disputar a FISSURE Playground #2 e, depois de tanto bater na trave, conseguiu o tão sonhado título.
FURIA pouco a pouco transformou os playoffs em algo rotineiro | Foto: Sophie Skittle/BLAST PremierPor mais que Vitality, MOUZ e Team Spirit não tenham marcado presença em Belgrado, a FURIA vitimou Team Liquid, G2, paiN, Astralis, Falcons e The MongolZ no caminho até o lugar mais alto do pódio, recolocando o Brasil no topo de um torneio Tier-S após mais de sete anos.
Na sequência, veio a ESL Pro League S22 e a "ressaca do título" pareceu pesar na primeira fase, onde os furiosos só garantiram a classificação no quinto e último dia depois de perderem para HOTU e Legacy e ficarem à beira da eliminação.
O Stage 2, apesar disso, foi mais tranquilo e, a não ser por uma derrota diante da G2, o caminho da FURIA não teve grandes turbulências. Apesar disso, vencer a Vitality, tão sedenta por um título no segundo semestre, foi um desafio grande demais para a equipe brasileira, que parou pelas quartas de final.
De todo modo, a campanha na Suécia teve saldo positivo para os furiosos, que foram então à disputa da Thunderpick World Championship 2025, campeonato de menor calibre, mas com alguns bons nomes na briga, caso de The MongolZ, Aurora e Natus Vincere.
FURIA deu mais um recado ao mundo com título da TWC 2025 | Foto: Divulgação/ThunderpickTodas elas, todavia, não foram páreas para a FURIA, que despachou uma a uma das concorrentes na luta pelo troféu, com destaque para a épica virada na decisão do torneio diante da Natus Vincere, que chegou a abrir dois a zero de vantagem na MD5.
Mesmo com os furiosos acrescentando um par de troféus à galeria do clube em menos de um mês, os mais céticos ainda duvidavam da capacidade da equipe de competir com as principais forças do planeta.
Foi aí que veio a IEM Chengdu 2025 para provar o contrário. Embora tenha deixado a vaga direta nas semifinais escapar ao perder um jogo extremamente competitivo contra a MOUZ, a FURIA não se deixou abalar.
Mantendo a freguesia tanto da The MongolZ, quanto da Falcons, a equipe brasileira marchou rumo à grande final para enfrentar o "chefão" do torneio, como definiu o próprio FalleN ao falar sobre a Vitality.
Fato é que, apesar do jogo ter sido extremamente pegado, o time de astros europeus não conseguiu sequer arrancar um mapa da FURIA, que cravou um convincente três a zero na série para erguer o troféu e, mais do que isso, mostrar que o Brasil voltou de vez.
FURIA provou que pertence ao Tier-1 com título em Chengdu | Foto: Enos Ku/ESLNão houve tempo para celebrar o incrível feito na China, já que a BLAST Rivals Fall 2025 teria início poucos dias depois. Dessa vez, contudo, nada de ressaca do título.
Depois de despachar a paiN em jogo eletrizante na estreia, a FURIA voltou a vencer a Vitality com direito a atropelo na Inferno para avançar diretamente às semifinais da competição, onde derrotou as tropas de Rodrigo "biguzera" Bittencourt outra vez.
Por mais que a Falcons tenha aberto a decisão com um humilhante 13-3 na Inferno, cortesia do melhor mapa da carreira de Damjan "kyxsan" Stoilkovski, a FURIA não se deixou abalar.
Nem mesmo a incrível sede dos rivais por um troféu - e um campeonato memorável por parte de Ilya "m0NESY" Osipov - foi capaz de parar os brasileiros, que buscaram uma autoritária virada para fazerem a festa em Hong Kong.
Com 4 títulos em 5 possíveis, FURIA chegou ao Major de Budapeste com a confiança nas alturas | Foto: Jonathon Yau/BLAST PremierCom 4 títulos em 5 possíveis, a FURIA aterrissou em solo húngaro para a disputa do StarLadder Budapest Major 2025 como grande postulante ao título, permitindo que o torcedor brasileiro voltasse a sonhar com o troféu mais cobiçado da modalidade após longos anos de espera.
Sem tirar o pé do acelerador, a equipe liderada por FalleN começou sua trajetória na Hungria em grande estilo, batendo a Natus Vincere por 13-2 com direito a 12-0 de CT na Nuke e, na sequência, desbancou Imperial e G2, também com muita autoridade, para cravar a vaga nas quartas sem cerimônia.
Mas, assim como a SK que chegava ao PGL Major Kraków 2017 com três títulos consecutivos, a FURIA sequer conseguiu passar das quartas de final, caindo pelas mãos da vingativa Natus Vincere em jogo pra esquecer.
O fim é triste | Foto: Divulgação/StarLadderPor mais que o conto de fadas furioso não tenha tido um final feliz, o futuro parece ser próspero para a FURIA, que pela primeira vez em muitos anos parece ter um bom ponto de partida para a próxima temporada.
Com molodoy se consolidando como um dos melhores AWPers do planeta, YEKINDAR vivendo um verdadeiro arco de redenção, KSCERATO provando pertencer à elite do Counter-Strike e Yuri "yuurih" Santos se reinventando em novas funções, o caminho está pavimentado.
A única ressalva, contudo, é o capitão FalleN, que mesmo sem a AWP em mãos segue conhecendo os atalhos e sendo um dos melhores líderes do planeta, mas não esconde o desejo de parar de jogar num futuro não tão distante.