Nascido na cidade de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná, no longínquo dia 2 de fevereiro de 1998, Jhonatan "JOTA" Willian é um verdadeiro ponto fora da curva. Hoje com seus 23 anos, o atleta atinge o ápice de sua carreira ao ser eleito o melhor jogador do Brasil em 2021.
Ele, por sinal, não é nenhum fenômeno que parece ter nascido com o dom do Counter-Strike e que com 16 ou 17 anos já dominava a mais alta prateleira do cenário nacional. Sua trajetória até o MIBR é fruto de muita luta, dedicação e trabalho.
A história de Jhonatan com os jogos não poderia ter começado de forma mais icônica: "Quando eu era mais novo, meu pai comprou um Super Nintendo, me ensinou a jogar Super Mario e outros jogos. Ele gostava muito de jogos de corrida", relembra.
Já seu amor pelo Counter-Strike já tem mais de 15 anos. Jhonatan, aliás, foi forjado no ambiente mais raiz que existe no jogo: as lan houses. Apresentado pelo FPS soberano por seus primos, o brasileiro não poupou esforços para poder transformar essa paixão em seu ganha-pão:
"Quando tinha 6 a 7 anos de idade meus primos jogavam CS 1.6 em casa. A partir daí comecei a jogar para me divertir com eles, foi o jogo que eu mais passei tempo jogando durante a minha infância. Sempre ia para as lan houses do meu bairro jogar", evoca.
"O CS:GO comecei a jogar em 2015, 2016. Demorei um pouco pra começar por que eu não tinha computador (risos). Até hoje eu não tenho ainda, mas CS é minha paixão e passei por muitos perrengues até chegar aqui hoje, fiz de tudo pra viver o meu sonho", garante.
Já seu início no cenário competitivo data de 2018. Foi ao lado de alguns amigos de sua cidade que JOTA formou a Play4Lan, equipe com a qual desfrutaria de alguns êxitos a nível doméstico e começaria sua trajetória rumo à mais alta prateleira do CS:GO brasileiro.
"Meu primeiro time foi com meus amigos da minha cidade, nos jogávamos as ligas da Gamers Club e alguns campeonatos na maior lan house da cidade de Foz. Eles me chamaram pra jogar com eles e a partir daí me interessei mais pelo competitivo", relembra.
JOTA, aliás, não podia ter uma inspiração melhor para sua carreira: "Referência para mim é o FalleN, por ser um dos pilares da nossa comunidade, por toda a história e esforço que ele fez pra ajudar nossa comunidade crescer. Esse cara é f*da sempre acompanhei o trabalho dele", enaltece.
Todavia, dizem por aí que é na adversidade que se fazem os melhores. Com JOTA não foi diferente: "Sempre tive vontade de ser jogador profissional, mas não tinha incentivo familiar, não tinha um computador que pudesse me deixar confortável dentro de casa pra treinar ou competir. Sempre fui a lan house pra jogar e o tempo era curto, porque fechava e a partir daí eu tinha que voltar pra casa, acordar cedo e voltar à rotina de trabalho", lembra.
"O meu tempo livre eu tentava me dedicar ao jogo, sempre levando a sério. O dono da lan house que eu jogava na minha cidade me ajudou deixando eu jogar sem precisar pagar porque eu tinha muita vontade de evoluir no jogo", diz. "Cheguei a jogar na casa de um amigo por um tempo, ele havia montado alguns computadores lá para que o time que ele estava formando pudesse treinar, mas não deu muito certo", lamenta.
Sua qualidade individual acabaria por chamar a atenção do Santos e-Sports, que em abril de 2019 apostara na juventude do então "jntzika" e de outros nomes como Guilherme "piria" Barbosa e Ruann "keiz" Rotondano para reconstruir seu elenco.
"A partir daí, fui jogar no Santos e eles me levaram para a gaming house em São Paulo para que eu pudesse focar só no jogo e que não precisasse mais trabalhar", fala. Foi com o manto do clube da baixada santista que Jhonatan então começou a chamar a atenção de algumas das principais equipes do cenário nacional.
Embora suas conquistas com o peixe tenham se restringido à competições como a AORUS League e a Liga Pro da Gamers Club, seus números jamais deixaram a desejar: sob o banner santista, 1.08 de rating e 1.08 de taxa de impacto que evidenciam a qualidade de seus préstimos.
Já em janeiro de 2020, a respeitada Vivo Keyd decidiu apostar no projeto de Matheus "mawth" Gonçalves para a disputa da segunda temporada de CLUTCH. A equipe, que também contava com JOTA, todavia, não encaixou, falhando em se firmar como uma das melhores do país e sendo eliminada precocemente da ampla maioria dos campeonatos que disputou naquele ano.
"Fui para a Vivo Keyd, onde não tivemos bons resultados. Passei os dois anos longe da minha família e amigos, porque não tinha computador. Então era melhor ficar na gaming house pra tentar ter uma alta performance", lembra.
Seus números com a Vivo Keyd, no entanto, passaram longe daquilo que JOTA estava habituado a mostrar. Mas, mesmo com seus modestos 0.99 de rating, o atleta acabou chamando a atenção de um personagem fundamental para sua história de sucesso: Adriano "WOOD7" Cerato. O gaúcho, aliás, sabia que Jhonatan era a peça que faltava no quebra-cabeças de sua Bravos, que finalmente optou por contratar JOTA em novembro de 2020.
"Quando o WOOD7 me chamou para a Bravos, eu disse que faria o que fosse preciso em questões de funções, mas ele disse que não gostaria que eu fizesse isso. Ele me colocou para jogar confortavelmente nas funções e posições que eu já havia jogado na época do Santos, então ele extraiu o melhor de mim e acabamos nos complementando muito bem dentro do jogo", pondera JOTA.
Quando 2021 se iniciou, era difícil imaginar a Bravos como uma equipe que fosse capaz de competir com as melhores do Brasil. Embora a formação liderada por WOOD7 já tivesse mostrado uma certa solidez no segundo escalão do CS:GO nacional, ainda era necessária uma provação. O mesmo vale para JOTA. Afinal, quem o indicaria para ser o melhor jogador do país ao final do ano?
Apesar da Bravos ter faturado o título da Kanui Esports Invitational logo no primeiro mês do ano, a equipe bateu na trave em seus próximos três compromissos: Redragon Summer Finals e nas seletivas que levavam à DreamHack Open March 2021. JOTA, por sinal, se destacou em ambos os classificatórios, somando 1.33 e 1.23 de rating nestes, respectivamente.
"Começamos o ano no quase, sabendo que dava para ser uma equipe campeã, então começamos a trabalhar duro e sempre trazer coisas novas para ter um bom playbook. Todos que participaram da equipe nunca deixaram a desejar e sempre tiveram participação na estruturação do time. O coletivo fez com que fossemos campeões", crava.
Quis o destino que o trabalho duro do modesto elenco fosse recompensado da melhor forma possível. Conforme o ano foi passando, a Bravos conseguiu alcançar alguns de seus principais objetivos, chegando à Série A em abril e logo tomando conta do principal campeonato mensal do país. A equipe, aliás, disputou três finais de Série A diante da Paquetá, vencendo duas destas. Apesar de uma derrota, JOTA foi eleito o MVP das três etapas, tendo um rating médio de 1.29.
Não demorou para que tais resultados se consumassem também na elite do CS:GO nacional. O título da prestigiada INVIe 2021 seria o prelúdio de algo ainda maior. Embora a fase de grupos do CBCS Elite League S2, competição válida pelo Regional Major Ranking sul-americano de acesso ao PGL Major Stockholm 2021 tenha sido um tanto quanto tortuosa para a Bravos, que só conseguiu a classificação na quinta e decisiva rodada, a equipe mostrou todo seu potencial nos playoffs, passando por SWS, Paquetá e Sharks para conquistar o título da competição de R$100 mil.
Ao lado de Matheus "Tuurtle" Anhaia, JOTA seria o principal destaque daquela inédita conquista, somando 1.25 de rating e sendo o segundo EVP do torneio. Apesar de ter vivenciado uma sequência de resultados mistos nas semanas que se sucederam, destaque para o título da La Liga S4 - Sur Pro Division - Apertura e para o vice-campeonato da FiReLEAGUE Latin power Fall 2021.
Foi nesta época, aliás, que JOTA recebeu elogios do experiente Luis "peacemaker" Tadeu, que até tentou levá-lo ao projeto da Imperial Esports. O treinador, que acumula em seu currículo passagens por Team Liquid, Misfits, TYLOO, Heroic, MAD Lions e Complexity, falou à DRAFT5 em agosto, apontando o atleta da Bravos como um dos grandes destaques do cenário brasileiro:
"Pelo projeto da Imperial, me reaproximei bastante do cenário, estudei muitos jogadores. Um que me chamou atenção foi o JOTA, da Bravos. Ele vem jogando muito bem, com constância. Cheguei a conversar com ele, tem a cabeça muito boa, tem um futuro muito bom", disse peacemaker na ocasião.
O melhor, entretanto, ainda estava por vir. Enquanto MIBR e Sharks brigavam por vaga no Major de Estocolmo no último RMR sul-americano, a IEM Fall 2021, a Bravos assumiu o protagonismo da disputa e, mesmo sem ter mais chances de representar o Brasil no campeonato de maior prestígio do cenário mundial de CS:GO, tomou para si o lugar mais alto do pódio. JOTA, não por acaso, foi eleito o melhor jogador do certame graças às suas incríveis performances que lhe conferiram 1.28 de rating ao final da competição.
"Os dois RMRs em que fomos campeões significaram muito para mim. Ganhamos da Sharks que passou um bom tempo do ano treinando e jogando na Europa enquanto nosso time apenas treinou e jogou no Brasil. Espero que depois disso as pessoas comecem a olhar mais para o nosso cenário sul-americano e valorizem as equipes que estão aqui", diz JOTA.
Entretanto, a classe apresentada pelo inspirado JOTA acabou tornando o Brasil pequeno demais para o jogador de 23 anos. Com a não-classificação ao Major de Estocolmo, o MIBR acabou apostando em seus serviços em prol de um projeto capaz de recolocar a lendária tag entre as grandes em 2022.
Desde então, JOTA tem vestido aquela que é uma das mais pesadas camisetas da história do cenário nacional, tendo disputado três campeonatos na América do Norte. Em destaque, o título da ESEA Advanced S39 que confere à equipe o direito de brigar por vaga na ESL Pro League já na próxima temporada. Nem mesmo o vice-campeonato de CBCS Masters 2021 diante da Sharks foi capaz de apagar o grande fim de ano de JOTA e seus companheiros.
JOTA foi, inquestionavelmente, o melhor jogador a atuar em solo brasileiro ao longo de 2021. Além dos três prêmios de melhor jogador do campeonato que faturou, o atleta de 23 anos, presença constante nos principais torneios do pais, angariou sonoros quinze prêmios de EVP.
Seus números também foram inquestionavelmente impecáveis: 1.21 de rating (#2), 83.7 de ADR (#2), 1.23 de KDR (#4), 75.8% de KAST e 1.16 de taxa de impacto (#9). Como se tudo isso não fosse suficiente, JOTA angariou notáveis 147,2 DRAFT5 Points, uma diferença de 36.4 pontos para Santino "try" Rigal, que levou a prata na corrida pelo posto de melhor do Brasil em 2021.
Embora try tenha sido capaz de conquistar números ainda melhores do que os de JOTA ao longo de seu brilhante 2021, JOTA disputou mais campeonatos por aqui e, graças à sua consistência, foi capaz de somar ainda mais prêmios individuais para sua coleção, feitos esse que lhe conferiram o posto de melhor jogador do país.
Veja o comparativo estatístico dos dois:
Estatísticas | JOTA | try |
Rating 2.0 | 1.21 | 1.29 |
ADR | 83.7 | 83.2 |
KDR | 1.23 | 1.43 |
KAST | 75.8% | 75.4% |
Impacto | 1.16 | 1.28 |
EVPs | 15 | 4 |
MVPs | 4 | 7 |
DRAFT5 Points | 147,2 | 110,8 |
Depois de um 2021 tão altaneiro, é óbvio que as expectativas de JOTA são as melhores possíveis. Ele, contudo, sequer imaginava vivenciar um ano tão incrível junto da Bravos e, posteriormente, do MIBR: "Não esperava estar na listagem dos melhores. Eu sempre almejei ter resultado em equipe, mas é obvio que pra você ter resultados precisa ser um jogador de alto nível. Foi algo natural pelo time ter se complementado tão bem", analisa.
"Foi o melhor ano da minha carreira até agora. Foi um sentimento de realização em saber que conseguimos construir um ano incrível com todos os jogadores que passaram pela equipe. Formamos um time de campões", diz. "Acredito que esse foi o meu melhor ano individualmente, conforme o ano foi passando e eu fui adquirindo mais experiência e consegui ser sólido, mas isso também foi mérito de todos os meus companheiros que me ajudaram a evoluir", credita.
E a humildade que fez JOTA crescer profissionalmente ao longo de 2021 não lhe deixa chegar nem perto de imaginar o quão longe ele conseguiu chegar na lista de melhores do ano chancelada pela DRAFT5: "Comecei o ano sem pensar que estaria no ranking dos melhores, então pra mim qualquer lugar na lista já me deixaria feliz, mas óbvio que estiver perto do topo é melhor ainda", assinala.
"Meus planos para 2022 são de jogar um Major com o MIBR, colocar essa tag lendária no topo novamente. Junto com meus companheiros de equipe, quero fazer dessa uma das melhores equipes do mundo. Já estamos trabalhando muito para isso e vamos continuar até chegar nos resultados que queremos. Para nós, o céu é o limite", garante.
Por fim, JOTA ainda foi questionado acerca de quem poderia entrar em uma futura lista da DRAFT5, apontando Brenno "brnz4n" Poletto, destaque do MIBR Academy que chegou a atuar como stand-in para o time principal do clube, para tal posto:
"Vejo o brnz4n entrando na lista de melhores. Antes dele ser profissional já pensamos em chamar ele para a Bravos. Quando jogou na equipe principal do MIBR. Ele deu trabalho para os times internacionais, Ele é muito bom e tem estrela. Acredito que em breve será um dos melhores não só no brasil, mas internacionalmente", crava.