As melhores no Brasil em 2022: (7) – Nataly "nani" Cavalcante

A jogadora teve um ano inesquecível pela Black Dragons e B4

por Ariela Vasquez / 03 de Jan de 2023 - 18:00 / Capa: Arte por DRAFT5

Um ano inesquecível para muitos jogadores, mas para Nataly "nani" Cavalcante, o 2022 foi deslumbrante. A jogadora da B4 foi um dos pilares do time que fechou o ano com chave de ouro, com o título inédito da Gamers Club Masters Feminina.

De São Paulo para o mundo, nani também teve a chance de disputar dois mundiais da ESL Impact, um deles ainda pela Black Dragons no primeiro semestre. A atleta que quase desistiu do CS:GO e hoje se consagrou no FPS, ficou na 7ª colocação das melhores no Brasil em 2022 da DRAFT5.

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INFÂNCIA E JOGOS

nani, que hoje tem 27 anos, nasceu na Zona Sul de São Paulo, na região de Interlagos, que tem mais de 190 mil habitantes. A história de Nataly com os jogos começou aos 5 anos de idade, como muitas estrelas do Counter-Strike, sendo influenciada pelo irmão mais velho.

Com uma diferença de 7 anos de idade, o irmão de nani foi o responsável por juntar a futura jogadora com uma de suas maiores paixões, os jogos. "Somos muito unidos. Na época tinha 5 anos e ele sempre me chamava para jogar vídeo game e eu chorava se perdia"

Antes de se aventurar no Counter-Strike, nani tinha outras preferências de jogos, alguns clássicos como Sonic, Mortal Kombat e Street Fighter. Foram estes títulos que tomaram o tempo de nani até a jovem paulistana ser introduzida ao CS, também graças ao irmão.

A primeira vez que a atleta jogou o FPS da Valve foi com 17 anos, no caso, 12 anos depois de começar a jogar videogame casualmente. nani relembra que na época que descobriu o jogo de tiro, havia muitas lan houses.

Em um momento de muitas descobertas, o CS 1.6 fez parte do início de uma carreira promissora. A paulista relembrou que não tinha nenhuma amiga mulher que jogava CS, ou ao menos conhecia alguma. Essa história só mudou quando chegou o CS:GO.

"Não tinha ideia que existia cenário feminino, quando jogava 1.6 antes de migrar para o CS:GO eu não tinha nenhuma amiga mulher no jogo então eu achava que só eu de mulher jogava".

Foto: Lucas Spricigo/DRAFT5

PRIMEIROS PASSOS NA CARREIRA

O início da carreira profissional não foi fácil assim como outros milhares de jogadores. No começo, os pais de nani tiveram um certo receio dessa profissão que foge do padrão, se teria o retorno financeiro necessário para a filha se manter.

"Eu tive medo de contar para eles porque achei que eles não fossem me apoiar, no fim deu tudo certo e eles são muito participativos… Minha mãe até criou uma conta na Twitch para acompanhar os jogos. No início eles ficaram com receio de achar que não teria retorno financeiro, mas eles foram percebendo o investimento que recebemos durante o ano todo e agora são super tranquilos."

A jornada profissional começou em 2017 com a GGD e-Sports Girls e nani se recorda brevemente do primeiro campeonato que disputou, a série feminina da Gamers Club. Na época, o torneio levava o nome da Alienware, patrocinadora oficial. A disputa foi online e a equipe ficou em 3º lugar.

Entre idas e vindas, os famosos "fakezinhos", jogadores e jogadoras que se juntavam para formar uma equipe não oficial com um nome aleatório, não duraram muito, nani chegou a permanecer nos times por alguns meses. De 2017 a 2020, nani passou pela GGD, nicetry! female e Guardians Imperium, no qual disputou o Girl Power Invitational 2020 e a seletiva fechada da primeira edição da GC Masters Feminina.

Depois de uma longa caminhada que passou em vários times, nani teve a chance de defender sua primeira equipe profissional, com toda a estrutura e ajuda que podia ter na época.

"Meu primeiro time profissional de CS:GO foi a Black Hawks do meu amigo Wallace. Foi muito legal porque teve contrato, apoio, o investimento que era possível na época de fazer com o nosso time. Foi muito divertido."

nani chegou na Black Hawks em agosto de 2020 e ficou na equipe até janeiro de 2021. A atleta disputou alguns campeonatos menores, o torneio de maior expressão foi a classificatória aberta do 1º da Grrrls League 2021.

Divulgação/Gamers Club

PANDEMIA E QUASE MUDANÇA PARA O VALORANT

Durante a passagem pela Guardians Imperium e Black Hawks, o mundo de nani e de todos virou de cabeça para baixo. A pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil no início de 2020. A doença, que já matou mais de 700 mil pessoas no país, obrigou milhões de pessoas a ficarem em casa e manterem um contato mínimo com as pessoas, e apenas a distância.

O cenário de esports foi um dos mais afetados, principalmente a cena feminina que vinha em uma crescente com a chegada de novos organizadores de eventos e patrocinadores. A redução de campeonatos foi nítida, a ponto de algumas atletas temerem um fim precoce do cenário feminino nacional.

Durante o primeiro ano de pandemia, o VALORANT, FPS da Riot Games, foi lançado em junho. A chegada de um novo jogo de tiro com uma cena totalmente nova abalou a comunidade de CS:GO. Após a chegada do título, inúmeros atletas anunciaram a migração e por muito tempo, essa pareceu a saída para manter a carreira.

"Pensei em migrar, tive a impressão que com o início do VALORANT e também da COVID-19, o CS:GO tinha ficado de lado e isso me desanimou na época. Isso quase aconteceu", confessou nani.

Atletas referências no cenário misto e feminino migraram, mas aos poucos, o mercado de esportes eletrônicos começou a dar sinais positivos para uma comunidade que por muito tempo foi esquecida e deixada de lado.

Em meio a pandemia, nani deixou a Black Hawks para defender a w7m em janeiro de 2021, ano que marcou o retorno dos grandes campeonatos, um alívio para as jogadoras que não desistiram do CS:GO, a verdadeira paixão.

Com a W7M, a jogadora disputou a etapa online da WESG 2021 Latin America: Brazil, Grrrls League 2021: Split #1, Gamers Club Série Feminina 1 e 2, Athena's Challenge 2021, relegation do Grrrls League e a seletiva aberta da Aorus League 2021 Season 2. Apesar de grandes esforços, a equipe não chegou a disputar uma final e nani deixou o elenco em junho para se juntar à Jaguares.

Em um novo quinteto, nani encontrou o caminho dos títulos. Junto de Luana "Arkynha" Archanjo,
Mariana "LyttleZ" Sabia, Letícia "Le^" Lima e Josiane "josi" Izidorio, a Jaguares foi campeã da Gamers Club Masters Feminina III. Em uma conquista inédita, a equipe bateu as favoritas, FURIA e MIBR, para se consagrar a grande campeã da edição.

Divulgação/JaguaresGG

Tão certo em tão pouco tempo, frase que define a Jaguares, que disputou só mais um campeonato antes do fim da line-up, a Grrrls League 2021: Split #2. No torneio, a equipe ficou em 4º lugar. Em agosto, a organização anunciou o fim das atividades e o quinteto ficou livre no mercado para explorar novas opções.

Sem uma nova casa para a reta final de 2021, a equipe começou a disputar os campeonatos sob a tag "ex-Jaguares", mas o time ficou junto apenas até setembro, quando se separaram e foram para equipes diferentes. O novo desafio de nani foi a Black Dragons.

Na nova organização, nani chegou a disputar a 4ª edição da Série Feminina da GC e a Gamers Club Masters Feminina IV, no qual ficaram em 3º lugar após perderem para a FURIA. O pódio fechou o ano de 2021 de nani, e por incrível que pareça, o 2022 foi ainda melhor.

NOVA ETAPA E ESL IMPACT

Na nova jornada, nani ajudou o time a alcançar o lugar mais alto do pódio. Nos campeonatos semanais da ESEA Cash Cup, a Black Dragons terminou entre as melhores. Na série feminina da GC de abril e no BGS Esports 2022 Female Bomb B, a equipe ficou em 2º lugar. Já na edição de maio, a Black Dragons bateu o MIBR por 2 a 1 e conquistou o primeiro título da equipe.

Mas o foco principal era a ESL Impact. Sem vaga garantida, a BD fez por onde. A equipe venceu a seletiva aberta da ESL Impact: South American Division e na disputa pela vaga para o primeiro mundial feminino depois de anos, bateu o MIBR. A Black Dragons garantiu a classificação para representar o Brasil na ESL Impact League Season 1.

Não era sonho, era realidade. Menos de seis meses com o novo time, nani carimbou o passaporte para Dallas, lugar que recebeu as finais da primeira edição. Na fase de grupos, a equipe ficou bem perto de conquistar a vaga para os playoffs, mas somaram duas derrotas e perderam o 2º lugar para a BIG EQUIPA. Apesar disso, a experiência marcou nani.

"MARAVILHOSA (a sensação), viajar para fora e fazer o que você ama, estar entre as melhores do mundo foi e continua sendo gratificante. Tive a experiência de testar o meu inglês, conversar com as meninas dos outros times e também conhecer um pouco da cultura dos países que tive a oportunidade de estar."

Na segunda edição da ESL Impact: SA Division, a BD ficou no quase. O time perdeu para o MIBR na grande final e as adversárias ficaram com a segunda vaga, já que a primeira era da FURIA, que recebeu convite direto da ESL.

Depois da primeira experiência no exterior, o quinteto voltou a disputar um título, dessa vez foi a Aorus League 2022 Season 1. Apesar dos esforços, o triunfo ficou com a FURIA, que venceu a final por um 2 a 0. Aos poucos, a BD mostrava a consistência do time.

Em junho, o time disputou os torneios semanais da ESL Impact Cash Cup e venceu dois deles. Um a equipe já estava com a tag "ex-Black Dragons". O contrato do quinteto chegou ao fim e a equipe decidiu não renovar, mas não demorou muito até os torcedores descobrirem a nova casa do time: B4.

O novo manto foi estreado no torneio Ela Faz o Game, e a equipe ficou em 3º lugar após perder para a FURIA. Um mês depois a equipe disputou a GC Masters Feminina V, que foi presencial no escritório da plataforma líder, em Sorocaba. Apesar do bom desempenho do time, o quinteto parou no MIBR na semifinal.

Reprodução/Twitter/B4

No BGS Esports 2022 Female Bomb B, que foi uma espécie de segunda seletiva para definir o outro finalista que iria disputar a decisão presencial contra a FURIA, a B4 perdeu novamente para o MIBR. Outro campeonato que deixou um gosto amargo foi a 3ª edição da série feminina, de setembro, no qual ficaram com o vice novamente.

Quem vive no meio competitivo sabe que só se sabe com as derrotas e a B4 colocou isso à prova. A reta final de 2022 foi melhor do que esperado, para os torcedores, foi o triunfo do time que lutou tanto e muitas vezes ficou pelo caminho.

A primeira conquista com a nova organização foi a ESL Impact Cash Cup: SA Summer 2022 #5 em setembro. O segundo título seguido foi a MEG Female 2022, no qual venceram a Black Dragons por 2 a 1. Na ocasião, nani foi uma das EVPs da competição.

Na última edição da ESL Impact: SA Division, mais uma vaga veio. Depois de vencer o MIBR, EndGame, INDEPENDENCE e BD, o quinteto se classificou para a final mundial em Jönköping, cidade que faz parte da história do CS:GO.

Na Suécia, a B4 e a FURIA ficaram no mesmo grupo e com duas vagas apenas. A B4 venceu a ATK, mas perdeu para as compatriotas. No jogo de desempate, que valia a 2ª vaga, as brasileiras perderam para a 9 Pandas Fearless.

De volta ao Brasil, o time foi disputar a GC Masters Feminina VI. Em uma campanha histórica com apenas uma derrota, a B4 bateu a FURIA na grande final por 2 a 1. O título foi inédito para a equipe, mas foi a 2ª GC Masters da nani, que já havia conquistado com a Jaguares em 2021.

A equipe foi a primeira a vencer as panteras em finais da GC Masters Feminina. Além disso, o triunfo marcou o fim da invencibilidade de 16 meses da FURIA no Brasil em partidas de MD3. Porém, a B4 ainda tinha um último compromisso no ano, a seletiva da ESL Impact Katowice 2023.

O primeiro internacional de 2023 será na casa do CS:GO, a cidade da Polônia irá receber depois de anos, outro mundial feminino. No teste final, a B4 venceu a EndGame, w7m e o MIBR para ficar com a vaga.

"Estou muito ansiosa para conhecer a cidade do CS:GO e espero me consagrar igual essas lendas que sou tanto fã. Sinto que estamos cada vez mais perto de concluir nosso objetivo que é trazer o mundial para o Brasil. Sabemos que não seria fácil, que não seria chegar de primeira e trazer a taça para casa, é uma construção sabe? Estamos evoluindo."

O fim do ano foi quase perfeito, mas foi o resultado do trabalho árduo do time, desde os tempos de BD. Para 2023, os ventos apontam para um caminho repleto de títulos e vitórias.

A 7ª MELHOR DO BRASIL EM 2022

Arte por DRAFT5

Sem sombra de duvidas, 2022 foi o melhor ano na carreira de nani, que além de levantar troféus, também teve vários destaques individuais nos campeonatos. A jogadora quer continuar com o foco para e evoluir ainda mais.

"Fiz o possível e o impossível para estar entre as melhores. Trabalhei muito para chegar onde estou e me sinto orgulhosa do que me tornei e vou continuar trabalhando MUITO para manter e quem sabe me superar, gosto de desafios e trabalho bem sob pressão."

A atleta foi EVP em 11 campeonatos, que foram na Cash Cup Winter #3, BGS 2022, nas três edições da Série Feminina, Cash Cup Spring #6, Cash Cup Summer #1 e #5, MEG 2022 e GC Masters VI.

Na Série Feminina 2, Cash Cup Summer 5 e MEG Female, nani ficou bem perto de conseguir o MVP (jogadora mais valiosa).

No geral, nani teve 6 C Points, que corresponde às listagens em conquistas coletivas do time. Já o D5 Points, pontuação baseada em MVP/EVPs e que cada um tem um determinado peso, a jogadora somou 65,3 pontos.

Para o próximo ano, nani não poupou palavras e foi direta ao assunto: o objetivo são os títulos. "Meu objetivo é chegar em 2023 na voadora e continuar fazendo o meu, conquistando meu espaço e ajudar de todas as maneiras possíveis meu time a conquistar títulos."

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