+18. Aposte com responsabilidade. Odds sujeitas a alteração.

Semana da Mulher: "Falta um tratamento mais igual", crava goddess

Primeira MVP da história da DRAFT5 comentou sobre seu começo de carreira, relação com a família e lado otaku

por Cristino 'cac0' Melo / 09 de Mar de 2020 - 21:55 / Capa: Rafael Veiga/DRAFT5
O rosto meigo e a voz doce podem até esconder um pouco da forte e determinada mulher que Lara "goddess" Baceiredo é. A jogadora de 24 anos foi descoberta pelo Santos e-Sports no final de 2017. Porém, sua paixão pelo Counter-Strike vem muito antes, graças ao que hoje ela chama de fã número 1.

Aprendi a jogar com meu irmão que é cinco anos mais velho. Ele chegou a competir na época do 1.6, nas LANs da minha cidade, alguns regionais, ganhou um campeonatinho. Eu tinha computador, o computador dele. Então na verdade meu irmão jogava, assistia, escutava, as músicas que tinha no computador dele… Tudo que tinha, eu acabei herdando para mim. (...) Então eu comecei a jogar CS com ele, me mostrou o Half-Life também.”, contou a jogadora.

A partir desse momento, ainda com oito anos, se tornou fã de jogos. Tanto que ainda no ensino médio abria mão de uma boa noite de sono para ficar jogando, apesar de não concordar com isso: “No ensino médio eu virara várias madrugadas jogando, não me orgulho disso, mas fazia. Então, vou falar o quê?”. E mesmo com toda essa conexão, tomou a absurda decisão de cursar Arquitetura e Urbanismo.

Foram quatro anos entre bons e maus momentos, poucas coisas que gostava e outras nem tanto. Mas ninguém é velho demais para um conto de fadas. Querendo deixar de ser Lara para se tornar a Goddess que todos conhecem hoje, a jogadora já montava fakes e completava times na Liga Feminina em 2017. Com o convite de Léo para defender o Santos, decidiu trancar o curso e seguir a carreira de atleta.

 



DOIS ANOS EM ALTA

Sua chegada no Santos, junto com a determinação que possui para ser jogadora profissional, a fizeram desenvolver rapidamente. Esse time emplacou cinco títulos da Liga Feminina entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019. Mesmo assim, ela ainda tinha dúvidas do que o time poderia apresentar por conta dos adversários enfrentados.

(...) O máximo de dificuldade que a gente encontrou de time para jogar naquela época foi a Isurus, que hoje é a base da 9z. Então por exemplo daquela época mesmo a gente nunca teve oportunidade de jogar contra uma paiN ou contra a própria do VK.”, lembrou.

Com o bom desempenho fechou com a Vivo Keyd em junho de 2019. E foi lá que viveu seus melhores momentos. Como uma Guerreira, participou de dois grandes torneios presenciais e também levantou a primeira taça. O título da Game XP no Rio de Janeiro não aconteceu. Porém, a LAN teve um gosto especial para, novamente, Lara.

Coloquei minha mãe como minha convidada e foi o primeiro evento que ela foi. Ela viu que era muito grande porque lá era um parque de games. E ela vinha e falava ‘não sabia que era tudo isso’ e ficou até às dez da noite quando começou nosso jogo.”, contou.

O TÍTULO DA BGC

Goddess não esconde que foi o momento mais importante de sua carreira. Foi naquele período que ela se sentia melhor individualmente e o time pronto para ser campeão. Já haviam batido a paiN Gaming na semifinal online e chegavam prontas para enfrentar a Team One.

Eu não me senti pressionada individualmente falando, estava muito confiante que a gente ia ganhar. Nosso time estava muito confiante naquele momento, nosso time era melhor mesmo. Mesmo perdendo o primeiro mapa a gente sabia que era uma MD5. Sabia que a Mirage era nosso pior mapa. Depois Team One ganhou o primeiro mapa e a gente simplesmente resetou nossa cabeça. O dzt também estava lá e nos deu total suporte. Ele fazia rodinha, ele gritava com a gente. Dizia que a gente era muito boa. Ele falou as qualidades de cada uma no jogo. Sempre colocando a gente pra cima. Nos ajudou demais. E depois no segundo mapa quando a gente engatou foi deixando o placar mais elástico, a gente sabia que não dá para elas. Então a gente virou de um a zero para três a um e foi muito bom. Com certeza foi o melhor título da minha carreira até agora..”

Para completar a realização de um sonho, foi escolhida a Most Valuable Player (MVP) da competição pela equipe da DRAFT5.

Goddess levou o primeiro prêmio de MVP para uma jogadora feminina da DRAFT5 (Foto: Rafael Veiga/DRAFT5)


O ano de 2019 terminou em alta para ela e sua equipe. Tanto que receberam um convite para formar a primeira line-up feminina da FURIA eSports. Para Goddess isso foi o melhor momento da carreira, já que a organização é uma das mais importantes do país.

"Na carreira em si com certeza (o melhor momento) foi entrada na FURIA. Não tem nem o que comparar. Todos os times que eu tive, as três organizações são muito bacanas, gostava de todo mundo. Mas eu acho que a FURIA é muito maior, é mais conhecida. E foi com certeza um momento de maior destaque da minha carreira."


UM PASSO DE CADA VEZ

Goddess encara o cenário feminino como se desenvolvendo a passos curtos. Dois mil e dezenove foi o ano em que o cenário evoluiu com alguns torneios chegando, como a Girl Gamer Fest, elogiado pela jogadora.

A gente não tinha isso antes (classificatório para torneio internacional). A Girl Gamer Fest já teve duas edições, mas era por convite então ninguém aqui no Brasil teve oportunidade de jogar campeonato e agora que passou a ser classificatório, ficando muito melhor.”, comentou.

Porém, para ela ainda faltam outros pontos que precisam ser feitos para desenvolver mais o cenário que vão além de campeonatos.

O que o que falta é um tratamento mais igual as competições mistas. Eu fui a primeira mulher a ganhar um MVP. E por que em outros campeonatos não têm? Por que em outros campeonatos presenciais a gente não vê isso? Cadê o índice da melhor jogadora? A gente não vê isso em alguns campeonatos. Então, isso é diferente para todo o cenário misto. Também tem a diferente de imagem, a criação de mídia. A gente vê uma GC Masters com bastante criação de conteúdo, criação de mídia para os jogadores, entrevista, brincadeiras... E a gente não vê isso no cenário feminino.”, indagou a player.

OPINIÃO FORTE

Os questionamentos (com razão) mostram porque ela é uma jogadora forte e de personalidade. Ela confirmou que nunca abaixou a cabeça para alguns poucos insultos que já recebeu nas partidas. E mais do que isso, provavelmente deu o troco na mesma moeda.

Eu não acho que o CS seja uma comunidade tão tóxica, como o League of Legends por exemplo. Foram só alguns comentários depois que eu matei cinco e ganhei o round aí um cara vai e fala ‘nossa, vai lavar louça’ ou ‘essa mina nunca vai ser boa’, mas no caso não querendo que eu estava sendo boa naquele momento. E isso não me incomoda, o choro faz parte, eu vejo como um choro mesmo.", afirmou.

Isso também revela um temperamento forte que ela tem e até tentou esconder, mas deu pra perceber. Goddess não aceita perder nem partidas com o namorado (risos).

Quando eu tô jogando com os amigos ou quando meu namorado me chama para jogar... Eu sei que é muito feio falar isso mas eu falo assim ‘vai todo mundo jogar direito ou vai jogar que nem idiotas? Se for pra jogar que nem idiotas nem me chama!’”, revelou.

Tudo isso escondido atrás de uma garota Otaku, mesmo negando que é. Como uma pessoa apaixonada por Naruto, tem tatuagem de um personagem de Nanatsu no Taizai, fotos na Gamers Club e diz ainda que não é Otaku?
Continua depois do anúncio

+18. Aposte com responsabilidade. Odds sujeitas a alteração.

Saiba Mais Sobre