Quem é Gaules? O ex-jogador de Counter-Strike que virou um dos maiores streamers do mundo

Alexandre "Gaules" Borba tem 39 anos de idade e está consolidado como um dos maiores streamers do mundo, mas se engana quem pensa que foi uma caminhada tranquila. Gaules teve uma vida dedicada ao Counter-Strike desde a adolescência, foi campeão Mundial e um dos principais profissionais que o Brasil já teve no 1.6. A derrocada aconteceu quando ele passou para o ramo empresarial, chegou a falência e até tentou suicídio, mas conseguiu dar a volta por cima com as streams, se tornando um dos mais bem pagos e com uma das maiores comunidades da história da Twitch.

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O começo da trajetória de Gaules com o FPS da Valve foi no começo dos anos 2000, quando tinha 14 anos e frequentava a lan house Monkey Tatuapé, em São Paulo, uma das principais lan houses do Brasil, chegando a ter 60 unidades ao redor do país em 2003. O objetivo de Gaules era entrar no time, pois não possuía dinheiro para pagar a lan house -- visto que quem fazia parte do time jogava sem pagar -- e porque queria estar no time da lan house que frequentava.

Após tanto insistir, Gaules foi chamado para ser o líder do time "de base", mas recebeu a primeira oportunidade na equipe principal durante a seletiva da Cyberathlete Professional League 2021, entrando no lugar de um jogador que estava jogando mal no evento, mas o sonho logo acabou, porque a Monkey decidiu montar uma seleção com os melhores jogadores e Gaules não foi um dos escolhidos.

O jovem não desistiu, criou a g3nerationX (G3X) e convocou os jogadores que conhecia da lan house, formando o time com Igor "vip" Melro, Rodrigo "crash" Rodrigues, Mee e Feijaum. O primeiro compromisso foi em um campeonato na Monkey Santa Cruz, onde derrotaram a seleção do local. Depois disso, a equipe realizou algumas mudanças, adicionando peças conhecidas, como Raphael "cogu" Camargo, e se classificaram para a World Cyber Games, em novembro, ficando no TOP 8 do primeiro evento internacional.

Mesmo com mudanças na escalação de tempos em tempos, a G3X se consolidou como um dos melhores times do Brasil, empilhando títulos e se classificando para os principais eventos internacionais da época. Porém, a tag sofreu uma grande baixa em 2006, quando a Intel, principal patrocinadora, rompeu a parceria e o time se desfez.

O fim da G3X parecia ser o fim do sonho, mas na realidade abriu o caminho para conquistar o maior título da sua carreira. Gaules foi para o MIBR, principal rival do G3X, após uma conversa com Paulo "pvell" Velloso, fundador da tag.

A escalação original do MIBR havia migrado para o Counter-Strike: Source por causa do Championship Gaming Series (CGS) e Gaules montou um novo elenco para o MIBR continuar disputando os eventos de 1.6. Foi aí que surgiu a line-up de Thiago "BTT" Monteiro, Norberto "Lance" Lage, Lincoln "fnx" Lau e Wellington "ton" Caruso.

Posteriormente, pvell sugeriu a entrada de Bruno "bit" Lima (atual treinador do MIBR) no time, então Gaules optou por virar treinador do MIBR para permitir a entrada do jovem. A decisão se mostrou acertada na DreamHack Winter 2007, onde o MIBR conquistou o primeiro título Mundial da história do Brasil.

A campanha foi histórica, o MIBR venceu quatro partidas seguidas, inclusive a fnatic, para chegar na decisão pela tabela upper. Na final, os brasileiros derrotaram a SK Gaming, time da casa e que tinha Abdisamad "SpawN" Mohamed, considerado um dos melhores jogadores do 1.6, e Robert "RobbaN" Dahlström -- multicampeão como técnico da FaZe Clan no CS:GO.

Gaules se aposentou do cenário competitivo em 2008, quando estava terminando a faculdade de Marketing e conseguiu um estágio na Samsung, onde levou a marca para os esportes eletrônicos e o MIBR passou a ter seu patrocínio. O trabalho de Gaules foi reconhecido, sendo efetivado na empresa antes de se formar.

Ele até recebeu um convite da Samsung para acompanhar a delegação brasileira da Complexity Gaming, de Gabriel "FalleN" Toledo, na WCG 2010. Depois desse experimento, Gaules escolheu deixar a empresa multinacional de eletrônicos para retornar ao esports.

Com o objetivo de ajudar na profissionalização dos times e organizações, Gaules comandou a Brasil Gaming League e a Seleção Brasileira de Games (SBG) em 2011, e criou a Agência X5 e a Mega Arena X5 para trazer investimento na modalidade e crescer o mercado de esports no Brasil.

Contudo, os investimentos de Gaules deram errado. O profissional se afundou em dívidas e desenvolveu um quadro de depressão profunda; tudo isso culminou para uma tentativa de suicídio, em dezembro de 2017.

“Eu parei e pensei que nem aquilo [!o!] eu consegui fazer, então significava que tinha alguma coisa muito grande por vir. Eu resolvi transformar essa situação. Eu não tinha mais sócio, namorada, emprego, dinheiro no banco e nem lugar para morar. Foi aí que descobri que eu tinha construído uma história que não tinha preço”, disse Gaules em entrevista para a ESPN, em 2018.

Com a mentalidade de dar a volta por cima, Alexandre Borba recorreu a amigos, como Igor "vip" Melro, Rodrigo "crash" Rodrigues e Alessandro "Apoka" Marcucci, que o ajudaram com alimentação e outras contas para se reerguer como um Gaules através da stream.

Com uma quitinete alugada, Gaules apostou tudo em um computador e uma webcam para começar a fazer lives na Twitch. Inicialmente, ele queria apenas um dinheiro para pagar o aluguel e comprar os remédios contra a depressão, mas a plataforma foi ainda mais importante, servindo como uma terapia.

Foi nesse período que Gaules popularizou a frase "A Tribo cuida da Tribo", pois as streams eram focadas em jogatinas de CS:GO, mas principalmente em conversas com o chat durante as madrugadas. Ele também começou a movimentar o canal do Youtube, onde atraiu mais espectadores, entre eles, Lucas “Brexe” Pereira, que chegou na live quando tinha 50 espectadores e conseguiu a vaga de "moderador". Hoje, Brexe é o Manager de Gaules e cuida das principais negociações envolvendo a imagem do streamer.

Mesmo com as dificuldades da vida pessoal, Gaules teve a resiliência para fazer lives por mais de 10 horas por dia, levando uma gameplay divertida para os espectadores, além de ajudar outras pessoas que também estavam passando por problemas psicológicos. Ele rapidamente ganhou destaque na comunidade de Counter-Strike, seguidores apaixonados e começou um novo capítulo em sua vida com a transmissão dos campeonatos de CS:GO.

Gaules inovou no modo de transmitir o competitivo, sem uma equipe tradicional de narradores, mas no estilo Watch Party, reagindo ao jogo, torcendo para as equipes brasileiras e interagindo com o chat. Esse jeito de assistir aos jogos caiu nas graças da torcida, o que o impulsionou a comprar os direitos dos eventos BLAST e ganhar cada vez mais audiência, campeonato atrás de campeonato. Em 2020, Gaules fechou uma parceria com a ESL para ter os direitos dos maiores eventos do circuito internacional.

Em cinco anos, Gaules se tornou uma potência que diversas desenvolvedoras queriam aproveitar, conseguiu os direitos para passar em live o Mundial de VALORANT e o Mundial de Rainbow Six, assim como ser um dos canais selecionados para transmitir a NBA nas mídias online e até alguns Grand Prix Fórmula 1. Seu tamanho também trouxe patrocínios de grandes marcas globais, como Nike, Razer, Red Bull e Banco Itaú, além de ser convidado para participar do lançamento da camisa do Corinthians, clube do coração, em 2021.

Gaules de fato deu a volta por cima, superou a depressão ao mesmo tempo que criou um gigante canal na Twitch. Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, o streamer atraiu ainda mais público, registrando meses com a maior audiência do mundo e terminou aquele ano sendo o segundo streamer mais assistido de todo o globo terrestre.

Tudo isso foi recompensado financeiramente. No fim de 2021, um vazamento de dados da plataforma Twitch revelou que Gaules havia faturado R$15 milhões entre agosto de 2019 e outubro de 2021, cerca de quinze vezes mais do que Casimiro Miguel, que teria acumulado R$3 milhões no mesmo período.

Outro dado mais exato apareceu em 2023. O Stream Charts, site especializado em audiência nas plataformas de stream, realizou uma projeção com o preço do subscriber (inscrição) -- que atualmente custa R$7,90 ou o Prime gratuito para usuários que assinam o Amazon Prime por R$9,92/mês -- e mostrou que Gaules faturou mais de R$1 milhão só no segundo trimestre de 2023, com 147,2 mil subs nestes três meses.

Em 2022, pelo terceiro ano consecutivo, Alexandre "Gaules" Borba foi o segundo streamer mais assistido do mundo, com 161,3 milhões de horas assistidas. O maior do mundo, também pelo terceiro ano seguido, foi Félix “xQc” Lengyel, que passou 3,2 mil horas ao vivo e teve 224,4 milhões de horas assistidas.

Com a consolidação da marca Gaules, novas modalidades e novos conteúdos surgiram nas lives ao longo dos anos. Porém, ele já avisou que o carro-chefe continuará sendo o Counter-Strike, afinal o FPS da Valve o ajudou no pior momento da sua vida, colocando pessoas confiáveis em seu dia-a-dia. Além de Brexe, Gaules também conheceu o amor da sua vida, Lett Pereira, durante as streams de CS:GO.

Foi também com o Counter-Strike que o streamer alcançou o maior pico de espectadores na história de suas lives, somando mais de 710 mil pessoas onlines na partida entre Imperial e Cloud9 no PGL Major Antwerp 2022.

As transmissões dos campeonatos ocupam boa parte do tempo de live, mas Gaules mantém as jogatinas em lobbys da Gamers Club com companheiros da Tribo. Gaules também virou um colecionador com as skins mais caras do jogo no inventário, como a M4A4 | Uivo e a AWP | Sabedoria do Dragão. Segundo o próprio Gaules, seu inventário está avaliado em mais de R$1 milhão.

Depois de cinco anos de longas horas de stream, Gaules continua insaciável e com um ritmo impressionante de horas mensais transmitidas. O objetivo é continuar crescendo, trazer mais novidades para a live e chegar ao posto de maior streamer do mundo.