Muito antes de jogadores como Gabriel "FalleN" Toledo, Marcelo "coldzera" David, Fernando "fer" Alvarenga e Epitácio "TACO" de Melo, os torcedores já viram outros jogadores considerados lendas em suas respectivas épocas vestirem a camisa e levantarem troféus pela organização de Counter Strike mais tradicional do Brasil.
Ao lado de Eduardo "corassa" Corassa, Carlos "KIKOOOO" Segal, ou apenas KIKO, foi mais um jogador que fez parte da criação da MIBR. Contudo, com uma carreira mais sólida que o ex-colega de equipe, Carlos Segal conseguiu ir ainda mais longe e fez parte da line-up campeã da ESWC 2006, considerado por muitos como o Major de Counter Strike na época.
O título foi conquistado ao lado de figuras que são conhecidas no cenário até os dias de hoje, como Bruno "ellllll" Ono (atual técnico da paiN Gaming), Renato "nak" Nakano, Lincoln "fnx" Lau e Raphael "cogu" Camargo.
fnx, KIKOOOO, nak, cogu e ellllll na ESWC | Foto: Reprodução/HLTV
As estatísticas de KIKO se perdem no meio de uma história tão longa no Counter Strike. Apesar de ter aparecido para o mundo pela G3X e MIBR, Carlos Segal contou com passagens rápidas por outros times do cenário brasileiro em 2001, como Playnet Y e Monkey. Entretanto, foi pela equipe de Alexandre "gaules" Borba que começou a mostrar o perfil de vencedor.
Disputou o primeiro campeonato pela organização em setembro de 2001, a Tilt Total CPL Latin America. Apesar de não chegar perto do título, ficando em 12º lugar, o time de KIKO não demorou para escalar até topo do pódio. Apenas dois meses depois conquistou o troféu da World Cyber Games Brasil 2001. Esse seria o primeiro de outros quatro torneios que Carlos Segal conquistaria pela G3X.
No último ano pela equipe de gaules, em 2002, que KIKO conquistaria dois títulos e dois primeiro lugar em classificatórios em sete competições disputadas. Nesse ano ele ganhou o Campeonato de Counter Strike E-Games: Vila Mariana e o 1º Campeonato Inter-Estadual do Arena Jogos. Por fim, ficou em primeiro lugar nas seletivas 2002 CPL Summer (Brazil Divisional Monkey Event) e 2002 CPL Summer (Brazil Regional Event).
A excelente atuação na maioria deles seria o suficiente para chamar a atenção da Arena DBA, que iria se tornar MIBR alguns meses depois.
INDAS E VINDAS DA MIBR
Apesar de vitorioso pela Made in Brazil, KIKO não teve uma única passagem pela organização. Quando chegou na equipe, em 2004, viveu o período mais curto na equipe. Depois de vestir a camisa da MIBR pela primeira vez ele ainda passou pela Global Challengers, LadieS e G3X. Foi só então, em 2005, que ele voltou a atuar por um dos principais times do Brasil.
Antes de interromper a trajetória na MIBR pelo curto período de tempo, KIKO ainda conseguiu quase o dobro de títulos que havia conquistado no ano anterior pelo time de gaules. Foram quatro vezes no lugar mais alto do pódio em 13 competições disputadas. No primeiro ano como jogador da Made in Brazil venceu a LatinCup 2003, 1º Campeonato Inter Adrenalines, ESWC Brazil 2003 e a World Cyber Games Brasil 2003. Além dos títulos, ele também garantiu a primeira posição em outros três classificatórios.
Cerca de cinco meses longe do time, no entanto, não foram o suficiente para atrapalhar a carreira de Carlos Segal. Isso porque logo na primeira competição após voltar para a MIBR, KIKO já conseguiu conquistar mais um título para colecionar na carreira. A Cyber X Games seria apenas o primeiro dos que estariam por vir em 2004.
Nesse mesmo ano o jogador ainda venceu mais dois campeonatos, sendo a ESWC Brazil 2004 contra a G3X. Por fim, fechou o ano vencendo a World Cyber Games Brasil 2004 em cima da Global Challengers. O ano seguinte foi o mais fraco para a MIBR, onde a equipe venceu apenas a 2005 CPL Brazil. Entretanto, não seria nem sombra do ano praticamente perfeito que a line-up teria em seguida.
TÍTULO MUNDIAL EM UM ANO BRILHANTE
KIKO e companhia comemoram título da ESWC 2006 | Foto: Divulgação/ESWC
Se há pouco mais de três anos os torcedores acompanharam FalleN liderar a SK Gaming na conquista de sete títulos, os fãs mais saudosistas vão se lembrar do brilhante ano de 2006 da Made in Brazil. Dentre os seis campeonatos vencidos, o troféu conquistado em julho daquele ano foi um dos mais importantes do Counter Strike brasileiro.
Antes disso, no entanto, o grupo já vinha fazendo um ano incrível. Dos cinco torneios disputados até então, a MIBR havia sido campeã em dois deles, a Adrenaline CUP e Brazil CUP 2006, além de vencer o showmatch V-Sports All Star Game 2006, e ficar em primeiro no classificatório para a ESWC. Apesar de ter vencido o mundial, a line-up não colocou o pé no freio e ainda trouxe mais títulos para casa, como o WSVG Brasil Invitational, World Cyber Games Brasil 2006 e a WCG Pan-American Championship. Contudo, nenhum deles chega aos pés da importância do troféu conquistado na ESWC, disputado em Paris.
O jogo único contra a fnatic pela ESWC iria decidir nada mais, nada menos, do que o título mundial do CS 1.6. Ao lado de KIKO, ellllll, nak, fnx e cogu lideraram o time até o lugar mais alto do pódio. A preparação para o evento foi feita na Europa. Um boot camp realizado na Inferno Online, famosa lan house na Suécia, deu ao grupo a impressão de que ele poderiam sonhar alto com a competição.
Apesar da semifinal dura contra a ALTERNATE aTTax, vencida na prorrogação por 19 a 16, o duelo final contra a fnatic na Inferno foi um pouco mais tranquilo para a line-up, que venceu a equipe de Patrik "f0rest" Lindberg por 16 a 6. No entanto, além do título, duas jogadas realizadas durante a partida ficaram marcadas na história.
X1 CONTRA F0REST
O jogo entre MIBR e fnatic rendeu duas jogadas históricas para o Counter Strike. Uma delas é o nome de uma posição no mapa até hoje. Chamado carinhosamente de Cogu, o lance aconteceu logo no primeiro ponto da grande final. Entretanto, essa é uma história apenas para o próximo Por onde anda.
Sobre KIKO, o x1 contra f0rest que ficou tão famoso aconteceu justamente na sequência dessa jogada do Cogu. Na ocasião, o atual jogador da Ninjas in Pyjamas já havia feito três abates e se encontrava em uma posição de 1v1 contra o jogador brasileiro na Inferno.
É nesse momento que o jogador da fnatic opta por se esconder na tripla do Bomb B e aguardar a movimentação de KIKO sem ao menos plantar a bomba. Com tempo no relógio, f0rest quis esperar a passagem do jogador brasileiro na tentativa de retake. Contudo, o suéco não poderia imaginar que Carlos Segal venceria o round ao acertar uma HE no rival ao tentar tirá-lo de posição.
POR ONDE ANDA?
KIKOOOO em 2019 durante o Encontro das Lendas em São Paulo | Foto: Lucas Spricigo/DRAFT5
Desde o primeiro contato com Carlos Henrique Segal, o DRAFT5 parou no tempo apertado do ex-jogador de Counter-Strike. Médico, KIKO demorava a entrar em contato em função dos estudos e de uma prova para o qual estava se preparando. Entretanto, ao responder a equipe para a produção dessa reportagem, Carlos Segal chegou com a notícia em primeira mão que havia passado em primeiro lugar para ser residente de anestesiologia em uma clínica em Ribeirão Preto, em São Paulo.
A paixão pela medicina, de acordo com ele, era algo que andava lado a lado mesmo nos tempos de CS. O ex-jogador afirma que sempre soube que queria seguir a profissão, mesmo que precisasse abrir mão do jogo da Valve para isso. Assim, foi aos 24 anos que ele tomou a decisão de seguir o sonho de infância, mas sem nenhum arrependimento sequer por ter largado o jogo que o lançou para o mundo e que faz com que ele seja reconhecido até hoje pela comunidade.
"Eu sempre soube que o dia iria chegar. Sempre quis ser médico e o tempo estava passando. A decisão de parar foi por causa do meu sonho em relação à medicina. Muita gente me pergunta se eu me arrependo de jogar, porém não me arrependo das minhas decisões. Acho que fiz a coisa certa. Hoje sou feliz e realizado dentro da medicina e fico feliz por ter sido o "pioneiro" nas conquistas brasileiras junto com os meus amigos", revela Carlos Segal.
Se o médico não se arrepende da decisão de largar o jogo, por outro lado revela certo arrependimento em decisões que teve que tomar como capitão da equipe. Segundo ele, o principal é "se arrepender de ter tirado alguns jogadores do time". Mas apesar disso, revela que "infelizmente o capitão também tem que tomar decisões difíceis".
Mesmo sendo apenas um jogo, KIKO ressalta da importância do Counter-Strike na vida pessoal e profissional. Capitão do time campeão do mundo em 2006, ele diz que tudo que passou de experiência virou aprendizado. Entre eles, o "CS ensinou o trabalhar em equipe, ser calmo e confiante, algo que precisa no dia a dia". E foi exatamente com calma e confiança que Carlos Segal chegou onde chegou no cenário competitivo.
"Acho que fui um jogador excelente. Não em mira, mas em tática e malandragem, como saber a hora de entrar nos lugares e pegar jogadores de lado ou de costas. Sempre fui da filosofia que nem tudo no CS é mira. Como eu era um jogador conservador e não gostava de arriscar, acabava passando isso para o time, essa filosofia. O único que tinha um pouco mais de liberdade era o Cogu, mas as vezes eu tinha que dar uma controlada nele porque ele se empolgava e acabava morrendo", relembra.
Com uma vida profissional tão próspera quanto a de jogar de Counter-Strike, Carlos revela todos os frutos que já colheu desde a decisão de abandonar o jogo. Por fim, afirma que ainda há uma longa trajetória pela frente, principalmente após passar na residência.
"Sou médico há quatro anos e atualmente trabalho em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Decidi começar a estudar novamente para prestar residência em anestesiologia. Serão mais três longos anos dedicados apenas nesta área. Sempre fui focado no que eu quero e, desde sempre, já deixava claro nas entrevistas a vontade de ser médico".
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