No ano de maior pluralidade de nacionalidades na lista de Melhores no Brasil da DRAFT5, Luciano "luchov" Herrera foi um dos principais e fica entre os três melhores do continente no ano. O argentino de 22 anos foi o grande jogador da BESTIA em termos estatísticos e fundamental para o ano recheado de conquistas da organização.
O que era tratado como um hobbie, se tornou a profissão de Luchov a partir da pandemia de Covid 19. Assim como o companheiro Martín "tomaszin" Corna, Luchov teve grande passagem pelo Boca Juniors antes de entrar na escalação da Isurus, que posteriormente virou BESTIA.
Luciano Valentin Herrera nasceu em maio de 2001, em Olavarria, cidade na Argentina com mais de 110 mil habitantes. O primeiro contato com um jogo eletrônico foi com a mãe através de um videogame da Sega, mas "o jogo que mais me marcou na infância foi o GTA San Andreas". O contato com o Counter-Strike aconteceu só mais tarde e foi no 1.6.
"Eu tinha escutado por meio de galera e quando chegou a hora de eu ter meu PC, a primeira coisa que fiz foi baixar o 1.6, mas passou um tempo pra eu saber como jogar online, só jogava com bots."
Luchov tem Gabriel "FalleN" Toledo e Håvard "rain" Nygaard como ídolos, mas o desejo de se tornar profissional aconteceu em 2019/2020, antes o FPS da Valve era tratado apenas como um hoobie pelo jovem.
"Eu comecei a ver partidas do cenário local e saber mais, conhecendo galera e pegando mais informação sobre quem vivia do CS. Foi isso que despertou minha vontade de virar profissional, até então jogava outros jogos além do CS, como Rocket League, Call of Duty e League of Legends."
Em meio a tudo isso, Luchov também chegou a cursar um ano de faculdade logo após encerrar o colégio, em um curso de entrada para todas as carreiras, mas acabou trancando. "Estava acostumado ao nível da escola, que na argentina é muito baixa em comparação ao começo das faculdades, então precisa estar pronto".
Em 2019, Luchov chegou a jogar em um mix de amigos da escola, mas foi em 2020 que o sonho começou a se tornar realidade. O jogador foi chamado para a Undead Gaming e que dividir a rotina de treinos com o trabalho até o momento que não era mais possível.
"Em 2020, chegou o contato para eu jogar com o time que fez o possível para eu estar aqui hoje, foi sheep, limi7, complot e fuelent (Undead Gaming). Eu tinha começado a trabalhar fazia seis meses, começava as 7h da manhã e saia 3h da tarde. No primeiro mês de treino, que foi abril de 2020, chegava do trabalho as 3h15 e as 4h da tarde já treinávamos até as 10h, às vezes até mais. Ficava cansado demais, tomei a decisão de deixar de trabalhar pra focar no jogo e também pra ficar em casa na pandemia, porque eu morava com minha vó."
No fim de 2020, Luchov saiu da UD e foi para a New Pampas, onde recebeu o primeiro salário como jogador de Counter-Strike. A estadia foi pequena, pois em março a organização "desapareceu" e o jogador passou três meses sem time, jogando por diferentes tags até a transferência para o Boca Juniors, em junho.
"KUN entrou em contato pra jogar com eles, não tinham certeza de que ia ser BOCA, pois eles tinham apresentado o time novo fazia pouco tempo. Então eu apostei neles ser tem org, por sorte ele começou a falar com o manager e conseguimos entrar lá, acho que foram um ou dois messes esperando."
Foi no clube xeneize que Luchov passou o maior tempo em uma organização. Durante mais de um ano, o jogador conquistou títulos de menor expressão, conseguiu classificações para importantes eventos na América do Sul e adquiriu experiência que seria fundamental para o atual momento da vida.
"Foi o período onde aprendi muitas coisas do CS e também de disciplina, passaram muitos jogadores do começo ao fim que me ensinaram muito, joguei minhas primeiras LANS, bootcamps e contra grandes equipes do cenário, tendo um bom desempenho individual e coletivo. Ficamos fora do RMR, doeu muito, principalmente depois de ganhar o primeiro mapa do decider. Eu quero agradecer ao hellpa, que foi nosso coach durante uma época do BOCA e me ajudou muito. É um amigo pra mim."
No começo do segundo semestre de 2022, Luchov recebeu o convite para jogar na Isurus. A decisão de mudar de equipe não foi difícil, porque sonhava em jogar com atletas que estavam lá, mas a transição não foi fácil.
"Foi tudo muito rápido, eu tava no escritório do BOCA, chegou a proposta, aceitei e, no outro dia, tava voltando para minha casa, pegar mais coisas pra ir no gaming house da Isurus, faltando semanas pra primeiro open do RMR. Começamos a treinar todos os dias, eu não estava acostumado com esse ritmo de treino, nem de jogo, eu estava aprendendo o dia inteiro, eu sentia a pressão de ter que jogar bem todos os jogos e mostrar que me chamarem foi a decisão correta. Isso me atrapalhou um pouco na época."
A Isurus conquistou a vaga para disputar o RMR do IEM Rio Major 2022 e teve uma campanha honesta, com duas vitórias e três derrotas. Porém, o pós-RMR foi ruim, apesar do título da Aorus League 2022 Season 3, foi de altos e baixos "por inexperiência e pouco tempo de trabalho".
A base do elenco permaneceu para 2023, mas logo nos primeiros meses receberam a notícia de que a Isurus havia optado por interromper os investimentos na modalidade.
"A decisão pegou todos de surpresa, especialmente para os caras do time que estavam na Isurus fazia três, quatro, cinco anos na organização. Começamos a falar o que íamos fazer no começo do 2023, mas rapidamente já tínhamos propostas e a Isurus foi bastante flexível."
Não demorou muito para os jogadores acharem uma nova casa e a BESTIA foi a organização escolhida. De acordo com Luchov, quando saíram da Isurus já tinham um negócio mais ou menos encaminhado com o clube e sequer pensaram em se separar, pois seria "a pior decisão que qualquer um de nós podia tomar".
A escolha se provou ser certa, a equipe deslanchou na nova organização, conseguiu classificar para o RMR do BLAST.tv Paris Major 2023 e conquistou diversos títulos no cenário sul-americano, como duas edições do CBCS, CCT, 1XPLORE LATAM e mais.
"O principal fator foi a constância no trabalho e confiança que tivemos em nós, sabendo que nosso trabalho era bom. As participações do coach e analista também foram muito importante para sermos o time que fomos."
Assim como o companheiro Martín "tomaszin" Corna, o classificatório para a ESL Challenger Atlanta foi um dos objetivos mais comemorados pelos hermanos, porém Luchov também destacou mais o CBCS Season 2. A equipe argentina começou a decisão perdendo por 37 a 34 na Nuke, mas conseguiu ter a raça necessária para virar o confronto.
"Eu acho que evoluiu (o nível dos torneios da América do Sul), mas ainda falta muito pra consolidar, mais times indo fora, ultimamente são sempre os mesmos que estão competindo la fora. Acho o CCT um grande campeonato pra proporcionar visualização ao nosso CS, porque os times que foram (Global/Online Finals) fizeram um bom desempenho."
No fantástico da Bestia, Luchov teve uma grande participação para os resultados positivos. Ele teve 3 C Points (#7), vezes em que o jogador foi campeão de um torneio no qual apareceu entre os melhores jogadores, e 272 D5 Points (#1), pontuação baseada em MVP/EVPs, sendo que cada campeonato possui um peso diferente do outro.
Vale destacar que Luchov foi o jogador que somou a maior pontuação no D5 Points, mas perdeu no C Points para os dois primeiros colocados. Em termos estatísticos, Luchov teve um grande desempenho no ADR (#4), dando 81,7 de dano médio por round, além de 1.15 de rating 2.0 (#11) e 72,30% no KAST (#11).
"Nesse ano meu maior aprendizado foi ver o que eu realmente sou capaz de fazer no jogo com esses companheiros do meu lado. Em 2024, eu espero consolidar a BESTIA para que seja no mínimo no top 20."
ARTE
Os melhores eventos de Luchov com a camisa da BESTIA foram a FiReLEAGUE Argentina 2023, CBCS 2023 Season 2 e a seletiva sul-americana da ESL Challenger Atlanta 2023. Nas três ocasiões, o atleta de 22 anos ficou com o EVP1, logo atrás do MVP do evento.
A BESTIA já está classificada para o classificatório fechado do RMR Américas para o PGL CS2 Major Copenhagen 2024 e ganhou tempo a mais de preparação. Com a temporada recente, as expectativas em cima da BESTIA cresceram e dos próprios jogadores também, que acreditam na classificação para o Major.
"Temos que melhorar nossa capacidade de interpretar realmente o CS que jogamos, todos os rounds. Todo round tem algo mais pra fazer, pra trazer a ventagem ou aproveitar se já temos. Somos uma equipe muito inteligente, mas quando não estamos numa boa fase, perdemos. Entao não pode depender disso. O major nao vai vir sozinho, temos que deixar mais que o 100% de cada um e pensar todos os dias realmente o que significa para nós. Trabalhar focado nisso."
Por fim, a pedido da reportagem, Luchov aposta em Maximiliano "MaxOff" Elefanté, jogador de 19 anos da 9z Academy, como um possível atleta a despontar em 2024.