Originário no hebraico, o nome João, um dos mais populares em todo mundo desde a Antiguidade, tem como principal significado aquele que é "agraciado por Deus", que recebe sua graça. Certamente, a história de João "naitte" Maia para chegar até os 20 melhores do Brasil passa por muita dificuldade e nunca deixar de acreditar.
Nascido em Recife, capital de Pernambuco, no dia 5 de novembro de 1997, o jogador superou todos os problemas que a maioria dos jovens nordestinos precisam passar para realizar o sonho de se tornar profissional de Counter-Strike. Conheça a história do 9º melhor jogador do Brasil em 2022.
Tendo a sorte de poder aproveitar das lan houses ainda quando criança, naitte teve seu primeiro contato com os jogos no próprio Counter-Strike. "Comecei a jogar o CS 1.6 quando era criança, por volta de 2009, foi meu primeiro contato com jogos. Jogava nas lan houses, só por diversão."
Com o passar do tempo, o cenário competitivo foi apresentado ao jogador, que começou a assistir os torneios. "Eu era muito novo e não conhecia nada sobre o competitivo, o tempo passou e eu descobri os campeonatos, comecei acompanhar e curtia assistir os torneios de 1.6 na época".
Vendo o lançamento da última versão disponibilizada pela Valve para a franquia de jogos, naitte admite que começou a sentir vontade de competir, mas que achava o jogo ruim. "O desejo de competir surgiu, mas o jogo era muito ruim no começo. Com o passar do tempo, o jogo foi melhorando, então segui acompanhando os profissionais. Na época, eu curtia muito Dota2 também. Sempre fui uma pessoa que gostava de assistir os campeonatos".
Junto da melhora do jogo, outro fator determinante para a entrada no competitivo foram os tempos áureos vividos por Luminosity e SK Gaming. "Quando o cenário competitivo foi evoluindo, acendeu uma chama dentro de mim querendo competir. Quando eu vi a era LG e SK, não teve como, essa chama aumentou mais ainda".
Ainda quando jovem, o jogador precisava definir seu nickname nos jogos online. Inicialmente, a escolha do atleta não era exatamente essa, mas acabou adaptando para seu nome atual por conta dos amigos que jogavam com ele.
"Quando eu tinha por volta dos 12 anos, mais ou menos, decidi que o nick seria 'Night'. Mas as pessoas sempre acabavam escrevendo errado de propósito, me chamavam de 'nigh', de 'naite' e de 'naitt', então eu resolvi botar NAITTE e assim ficou".
Após alguns mix com amigos, levados apenas na brincadeira, naitte teve a primeira oportunidade de fazer parte de uma equipe profissional, intitulada de Dreamworse. Por lá, o jogador também disputou sua primeira LAN.
"Foi meu 'start' no profissional. Na Dreamworse tínhamos rotina de treino, porém bem dificultada devido ao trabalho e faculdade do pessoal. Com eles joguei meu primeiro presencial, o PowerLounge organizado pelo Apokao".
Nessa época, um monitor de 15 polegadas e 75hz era a única opção que o jogador possuía naquele momento, algo que muitos até desacreditavam. "Quando comecei minha carreira, eu jogava em um monitor de 15 polegadas com 75hz. Ninguém acreditava, a maioria das pessoas já jogavam com 120/144hz. E eu fui pra LAN, sem nunca ter jogado em um desse".
"Após esse torneio, quando voltei pra casa, além de sempre ter sido muito difícil jogar com 70-80 de ping, agora tinha o problema de jogar em um monitor 75hz. Fiquei muito desanimado nessa época. Não sabia como era bom jogar em um monitor tão superior e lembro que pensei até em parar de jogar".
Um mês depois, o na época jovem jogador passaria por um dos momentos mais marcantes de sua curta carreira como jogador. "Passou um mês, meu pai me presenteou com o monitor 144hz, não tínhamos economia em casa pra isso, lembro que ele tinha tirado um dinheiro que nem podia, para não me deixar desistir. Isso me manteve cada vez mais motivado para seguir em frente".
Logo após o momento emblemático vivenciado com seu pai, naitte volta a vivenciar a dura realidade de quem está no começo da caminhada no Counter-Strike nacional, a dificuldade em formar projetos sólidos e duradouros.
Após três organizações sem muito destaque, surge a oportunidade de ingressar na 2K Team, projeto criado pelo streamer Sérvulo "Sheviii2k" Júnior; entretanto, a organização seria desmanchada pouco após o anuncio oficial da line-up.
"No papel, o projeto era muito bom. O shevii estava estourado na época, com muito viewer e consequentemente chamava muita atenção. Porém, infelizmente calhou com o banimento dele na Twitch, o que impossibilitou o futuro da equipe. Chegamos a ganhar alguns campeonatos no Nordeste, mas não teve prosseguimento".
Logo após a descontinuação do projeto, naitte manteve a base do elenco com seus companheiros Francisco “mcl” Valentim e Lucas “skip” Santiago, com o trio rumando para o Sport. "Representar o Sport Clube do Recife, meu time de futebol do coração, foi um verdadeiro sonho. Era um bom time, mas sem muita experiência. Ainda sim, evoluímos bastante".
Todavia, o atleta volto a vivenciar os problemas vividos em organizações passadas. "Assim como em equipes antigas, nossa rotina ainda não era o ideal para alcançar os melhores times, que já possuiam uma rotina profissional".
Frustrado com o não andamento de diversos projetos em sequência e logo após a saída do Sport, o jogador decide pausar sua carreira. "Era frustrante não conseguir me dedicar como os outros se dedicavam. Tinha muito problema de internet, além da faculdade e o estágio, que impossibilitava de competir integralmente. Lembro que na época recusei vários projetos, sempre com a dúvida do que se fazer".
Na época, VALORANT acabara de ter sido lançado. Com a incerteza no CS:GO, o jogador deu uma chance ao FPS da Riot Games, com seus antigos companheiros de equipe skip e John "lineko" Lineck. "Montamos um time lá, treinavamos bem, mas não sentíamos o 'tesão' que o Counter-Strike nos proporcionava. Lembro que a gente sempre falava: Caramba, esse jogo não acelera o coração igual o CS faz com a gente".
Com a vontade de retornar aos velhos tempos, uma mensagem de Mateus "supLex" Miranda fez tudo voltar como antes. "Ele me mandou mensagem, dizendo que queria voltar aos velhos tempos e junto com nosso antigo time, foi quando surgiu a oportunidade de representar outro clube de futebol, o Ceará".
Com o projeto em mãos, uma única pedra no sapato continuava rondando a equipe. O problema com Internet e a conexão no Nordeste. "Éramos cinco jogadores do Nordeste, cada dia um tinha problema que impossibilitava a gente treinar e disputar campeonatos em alta performance. Acabava frustrando muito a gente".
Pouco tempo se passa e mais um problema vem a tona: o treinador da equipe, Lucas "luuq" Cavalcanti, deixou o comando técnico da organização. Foi quando surge a oportunidade de contar com o jovem Murilo "Miolo" Bardi.
"Miolo não tinha experiência como coach, mas tinha o desejo de ser e nós demos a oportunidade. No começo, ele percebeu que tínhamos muito problema com internet e então ele teve a brilhante ideia de chamar cinco pessoas que nunca tinha visto para casa dele".
Sem dinheiro para custear uma mudança repentina, surge a ideia da criação de uma rifa para angariar fundos para a viagem. "Com a força da comunidade, conseguimos arrecadar um valor legal para começar a se movimentar para São Paulo. Obrigado TACO, que comprou o valor máximo das rifas".
Contudo, o valor não era o suficiente para finalizar o resto da temporada na capital paulista. É nesse momento que surgem dois anjos na vida daquele elenco, conforme o próprio naitte descreve o momento. "Foi quando surgiram Ronald e Katiene, pais de supLex, dois anjos na nossa vida. Eles deram o máximo para que pudéssemos continuar em São Paulo. Tudo era muito complicado, afinal era 'nóis por nóis'".
Por motivos maiores, mcl não conseguiu viajar com a equipe, que decidiu pela contratação de João "koala" Pedro. "Em um projeto tão sofrido, conseguimos resultados muito bons, no fim do ano ganhamos uma LAN da SWS no Paraguai, time que era nossa Criptonita".
Depois de não renovarem o contrato com o Ceará, um velho convite de Victor "remix" Monteiro bate a porta. "Lembro que o remix já tinha me chamado algumas vezes para jogar com ele. Mas sempre eu tinha uma 'desculpa'. Só tenho agradecer por ele nunca ter desistido de me chamar".
"Quando veio a proposta, para mim era muito interessante. Eu ia jogar ao lado de três caras que eu sempre perdia (ricioli, remix e skullz), e eram jogadores que eu via muito talento. No começo, confesso que tinha um pé atrás com o vLa, pelo fato de termos uma rivalidade em jogo. Mas quando joguei com ele, vi que era somente isso, apenas uma rivalidade online. Logo no começo, já me senti abraçado por todo time de tal forma, que me fez lembrar os velhos tempos".
Os treinos começam, a line encaixava e tudo corria bem. Entretanto, nem tudo havia de ser um mar de rosas no começo da temporada. "Fomos jogar um qualify, o qual não me recordo, e tomamos um 16x0. Nesse dia, surgiu a dúvida na minha cabeça, se eu estava fazendo a coisa certa. Não fazia sentido tomar um atropelo do jeito que aconteceu. Porém, com muito psicológico e pé no chão seguimos."
O resultado se provou logo em sequência, com naitte e seus companheiros dominando boa parte do cenário nacional no primeiro semestre. Campeões do CBCS Retake Series 2022, classificação para a Aorus League e para as finais em LAN do CBCS Elite League.
Com essa classificação, surge a mudança para a ODDIK no meio da temporada. "Nosso projeto desde o começo, era evoluir como time e achar uma casa com grandes planos. Sabíamos do nosso potencial e do futuro que nos espera. Não estávamos aceitando qualquer proposta".
"Foi ai que veio o Vicenzzo e nos apresentou a ODDIK. No começo, não conhecíamos muito, afinal era uma organização que só atuava no VALORANT, porém tínhamos muita confiança nele, pelo fato de ser um cara muito bom no que faz. Confesso que não poderíamos ter feito escolha melhor, vocês ainda vão ouvir falar muito dessa organização".
Em um segundo semestre vivenciado em uma verdadeira montanha russa de emoções, naitte foi campeão presencial do MEG 2022 e do CLUTCH SEASON 4, torneios que ele descreve como "experiências incríveis".
Entretanto, alguns vice-campeonatos estragaram o possível fechamento com chave de ouro na temporada. "Nessa vida de atleta, aprendi que vamos mais perder do que ganhar. Acabamos perdendo a vaga para o RMR, para ser sincero foi a derrota que mais doeu esse ano.
Na ocasião, uma partida contra a Isurus, no derradeiro mapa da Overpass, colocaria o vencedor na disputa do RMR Americas. "Foi o mais doloroso, não só pelo fato de ser a última chance, e sim pela forma que perdemos. Estávamos perdendo de 14x9 na Overpass e demos um comeback, ficando com o matchpoint. Infelizmente, tomamos um round de forma ridícula e perdemos o jogo no OT. O sonho de estar no Major foi por água abaixo."
Com um fim de temporada um pouco mais melancólico do que o imaginado, a equipe não obteve grandes conquistas no fim do ano. "Após o RMR, jogamos alguns torneios que valiam vaga para fora e não conseguimos conquistar a tão sonhada chance. Além disso, batemos na trave algumas vezes no resto do ano. Tivemos uma criptonita que foi a ARCTIC, sempre souberam jogar muito bem contra a gente."
Durante a temporada, naitte conquistou 122.4 DRAFT5 Points, que é o sistema que soma com pesos diferentes os destaques nos torneios, além de 4 pontos coletivos. No ano, uma classificação de 1.08, 68.7% de KAST e 80.2 de ADR, o sexto maior do Brasil, colocaram o jogador na nona posição.
Ao todo, foram 2 MVPs para o jogador, na Liga Gamers Club Série A de Julho e CLUTCH Season 4. Além disso, outros impressionantes 12 EVPs, incluindo alguns torneios de grande porte como três edições do CBCS, MEG 2022 e a ESL Pro League Conference Season 16: South America
Mirando alçar voos maiores na próxima temporada, naitte espera que 2023 seja o melhor ano de sua carreira, superando a última temporada. "Acredito que 2023 vai ser o melhor ano da minha carreira, tanto no individual, quanto no coletivo. Absorvi bastante experiência nesse ano, que foi o melhor desempenho da minha vida. A tendência é só melhorar".
Otimista, o rifler não esconde que sonha em jogar nos palcos do mundo a fora e o objetivo de sua equipe é dominar o Brasil. "Acredito que a meta da ODDIK para a próxima temporada é dominar o Brasil, e com certeza buscar aquela vaga internacional, que todo time sonha em jogar. E lógico, representar bem o 'Brasa', né".
Buscando evolução constante, o jogador traça como objetivos pessoais ser ainda mais eficiente em suas jogadas agressivas, assim como saber dosar o uso delas. "Meu foco atualmente é ser mais constante nas minhas jogadas agressivas, sabendo o momento certo de usa-las".
Questionado sobre quem deve ser o melhor jogador do Brasil, o jogador foi mais um a elencar Lucas "Lucaozy" Neves como o franco favorito para levar o título. "Acredito que será o Lucaozy. Sem dúvida nenhuma, ele atualmente é melhor jogador que temos atuando no Brasil. Vive uma boa fase há muito tempo, e essa constância é o que me faz pensar que ele deve ser o top 1".
Visando o futuro, o rifler colocou Nicolas "r1see" Kubitza como a grande promessa da próxima temporada, mas também deixou a moral para outros jovens. "Ele é um menino extremamente dedicado e muito talentoso. Outros jovens que tenho acompanhado e que vejo muito talento são o, "rdnzao", "snowzin", "happ", "n9xt" e o "xrb"".