A família forma as melhores e as piores coisas de um ser humano, é impossível distinguir nós de nossas famílias. Pontos positivos, negativos, vícios bons ou ruins, os hábitos familiares formam e interagem com você por toda sua vida.
Para Adriano Cerato e grande parte dos jogadores de Counter-Strike do Brasil, não foi diferente. Os pais impactaram positivamente em quem ele é hoje em dia. Logo no começo da infância com o pai jogando Super Nintendo com Adriano e introduzindo o, agora profissional de Counter-Strike, aos jogos.
O pai também foi responsável pela identidade de Adriano, se hoje chamamos de WOOD é pelo motivo das incessantes tardes assistindo Pica-Pau (do inglês Woody Woodpecker) ao lado do filho.
Gaúcho de Frederico Westphalen, Adriano Cerato pode muitas vezes ter seu nome relacionado aos irmãos Kaike "KSCERATO" Cerato e Kauan “kNc” Cerato, mas se engana quem pensa haver uma relação familiar entre os três, com apenas a coincidência do sobrenome. Sim, a DRAFT5 sabe que acabou de desmistificar um meme do cenário, WOOD7 e os irmãos Cerato, não são primos.
Em 2016, enquanto cursava Engenharia Civil, acompanhava todas as partidas da Luminosity/SK de Gabriel “FalleN” e companhia, aquilo chamou atenção de WOOD, que resolveu se aventurar.
O começo no Counter-Strike foi ainda em 2016, tendo sua estreia marcada na Liga Amadora da Gamers Club de julho. O primeiro registro do jogador em torneios maiores viria no ano seguinte, com atuações na Liga Pro. O debute em lan aconteceu em Chapecó, no oeste catarinense, mas como todo começo difícil, a premiação não pagava nem mesmo o transporte até a cidade.
Em dezembro daquele ano chegou em uma final presencial de um torneio de maior projeção, a Pichau Masters Invitational em Joinville, mas acabou perdendo para a N0w4y de ninguém menos que Andrei “arT” Piovezan e Eduardo "dumau" Wolkmer.
O vice em Santa Catarina foi uma virada de chave na carreira de WOOD7 que viu-se consolidar gradualmente entre as boas equipes do país. Aliás, nessa mesma lan Matheus "Tuurtle" Anhaia, Leonardo "LeoGOD" Silva e Matheus "kurgan" Dantas já estavam na equipe do capitão, e quer mais? Os três participaram do primeiro time de Adriano, ainda em 2016 e alguns deles continuaram a passar pela carreira em 2021, com Tuurtle se mantendo com ele nos tempos de MIBR.
"Sempre achei que com trabalho duro eu podia formar uma base forte que superaria quem estava no topo, por isso eu tentava extrair tudo que fosse possível dos jogadores até que fosse necessário realizar mudanças quando estávamos perto do nosso limite. Todas essas mudanças giravam envolta da mesma base de jogadores que eu já conhecia o perfil e sabia como trabalhar tanto in-game como out-game e que a qualidade de um jogador suprisse o defeito de outro", disse WOOD.
Manter a base está entreposto na índole do líder WOOD7. Em janeiro de 2018 a equipe foi contrata pela C4 Gaming, projeto de Eduardo Pereira, hoje CEO da DETONA e Felipe Chivitz, agora player manager da FURIA. O ambicioso clube se mostrou muito importante para a alavancagem da carreira de WOOD7, kurgan e Tuurtle, mas acabou durando até junho daquele ano, na bagagem nenhuma grande conquista, um vice de Liga Pro para a FURIA e muita experiência em alto nível local.
Porém, o que parecia um sonho virou pesadelo.
Sem o apoio de uma organização, Adriano recuaria perante seu sonho, teria de conciliar os estudos, trabalho e treinos na madrugada. Afinal, o cenário já era de certa forma precário com poucas grandes organizações, sem um clube então era quase impossível.
Mas a vida ainda reservaria mais coisas ao capita, em 2018 a Gamers Club anunciou a primeira Masters totalmente regional. Os times se classificavam localmente para uma disputa online com o país todo, para aí sim, decidirem as vagas para o torneio em Sorocaba. WOOD7 e kurgan aproveitaram a chance e montaram um mix para a competição, acabou dando certo e foram ao evento mais prestigiado do segundo semestre de 2018.
Mesmo não tendo resultados positivos, a classificação e a exibição para todo o país, mostrou novamente para Adriano, que a carreira não precisava parar por aí. Naquele momento, nos bastidores, a impressão era de que WOOD era um jogador muito dedicado que, assim como boa parte do cenário, não havia recebido uma grande oportunidade.
A “guinada” que a GC Masters trouxe, levou o jogador a fundar uma das tags mais icônica do CS:GO brasileiro, a graciosa Turma do Pagode. Ainda nos meses derradeiros daquele 2018, conseguiram o grande resultado de chegar as semifinais da Brasil Premier League S7. Naquele momento, além de kurgan, leogod havia se retornado ao time.
A Turma do Pagode impressionou tanto que foi contratada pela RED Canids em 2019, seria a grande chance de WOOD trabalhar com mais tranquilidade e apostar forte na carreira.
"Em 2018 me formei em Engenharia Civil, mas continuava trabalhando dois turnos. Somente no segundo semestre de 2019 quando passamos a disputar com a tag RUFUS (Red Canids) eu larguei o trabalho e comecei treinar durante o dia inteiro, acredito que a partir dai foi a grande virada de chave na minha carreira", afirma o capitão.
Com a RED os bons resultados continuaram, a equipe chegou a finais de etapas da Liga Pro, classificatórios e outros torneios menores, se mantendo entre as melhores do Brasil. Neste momento, sem tuurtle e kurgan, WOOD apostou em Matheus "pesadelo" Panisset e Gabriel "nython" Lino, o último um completo desconhecido naquele momento.
Porém, no segundo semestre daquele ano a RED apostou em outra aventura. Contratou Bruno “latto” Rebelatto, Lincoln “fnx” Lau, Renato “nak” Nakano, além de pesadelo e nython para uma espécie de time principal. WOOD7? Ficou como Team Rufus, o time B. Era o momento então de trazer kurgan novamente e apostar em Lucas “lealziNho” Leal.
Por mais que “ficar no time B” poderia trazer antigas dores e preocupações, WOOD e sua equipe não abaixaram a cabeça. Desistir jamais, havia algo que fazia aquela equipe ter um je ne sais quoi, algo diferente que manteve a moral lá em cima. O resultado? GC Masters IV e vitória em Maresias, contra a RED Canids, eliminando os badalados companheiros de organização.
2020 chegou e nasceria então a Bravos, recém-fundada organização que abraçou o projeto da Rufus.
Um ano repleto de incertezas perante a pandemia fez com que o cenário começasse na marcha lenta. A Bravos jogou pouco durante quase todo o 2020. Entre os destaques do primeiro semestre daquele ano, ficou a vaga na GC Masters V. Porém, em ambos os Majors brasileiros e nas duas edições do CLUTCH, a Bravos só se manteve, teve bons resultados, mas precisava de mais.
No início de novembro, WOOD participou da sexta edição do OVERTIME da DRAFT5. Na ocasião, nos bastidores, após o programa o capitão revelou um desejo profundo de contar com Jhonatan "JOTA" Willian. Até aquele momento o jogador não havia tido destaque nas suas passagens por grandes equipes, como a Vivo.Keyd.
No auge do estranhamento por parte de nós, meros jornalistas, ninguém entendeu muito bem qual era o motivo por trás do desejo do jogador. Segundo WOOD, seria o nome certo para subir o degrau da equipe.
"Eu nunca tive contato com o JOTA, a gente se enfrentou por dois e anos, era só isso. No fim da temporada de 2020 eu joguei um pug com ele por acaso, em 10 minutos de partida eu tinha certeza que ele era exatamente a peça que o nosso time precisava. Tem pessoas no jogo que conseguem simplesmente fazer todas as funções, comunicar bem e ter impacto em todos os tipos de round, além desses pontos ele já estava a 2 anos no nosso cenário, então ele já possuía a experiência necessária, a única questão era o out-game e quando eu conversei com ele, ele se mostrou ser uma pessoa com muita vontade de vencer, o resto era só encaixar ele nas melhores funções e deixar tudo fluir", conta o capitão.
Não demorou muito até que a Bravos de WOOD trouxe JOTA. O resultado? Instantâneo.
JOTA se tornaria o principal jogador da Bravos durante 2021.
O ano pela Bravos se iniciou com o pensamento de jogar qualquer torneio que pudesse se apresentar. A pandemia ainda assolava o planeta e isso só indicava que seria um ano repleto de torneios online. A primeira conquista veio logo em janeiro no torneio da Kanui. Fevereiro teve o vice da Redragon Summer Finals contra a Imperial.
Ainda no primeiro semestre, a Bravos teria dois vices de RedZone PRO League, o título da Série A de maio e uma boa campanha no CBCS Elite League 1 e outro vice no CBCS Retake Series.
O segundo semestre começaria com outra escolha a dedo: Leonardo "Leomonster" Enrique. O encaixe foi perfeito, se antes a equipe chegava, mas não levava coisas grandes, a partir de julho o patamar mudou completamente. Título da INVie 2021 contra a 9z, vice na vice na Série A de julho e a grande coroação até então, título do CBCS Elite League 2, torneio válido como RMR. Era um passo muito próximo a uma ida ao Major.
O momento de forma continuou, em agosto título da La Liga Season 4: Sur Pro Division - Apertura, logo depois terceiro no CBCS Retake Series 2. Em setembro uma quase ida para a BLAST, batendo na trave da FiReLEAGUE Latin Power Fall 2021 contra a 9z. Após o terceiro lugar na DH Open setembro, era o momento de se preparar para o último passo rumo ao PGL Major: a IEM Fall.
Sendo pegos de surpresa, a Bravos não teria mais chances de classificação por conta de mudança na distribuição de pontos. Mas abaixaram a cabeça? Jamais. Título para coroar um ano de sonhos da Bravos e de WOOD7..
"O ano de 2021 foi muito intenso, vivemos varias montanhas russas, começamos o ano sem férias, por isso estávamos muito bem nos treinos, porém se decepcionamos nas competições, depois tivemos uma pequena evolução e começamos bater na trave em vários campeonatos, isso criou um clima de desconfiança interno. Ignoramos os problemas e continuamos acreditando, depois do primeiro grande campeonato que vencemos o time se soltou e conseguimos fazer 4 meses ótimos e que com certeza se tivéssemos ficado no Brasil teríamos vencido muitos outros títulos até o fim do ano", analisa Adriano.
Após a não classificação para o Major o MIBR promoveria mudanças, resolvendo buscar peças importantes do elenco da Bravos. Além de WOOD7, Tuurtle chegou para fazer parte da equipe.
"O ano foi coroado com a entrada no MIBR, maior organização do Brasil e com o peso de liderar essa equipe gigante sendo capitão, o que pra mim é uma honra muito grande.
Em outubro, novembro e dezembro WOOD viveu o que sonhou durante os últimos anos, viagens para a Europa e uma disputa de BLAST no currículo deixaram o capitão com gostinho de quero mais. O MIBR ainda voltaria ao Brasil para a disputa do CBCS Finals, no qual foi vice para a Sharks. Naquele momento, a grande aposta do capitão também já havia chegado ao MIBR, JOTA estava ao seu lado novamente.
Durante a temporada WOOD somou 109.5 DRAFT5 Points, que é o sistema que soma com pesos diferentes os destaques nos torneios. Foram 2 MVPs para o jogador, na Kanui Invitation e LA Liga Pro Apertura. Além disso, outros incríveis 17 EVPs, incluindo torneios de grande porte como CBCS Elite League, FireLeague Blast, DreamHack 46, IEM Fall e CBCS Finals.
Em estatísticas, o capitão foi o décimo em rating com 1.12 e K/D Ratio com 1.15. Além de ser o nono da listagem em KAST com 72.8%.
"O ano de 2021 foi especial, mas eu acredito ser possível dar muitos passos a frente em 2022", diz WOOD.
O prognóstico para 2022 é novamente ter confiança no trabalho. WOOD viveu o melhor ano da carreira em 2021 e a esperança é que seja um dos nomes reerguendo o MIBR internacionalmente, para o capitão o desejo é certo, mas há de ter paciência para os altos e baixos.
"Quando entrei no MIBR eu falei que era apenas mais um passo na minha carreira, eu almejo levar uma equipe para o Major, passar da fase de grupos, e poder vencer torneios onde tem times tier 1 disputando, e espero conquistar isso nessa equipe fantástica, mas para isso ocorrer nós precisamos começar nossa preparação de verdade, e que todos tenham consciência que vamos viver varias montanhas russas assim como foi na Bravos", avalia o jogador.
O olho do capitão ainda nos deu um vislumbre de um possível destaque em 2022, WOOD7 elencou alguns jovens para se observar durante a temporada e que podem despontar como melhores no Brasil.
"O primeiro é meu ex-companheiro Leomonster, ele tem apenas 18 anos e pra mim é o melhor entryfragger do cenário tranquilamente, o segundo é o brnz4n, trabalhei com ele um pouco na Europa, acho que ele tem uma curva de evolução muito grande pela frente. Por fim um nome que não é tão jovem, mas eu gostaria de dar destaque, é o jogador Naitte, eu nunca tive contato com ele, mas eu vejo que ele é extremamente dedicado no individual e a equipe deles em meio a várias adversidades tiveram bons resultados no fim do ano passado", avalia.
Protagonista de uma das maiores reviravoltas da carreira em meio ao cenário, WOOD7 sonhou, batalhou, foi assolado por dificuldades e quase desistência, mas não deu o braço a torcer até conquistar seus objetivos. Em 2022 os objetivos não são só dele, são de uma nação, de uma torcida imensa, mas pelo menos no que tange a dedicação e trabalho, o MIBR está bem servido de liderança.