Os melhores no Brasil em 2021: (5) – Tuurtle

Tuurtle foi um dos jogadores mais constantes da temporada, somando um MVP e 18 EVPs

por Pietro Santiago / 15 de Jan de 2022 - 18:00 / Capa: Arte/DRAFT5

Matheus "Tuurtle" Anhaia teve um 2021 de transformação no âmbito profissional, começando a temporada na Bravos e terminando no MIBR, tendo a oportunidade de jogar na Europa e América do Norte. A "cria" de um famoso canil, que encantou o Brasil em 2019, cresceu, ganhou novos atributos e mordeu forte em 2021 para se tornar o quinto melhor jogador em território nacional pela DRAFT5.

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Nascido no dia 31 de outubro de 1998, Matheus Anhaia conheceu o mundo dos jogos eletrônicos bem cedo graças aos primos. Os primeiros contatos foram por meio de dois jogos bem distintos: Tíbia, desenvolvido pela CipSoft e lançado em 1995, que se tornou um dos mais famosos e inspiradores RPGs de toda a indústria dos games, além do clássico Counter-Strike 1.6, que marcou uma grande geração de brasileiros.

"Quando era criança, lembro de ter tido contato com os dois jogos na mesma época por conta dos meus primos. Eles sempre jogaram CS 1.6 e me deixavam jogar um pouco."

Naquele tempo, os esportes eletrônicos ainda estavam engatinhando para virar algo mais profissional, então o sonho de ser jogador profissional viria anos depois. O gatilho dos esports para Matheus foi através do League of Legends, MOBA da Riot Games.

"Sempre fui uma pessoa bem competitiva com meus amigos e todo jogo que jogava queria ser sempre o melhor. No CS:GO, não foi diferente. Quando eu vi que tinha talento no jogo, eu sempre botei na minha cabeça que, se eu me dedicasse e desse o meu melhor, eu poderia chegar ao topo."

Assim como todo jogador profissional, o nick é o grande cartão de visitas. No caso de Tuurtle, a escolha foi por causa de uma lembrança do tempo de escola com os amigos.

"É mais uma brincadeira que meus amigos de escola tinham de imitar animais exóticos e o único que eu sabia imitar era uma tartaruga. Dai um dia, quando estava pensando em um nick para jogar CS:GO, eu pensei: Por que não Tuurtle?"

PRIMEIRAS VEZES NO COMPETITIVO

Com o sonho em mente, Tuurtle iniciou a caminhada no competitivo de CS:GO com 19 anos, em 2017, passando por Team Playfive, Gade Gaming e Dai Dai Gaming. Entretanto, a primeira experiência mais profissional foi no ano seguinte pela C4 gaming.

Foto: Stéfanie Neuman/DRAFT5Foto: Stéfanie Neuman/DRAFT5

"Foi o começo de tudo, onde eu pude ter contato com campeonatos profissionais e ter uma rotina de treino", contou o atleta, que passou oito meses na organização, acumulando bons resultados em Ligas mensais da Gamers Club, além de disputar classificatórios para a ESL One: Belo Horizonte 2018 e Americas Minor Championship - London 2018.

Posteriormente, Tuurtle se encaminhou para a No2B e-Sports Clube no começo do segundo semestre, mas ficou cerca de um mês. O motivo é que o jovem atleta foi chamado para a FURIA Academy, time de base da organização.

"Sinto que na época que passei pela FURIA Academy, os times academys ainda estavam em construção, não tinha um projeto definido como é hoje em dia. Mas foi uma época boa de aprendizagem e contato com uma organização grande."

O jogador ingressou na FURIA em novembro e permaneceu até o fim daquela temporada, ajudando na segunda colocação da CGL Copa Ignus e na campanha do terceiro lugar na ESL Brasil Premier League Season 7.

FAZENDO HISTÓRIA COM A DETONA

O ano de 2019 começou diferente para Tuurtle, que acertou a ida para a DETONA, organização recém-criada e que buscava o lugar mais alto do CS:GO nacional. O jogador relembrou o processo de transição até ser efetivado como novo nome do time.

"O Tiburcio (ex-jogador e sócio da DETONA) me chamou e falou que queria conversar comigo, que eles estavam testando jogadores e que queriam me testar. Lembro que naquela semana eu dei o máximo de mim nos treinos porque sabia que era a chance da minha vida de começar a crescer como jogador e profissionalmente."

A DETONA rapidamente ganhou o carinho do público e angariou uma grande torcida naquele ano, que foi mágico para a organização. Os pitbulls faturaram títulos, conseguiram vagas para disputa em torneios internacionais e consagraram-se como a segunda melhor equipe do Brasil.

Foto: Rafael Veiga/DRAFT5Foto: Rafael Veiga/DRAFT5

"Desde o primeiro contato com o time a gente sabia que nós tínhamos de tudo para ser dominante no Brasil, mesmo com a saída do hardzao no começo do time e a entrada do Lucaozy. Sabíamos que nosso time era muito dedicado, chegava a treinar 10 a 12 horas por dia e estávamos muito feliz fazendo aquilo. Aquele time jogava feliz e isso é muito importante para um time profissional."

A DETONA podia ser tranquilamente a melhor equipe de 2019, mas tinha uma grande pedra no caminho. A paiN Gaming venceu duas finais de Gamers Club Masters, além da CLUTCH LA League Season 1 na final contra a DETONA. Essa rivalidade acendeu as chamas do cenário nacional, fazendo a comunidade parar para assistir.

"Analisando hoje, faltou um pouco de maturidade para todos naquela época, nosso time não tinha ainda as malandragens e mentalidade naquela época. O time da paiN era muito mais velho e rodado do que o nosso e isso dava para sentir dentro do server, nas finais, que eles eram muito mais casca grossa."

Um dos pontos altos de Tuurtle com a camisa da DETONA foi a classificação para a ESL Pro League Season 9 - Finals, um dos principais torneios de CS:GO do mundo. Os brasileiros foram eliminados ao perderem para a Heroic e Cloud9, respectivamente.

"Foi uma baita experiencia para nós, aqueles dias que passamos na Suécia e na França fizeram a gente evoluir muito como jogadores. Porém, ficamos pouco tempo praticando com times europeus e não deu para sentir muito como aquele time se comportaria contra eles. Mesmo saindo com duas derrotas, nós sabíamos que se continuasse a fazer bootcamps o time iria evoluir."

As vitórias internacionais não vieram naquele torneio, mas a experiência foi levada para uma grande conquista no futuro. A DETONA conquistou o título da OMEN Atlantic Challenge, torneio que foi disputado na LAN, em Portugal. Os brasileiros ainda derrotaram a Team Heretics, do campeão de Major Fabien "kioShiMa" Fiey, na decisão.

"Esse titulo foi muito importante para DETONA na época, porque nosso estávamos sempre batendo na trave e aquele titulo deu muita confiança para nosso time. Lembro do primeiro jogo do campeonato ser contra os portugueses da Exploit e me recordo que nosso time não escutava absolutamente nada de tão alto que os portugueses estavam gritando naquele dia. Foi uma experiência insana."

Foto: Rafael Veiga/DRAFT5Foto: Rafael Veiga/DRAFT5

BURNOUT E RECOMEÇO

Apesar do título internacional, a DETONA não conseguiu terminar com chave de ouro e ficou com o vice da GC Masters IV. Em 2020, o começo de temporada do esquadrão não foi bom, mesmo com a chance de disputar o classificatório em LAN da Flashpoint. A organização então passou por algumas mudanças na escalação, sendo a saída de Tuurtle entre elas.

O jogador ficou fora de combate por cerca de um mês, quando foi contratado pela W7M. Tuurtle revelou que estava sofrendo de burnout — doença mental que surge após a pessoa passar por situações de trabalho desgastantes — e a organização foi de suma importância na retomada de Tuurtle.

"Foi um tempo de reconstrução pessoal. Eu sai da detona e estava em burnout na época, precisava de ajuda e senti que a W7M ia me abraçar e tentar me ajudar. Lembro que na época a Airini, que era psicóloga do time, tentou muito me ajudar e sou muito grato a ela porque todo trabalho que tive com ela fez eu me reerguer para 2021. Fico triste de não ter dado certo no time da W7M, mas sou muito grato a eles, inclusive ao Peu, que sempre tentou fazer de tudo para me deixar confortável e entender tudo que tinha passado."

Ainda no fim de 2020, Tuurtle deixou a W7M para embarcar em um novo projeto com Adriano "WOOD7" Cerato, Jhonatan "JOTA" Willian e Willian "Xamp" Caldas na Bravos. O time teve a primeira experiência na GC Masters VI, mas não foram longe na competição.

O sucesso do esquadrão chegou na temporada seguinte, onde a Bravos deu passo por passo até se consolidar entre as melhores equipes do país. Os espartanos chegaram a vencer duas edições do RMR sul-americano, mas não conseguiram a vaga para o PGL Major 2021.

"Uma coisa que eu sempre penso é que, se for para dar certo, tudo tem seu tempo e sempre levo essa frase comigo, talvez não era a hora de ir para o Major. Lógico que gostaria muito de jogar esse Major, mas a Sharks também mereceu estar lá por tudo que fez durante o ano."

Foto: Divulgação/BravosFoto: Divulgação/Bravos

A passagem de Tuurtle pela Bravos também rendeu outros grandes títulos, como a Série A da Gamers Club, INVie 2021, Kanui Esports Invitational e outros. Contudo, Tuurtle fez questão de ressaltar a dedicação de todo o grupo para alcançar o posto de melhores do Brasil.

"Acho que a nossa dedicação foi o ponto principal esse ano. Pouca gente sabe o quanto a gente trabalhou e batalhou esse ano para dar tudo certo, todo mundo que estava no time tinha a mentalidade de ser vencedor e trabalhar o máximo que podia dar. Todo mundo dava o 150%"

CONVITE O MIBR

Logo após o título da IEM Fall da América do Sul, Tuurtle e WOOD7 foram procurados pelo Made in Brazil, que estava em processo de reformulação no elenco ao falhar na busca pela vaga no Major. O jogador lembra de ter recebido a proposta de Alessandro "Apoka" Marcucci.

"Para ser sincero, eu não estava querendo pensar muito disso na época por ter perdido meu sogro durante o campeonato. Foi tudo muito rápido que nem deu para sentir muita coisa, acho que a ficha está começando a cair agora."

Na nova casa, Tuurtle foi disputar algumas competições na Europa, além da ida para a América do Norte disputar as primeiras fases da ESEA em busca da vaga na Pro League. Segundo Tuurtle, o período foi bom pois "qualquer contato que a gente tenha na Europa ou no NA nos faz evoluir".

Foto: Divulgação/MIBRFoto: Divulgação/MIBR

Entretanto, o fato de enfrentar times de baixo nível na América do Norte também foi prejudicial à equipe, que chegou menos preparada para o CBCS Finals, onde perderam para a Sharks na decisão por 2 a 0.

"Sinto que faltou treino e energia naquele dia. Nosso time tinha acabado de fazer uma mudança e no NA não tinha muitos treinos, não conseguimos botar em prática quase nada do que nosso time tinha combinado e isso custou caro."

OS NÚMEROS DO 5º MELHOR NO BRASIL EM 2021

A regularidade de Tuurtle ao longo da temporada foi algo impressionante e de fundamental importância na colocação do ranking. O jogador somou apenas um MVP no ano anterior, conquistado na INVie 2021. Contudo, Tuurtle também registrou outros 18 EVPs.

Foto: Arte/DRAFT5Foto: Arte/DRAFT5

"Acredito que foi um bom ano por conta da volta por cima que dei, eu passei muito tempo lutando comigo mesmo e sinto que esse ano eu cresci muito mental e profissionalmente no jogo. Sou muito grato a todos que passaram e tentaram me ajudar, porque não teria tido um ano tão bom sem eles."

A constância de Tuurtle também foi vista nos números. O jogador ficou no Top 5 de quase todas as estatísticas mais importantes do CS:GO, tendo1.18 de Rating 2.0, 74.4 de KAST (Kill, Assist, Survive e Trade) e quase 80 de ADR (dano médio por round).

Foto: Arte/DRAFT5Foto: Arte/DRAFT5

Todos os feitos coletivos mais as conquistas individuais fizeram Tuurtle somar 109,2 DRAFT5 Points, apenas 0,4 abaixo do quarto colocado.

2022 E BOLD PREDICTION

A preparação do MIBR para 2022 visa as disputas da fase de grupos da BLAST Premier Spring 2022, além da IEM Katowice 2022. Com o mesmo elenco que encerrou a temporada passada, Tuurtle tem grandes expectativas para o novo ano com a camisa da organização.

"Sinto que esse primeiro semestre vai ser um tempo de adaptação e desenvolvimento do time. Acredito que na metade para o começo do segundo semestre vai ser onde nosso time vai mais evoluir."

Em relação ao jogador para ficar de olho e 2022, Tuurtle elegeu Henrique "t9rnay" Menacho. O jovem atleta teve passagens pela BD.ECHO, ELEVATE e Vivo Keyd ao longo de 2021.

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