Os melhores no Brasil em 2021: (15) - zqk

A trajetória de sucesso de C410 do tênis, passando pelo Source até os tempos atuais

por Gabriel Melo / 10 de Jan de 2022 - 18:00 / Capa:

Muitos foram os jogadores que competiram no Counter-Strike: Source que decidiram migrar para o Global Offensive logo quando o, então, novo CS surgiu. E o Brasil pode se orgulhar de ter uma das lendas da antiga versão ainda na ativa.

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Além dos títulos conquistados no Source e nos quase dez anos competindo no CS:GO, Caio "zqk" Fonseca marcou o próprio nome na história da modalidade por ser um dos primeiros a carregar a bandeira do Brasil em um Major, em 2015. A temporada passada foi mais uma na qual o atleta se destacou a ponto de, novamente, aparecer na lista dos Melhores no Brasil ao figurar na 15ª posição.

OS PRECISOS "ACES" DE AWP

Natural de Santos, litoral de São Paulo, zqk nasceu em 1992 e desde cedo nutria o sonho de ser atleta, mas inicialmente de uma modalidade tradicional, ou melhor, uma das mais tradicionais de todo o esporte: tênis.

As raquetes e pequena bolinha viraram passado para zqk quando tinha 14 anos, idade na qual, segundo o próprio, começou a jogar Counter-Strike: "Sempre gostei de jogos de PC. Acredito que os mais marcantes foram os da própria Valve, como Hal Life, Team Fortress clássico, Day of Defeat e CS".

Assim como muitos outros personagens da modalidade, zqk viveu um "conflito" com a família em relação à vida gamer, mas muito tendo em vista que esports nem existia direito no Brasil e o Counter-Strike ainda não possuía status de ferramenta de trabalho, como atualmente.

"Meus pais sempre me permitiram ir atrás do que eu queria. Demorou um pouco para eles entenderem, obviamente, porque naquela época o jogo ainda não era uma profissão", conta o atleta à DRAFT5

DEBUTANTE NO COMPETITIVO

Por mais que tenha começado a jogar CS na saudosa versão 1.5 e vivenciado a era de ouro das lan houses, foi somente em uma das mais recentes versões do FPS, o Source, que zqk começou a competir, em 2007, aos 15 anos e quatro depois de ter o primeiro contato com o título da Valve.

"Eu tinha um time com um dos meus irmãos e amigos, e passamos por volta de um ano ficando em último em todos os campeonatos de lan que íamos", revela zqk, rindo.

Mais tais derrotas ajudaram a equipe a ter uma rápida evolução e Caio, três anos depois, chamou a atenção dos principais times do Source. Hoje expoentes no Global Offensive, Wilton "zews" Prado, Ricardo "dead" Sinigaglia e Gabriel "FalleN" Toledo são alguns dos personagens que foram primordiais na formação do atleta zqk.

"Entre 2008 e 2011 tive a oportunidade de jogar e aprender com jogadores muito bons, como Zews, Dead, rkz, viol, peacemaker, cogu, FalleN, bit, elllllll, fnx, nak, steel, zakk e outros. Essa fase foi uma das mais importantes para mim antes do CS:GO", dispara.

Arquivo pessoal/zqkArquivo pessoal/zqk

MARCANTE NO SOURCE

Do Project Revolution para a passagem relâmpago pela Soldats até a oportunidade de defender uma das mais prestigiadas organizações do país, o CNB. Assim podemos resumir o primeiro ano de zqk no Source.

Um dos primeiros pódios obtidos pelo jogador aconteceu no presencial Quest Cup of Source #2, o qual a Soldats terminou em terceiro após perder para um dos principais times do Source, a YeaH. No mesmo ano, veio o tão gostoso grito de campeão. Como um canibal, o atleta comeu o jogo e foi um dos pilares para a conquista do CNB na Yeah CCS Championship 2008.

E foi no Source que o atual nick do jogador surgiu. Antes jogando com a alcunha "C410", o atleta se tornou o zqk, a "abreviatura" do apelido Zequinha, o qual recebeu de um antigo companheiro de equipe.

Não demorou muito para zqk atingir o topo do Source. Em 2009, com dois anos de carreira, o atleta se tornou membro da prestigiada YeaH. Naquele ano, foi 3º lugar no Master of CS:S III e ajudou o time a conquistar a primeira edição do Destroyer TargeTDown Cup vencendo o antigo time na grande final. Foi aí que o atleta recebeu o convite para defender aquela que é considerada a maior tag de tal versão do CS: Team TargetTDown, ou simplesmente Team TD.

A trajetória de zqk pelo Team TD já começou com o títuo da Destroyer TargeTDown Cup #2, ainda em 2009, e o tricampeonato em abril do ano seguinte. Em 2010, outras duas medalhas de prata: Mouses Cup CS:S para os intrusos da Complexity e ZOWIE Challenge #1 para a YeaH.

Naquele que foi o último ano competindo no Source, zqk teve a oportunidade de competir fora do país. Junto ao Team TD, competir na Copenhagen Games 2011 e no Multiplay Insomnia 43. A experiência internacional foi primordial para o jogador e equipe terminarem a trajetória na modalidade com o título da primeira ProGaming Cup Summer.

E o dono do Team TD, Luiz Phelipe, é outra pessoa que zqk tem muita gratidão: "Me proporcionou muitas oportunidades e ajudou muito a manter o cenário competitivo vivo na época. Jogamos três campeonatos mundiais de Source e continuamos juntos no CS:GO até 2014".

O NIP BRASILEIRO

zqk e Team TD migraram para o CS:GO já no ano inicial da modalidade, o que se mostrou uma decisão acertada porque jogador e equipe iniciaram a modalidade já no topo. Basta ver os títulos obtidos nos primeiros anos como BEL BETA 2012, Razer Challenge Brasil 2013, as duas primeiras edições do XChallenge #2, Campus Party Ecuador 2013 e a primeira liga de Global Offensive do Brasil: Liga A da XCL - organizadora que deu origem à Gamers Club.

Dentre os muitos títulos que empilhou no CS:GO, um deles foi o da primeira LAN da modalidade: 1º r1se & LGX Cup, na qual foi campeã com o Fake da Rima em São Paulo, no primeiro mês de 2014. Daí em diante venceu outras temporadas da Liga A da XCL, foi vice em outras competições até que conquistou mais uma oportunidade de representar o país internacionalmente quando, junto da KaBuM.TD, foi campeão da seletiva nacional da MLG Aspen Invitational no "apagar das luzes" de 2014.

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O SONHO DO MAJOR

Com a vaga em mão, zqk e a equipe liderada por FalleN fora de peito aberto para o grande desafio que esperava os brasileiros nos Estados Unidos. E o time não fez feio. Além de vitórias marcantes, como contra Cloud9, conquistou também a tão sonhada vaga para o Major ESL One Katowice 2015 ao terminar a seletiva com um dos oito classificados.

Trajado da armadura da Keyd Stars, zqk novamente fez história ao ajudar o time a alcançar o mata-mata e, assim, a vaga direta para o Major seguinte. Ainda naquele ano, foi campeão do presencial r1seCup, da primeira edição da Liga Games Academy, retornou aos Estados Unidos para vencer o iBUYPOWER Invitational 2015. Contudo, próximo de disputar o segundo Major da carreira, acabou preterido pela escalação que foi defender a Luminosity.

Um fato curioso dessa transição é que, por ter vaga garantida no Major de Cologne, zqk já havia enviado a própria assinatura para a organização do evento, que na época planejava lançar os primeiros stickers. Contudo, o do atleta acabou ficando de fora. Mas o infortuno não tirou o foco do atleta, que pela Keyd se manteve no topo do cenário nacional.

VOLTANDO À ORIGEM

2016 começou com zqk representando uma organização estrangeira, a portuguesa Team Alientech, e com o brasileiro retornando à América do Norte para disputar o Minor válido pelo MLG Columbus 2016, para o qual não obteve a classificação. Após uma época competindo na terra dos colonizadores do Brasil, o jogador e os companheiros foram defender a paiN, que deu vida ao sonho do time morar e competir nos Estados Unidos.

Tal projeto durou cerca de três meses e, mesmo tendo que retornar ao Brasil, zqk defendeu equipes norte-americanas como SelflessThe Foundation e Misfits. Tal aventura perdurou até ser chamado para fazer parte da Merciless, equipe com a qual foi vice da primeira edição da Gamers Club Masters e da quarta temporada da ESL Brasil Premier League.

Ao fim de 2017, zqk voltou a defender uma organização estrangeira, Immortals, mas para atuar ao lado de outros brasileiros. Contudo, para a infelicidade do AWPer, o clima causado por compatriotas que estavam no time antes da chegada levou o clube a encerrar a divisão da modalidade, fazendo assim com o que o atleta, novamente, retornasse ao Brasil.

REDENÇÃO

Mas há males que vem para o bem. Junto à YeaH, zqk começou 2018 com tudo, participando de várias finais em sequência. Títulos na edição de março da antiga Liga Profissional da Gamers Club e da ESEA Open Brasil Season 27. Além disso, chegou em 2º lugar na Aorus League Brasil Season 1 e na edição inaugural da ESL LA League.

Foto: Lucas Spricigo/DRAFT5Foto: Lucas Spricigo/DRAFT5

Ainda naquela temporada zqk foi defender a Imperial, colocando a organização no Minor válido pelo IEM Katowice 2019, sendo campeão da WESG Brasil 2018 e auxiliando o time a chegar em tantas outras finais. A trajetória pela organização durou até abril de 2019, quando todo o elenco foi dispensado e, junto, passou a atuar como Inflames. Mas como todo bom filho à casa torna, o atleta teve mais uma oportunidade de representar a Keyd, com a qual venceu a edição de julho da Liga Profissional e foi 4º lugar no NEST Pro Series 2019, torneio disputado na China.

2020 foi outro ano no qual zqk iniciou vestindo uma nova camisa. Aliás, nem tão nova assim já que se tratava da Imperial. A segunda passagem e mais longa passagem do jogador pela organização logo nos primeiros meses teve os títulos da Aorus League Season 1 e do CBCS The Conquest. Além disso, o time foi vice no CBCS The Revenge.

2021 DOURADO

A temporada passada começou dourada para zqk e Imperial, com os títulos Redragon Summer Finals e da divisão sul-americana da DreamHack Open March. Na opinião do jogador, esses títulos foram frutos da preparação realizada pelo time: "No começo do ano estávamos treinando muito forte para a DreamHack e aquela line, apesar de junta há pouco tempo, clicou muito rápido".

Tais conquistas serviram de combustível para o período em que o time passou fora do país. No estrangeiro, contudo, a Imperial não conseguiu repetir as façanhas do início do ano. E isso aconteceu porque, segundo zqk, o time passou "por muito problema out game. O único campeonato que jogamos com o time completo foi a Malta Vibes de agosto e tínhamos montado o elenco fazia uma semana".

Rafael Veiga/DRAFT5Rafael Veiga/DRAFT5

Lúcido, o veterano afirma que a equipe demorou "algumas semanas para engrenar, tanto que, nos primeiros dois campeonatos, fomos mal. Mas depois, com o tempo, melhoramos e conseguimos bons resultados". E o tal bootcamp, na visão de zqk, "ajudou a criar uma base muito boa. Conseguimos passar por quase todos os mapas e depois, voltando para o Brasil, só precisamos focar em fazer pequenos ajustes".

O que não é mentira porque os Imperadores, nos últimos meses do ano, engrenaram os títulos do CBCS Masters 2021, do presencial válido pelo Circuito Good Game WP e da quarta temporada da Aorus League. De todos as conquistas obtidas em 2021, zqk elege a da DreamHack como a principal do ano.

Mais em meio a uma temporada dourada, zqk passou por aquela que classifica como uma das piores situações da vida, que foi a deportação do México às vésperas de Imperial jogar seletiva para o Regional Major Ranking (RMR) norte-americano do cs_summit 8.

"É muito difícil quando acontece algo que foge completamente do seu controle e não tem, absolutamente nada, que você possa fazer para sair disso. O dia em si foi um dos piores da minha vida, mas pior do que isso foi não poder seguir com o planejamento do time e, consequentemente, perder a chance de tentar disputar o Major, que é o maior objetivo de todo jogador de CS", afirma.

O 15º MELHOR EM 2021

zqk foi um dos pilares das boas campanhas feitas pela Imperial nos campeonatos em que a equipe disputou no Brasil. O AWPer figurou em cinco das listas de melhores jogadores produzidas pela DRAFT5 a cada campeonato, sendo em que em três delas foi eleito o MVP. Com tal aproveitamento, somou 55,6 D5 Points.

E zqk tinha tudo para ter ido mais longe na temporada, se não fosse o problema que vivenciou no México e o período em que ficou sem disputar competições no país. Na última temporada, zqk acumulou rating de 1.07, KAST de 70,7%, KPR de 0.66 e 1.05 de Impact round.

Esta é a segunda vez que o veterano é eleito pela DRAFT5 como um dos melhores no Brasil ao término de uma temporada e esse retorno deixou zqk surpreso "porque no primeiro semestre acabei quase não jogando campeonatos devido ao que aconteceu no México e ao bootcamp. Felizmente, consegui jogar bem na segunda metade do ano".

Ao classificar o próprio 2021, zqk diz que "foi muito bom, levando em conta que joguei muito pouco no primeiro semestre. Mas acredito que ainda tenho muita margem para melhorar". Além de pontos a evoluir, o veterano ainda tem lenha para queimar no CS: "Tenho muitos objetivos que ainda não alcancei e, provavelmente, não vou parar até conseguir".

Da tradução literal, bold prediction significa “previsão ousada”. Este termo é utilizado em pesquisas com jogadores que se destacaram e dão palpites de quem será um dos possíveis nomes que tem de tudo para aparecer entre gigantes em breve. Categórico, zqk coloca o companheiro Cristopher "ckzao" Chalus como nome que tem potencial de aparecer no prêmio da DRAFT5 em 2022.