No futebol, existem diversos jogadores que fazem o time funcionar mas não aparecem, o craque invisível. Na
BOOM, Bruno "
shz" Martinelli é esse tipo de jogador. Com 22 anos, mostra um grande amadurecimento, se tornando um ponto de equilíbrio para sua equipe. E neste ano em que sobraram no Brasil, shz foi um dos pilares para tantas conquistas.
Agora, o jogador repete
2018 e
2019 e novamente aparece na lista do melhores jogadores da DRAFT5.
INFÂNCIA E INÍCIO DE CARREIRA
Shz teve a oportunidade de ter acesso desde criança a um computador. Com isso foi apresentado a diversos games. À princípio se interessou por Grand Chase e Ragnarok até chegar ao Counter-Strike. Foi paixão à primeira vista. Passava horas e horas do seu dia jogando.
Os anos passaram e essa paixão virou oportunidade. Em 2014 e com apenas 16 anos foi a X5 Mega Arena atuar com a tag
REVENGE. O time não desempenhou um bom papel, e pela falta de oportunidades ele resolveu se distanciar do cenário competitivo. Ao mesmo tempo tentava a sorte no League of Legends.
Sua volta aconteceria apenas em 2016 a convite de Vinicius "
zam" Godoy. O curto período na
MK3 foi o suficiente para ver que era aquilo que queria para vida. Rapidamente se transferiu para Remo Brave e-Sports. Lá ganhou a Liga Pro de agosto e a Brasil Game Cup. Era o que ele precisava para a carreira deslanchar.
Foto: Reprodução/Brasil Game Cup
LUMINOSITY E O PERÍODO NOS EUA
Seu desempenho na Remo chamou atenção da
Luminosity Gaming, que seguia a procura de uma nova line-up como a saída de Gabriel “
FalleN” Toledo e companhia.
A temporada na América do Norte começou em setembro de 2016 e se encerrou em fevereiro de 2018. Esse período de um pouco mais de um ano fora do Brasil não foi de títulos, mas sim de amadurecimento. As passagens por
Immortals e
Tempo Storm foram marcados por problemas. Porém, mesmo com resultados negativos, shz tinha um certo destaque internacional e já se projetava como uma promessa do cenário brasileiro.
shz atuando pela Luminosity no ESWC 2016 | Foto: HLTV
VOLTA PARA O BRASIL E CONSOLIDAÇÃO
Passando por vários problemas nos EUA a equipe de shz resolveu retornar ao Brasil. Um curto período na
YeaH! Gaming foi o suficiente para levá-lo ao consolidado time da
Imperial Esports.
Na Imperial tinha atuações de destaque ao lado de Caio "
zqk" Fonseca. A dupla foi responsável pela equipe terminar o ano de 2018 com excelentes resultados. Porém, o início de 2019 as coisas começaram a não se encaixar para a Imperial, que optou por se desfazer da line-up.
Apesar disso, o time ficou pouco tempo sem casa. A
Vivo Keyd enxergou uma oportunidade no time e os contratou. Em dois meses o conjunto voltou para uma crescente e shz destruía nos jogos.
Foto: Lucas Spricigo/DRAFT5
Isso chamou atenção da
INTZ. A equipe estava no Canadá e buscava um substituto para Vito "
kNg" Giuseppe. A escolha por shz foi óbvia. Com experiência internacional e explodindo no Brasil, era a opção perfeita.
Ao contrário daquele período de LG, Immortals e TS, ele estaria indo para um projeto mais concreto, com uma equipe querendo conquistar o mundo. A adaptação em 2019 foi boa e mesmo sem um grande resultado, o conjunto mostrou evolução.
2020: ANTES DA PANDEMIA
O ano de 2020 prometia ser magnífico para a INTZ. Já subindo nas divisões norte-americanas e um Major sendo disputado no Brasil, faltava pouco para o sucesso absoluto. Porém, logo no começo não conseguiu vagas que eram consideradas à altura da equipe naquele período, como
DreamHack Open Leipzig e Anaheim, ainda em janeiro.
Shz considera que fizeram bons jogos e que faltou pouco para as vitórias. Mas, ele reconheceu que o time passava por um problema de funções: “
Não vejo meu desempenho como muito bom, acredito que se fosse, poderíamos ter ganho os jogos que foram mais apertados. Mas o motivo acho que foram as posições/funções”, disse.
Ao mesmo tempo, buscavam uma nova casa. A escolha pela
BOOM Esports pegou muitos de surpresa. Uma organização aparentemente desconhecida da Indonésia não parecia a escolha certa para um dos melhores times do Brasil. Entretanto, shz entende que o projeto apresentado foi o melhor: “
Demonstraram bastante interesse e gostamos do projeto também (que no caso era fora do Brasil). Acho que ser da Indonésia não fez diferença, somente se fossemos ter um gaming office ou algo assim”, explicou.
A estreia com a tag da BOOM aconteceria no classificatório fechado para o Minor sul-americano. O convite aceito gerou grande reclamação por parte da comunidade local: “
Estão roubando a vaga”, “
Só vem porque não conseguem passar lá”, foram algumas das frases ditas. Experiente, shz preferiu não entrar em polêmica: “
Para falar a verdade não ligamos pra essas críticas, recebemos o invite do closed do Minor aqui no SA e decidimos vir jogar.”
O começo não foi bom, porém ajudou muito o time. A derrota sem explicação para
Team One fez os jogadores colocarem as cartas na mesa e acertarem os problemas internos que passavam: “
Quando viemos jogar o closed do Minor, e perdemos para a Team One no primeiro jogo, tivemos uma conversa, que na minha opnião nos uniu mais como time. A partir daí sim, sempre entramos com essa cabeça, mas não podemos vacilar também”, revelou o jogador.
2020: A PANDEMIA
Logo após o fim da seletiva, a BOOM foi à Europa em preparação para a
ESL Pro League. Porém, o mundo parou. A pandemia causada pelo novo coronavírus fez países inteiros fecharem. Por conta disso, os jogadores brasileiros tiveram uma difícil decisão: ficar em Malta para disputar a Pro League com risco de ficarem presos no país ou voltar ao Brasil para disputar as competições locais.
A sábia escolha de voltar ao seu país de origem se mostrou completamente acertada no longo prazo. Ficaram próximos de seus familiares em um momento difícil e tendo um leque grande de torneios para disputar só os ajudou.
A partir deste momento, a BOOM passou a empilhar títulos no Brasil. Logo ao desembarcarem, foram convidados a disputar o
CBCS: The Rising. A campanha invicta, sem perder nenhum mapa, mostrou o que estava por vir.
A comunidade brasileira abriu os olhos para BOOM e já sabiam que onde eles entrassem seriam campeões. Tanto é que o time atropelou no Major brasileiro:
Gamers Club Masters V. Na final, uma vitória maiúscula sobre a
paiN Gaming, equipe apontada por muitos, a única que poderia bater de frente contra a BOOM.
Depois, foi somente empilhar taça atrás de taça.
Esportsmaker Invitational,
Tribo To Major e uma nova edição do CBCS foram algumas das conquistas. Apesar disso, ainda existia um sentimento triste na equipe. O cancelamento do Major no Rio de Janeiro deixou toda a comunidade local chateada, incluindo os jogadores da BOOM.
“
Foi muito triste realmente, já que estávamos praticamente classificados. Ficamos um tempo sem saber quando seria e tal, mas foi a decisão certa com certeza”, disse shz.
A equipe já percebia sua superioridade perante os adversários, mas não tirou o foco. Shz comenta a final da
ESL Pro League S12, quando enfrentaram a
Sharks. A derrota na chave Upper assustou e acordou a equipe, já que para a grande final entraram com desvantagem. No final, um atropelo.
Já chegando nos meses derradeiros de 2020, uma surpresa para todo o time foi a saída de João "
felps" Vasconcellos. Shz reconhece que pegou todos de surpresa, mas era preciso manter o foco e seguir em frente. Tanto é que encerraram o ano com mais um título e sem felps. Para a
FiReLEAGUE o time contou com Fernando "
fer" Alvarenga. Por fim, mais uma vitória fácil sobre a Isurus, encerrando o 2020 com nove torneios disputados e nove títulos.
O CRAQUE INVISÍVEL DA SEXTA COLOCAÇÃO
É incrível como muitas vezes shz passa despercebido. Quantas vezes já no final de uma partida da BOOM, o scoreboard é mostrado e ele está entre os top fraggers? Logo já vem a mente: “
Nossa, como shz matou tanto?”. Isso é o craque invisível.
Arte/DRAFT5
Seu desempenho em 2020 é um reflexo da grande conversa que o time teve após a derrota para a Team One. Naquele momento ele expôs para o que precisava ser feito para tirar seu melhor. E foi isso o que aconteceu. Com mais liberdade e fazendo as funções que lhe dão maior segurança seu jogo deslanchou.
Logo em seguida no ESL One: Road to Rio já apareceu entre os melhores da competição. Seu rating de 1.13 já mostrou que ele estava à vontade. Tanto é que uma de suas melhores atuações foi na final da GC Masters V. Era nítido o quão a fim de jogo shz estava naquela tarde. O sentimento das pessoas que assistiam era que o bombsite que ele estava não passava ninguém. Isso tudo refletiu em seus números. O impressionante rating de 1.26 e o impacto de 1.19 mostram o quão fortalecido estava.
É certo que todos os membros da BOOM, tiveram um desempenho avassalador no último ano. Mas a importância in-game de shz é notória e reconhecida por seus companheiros. Tanto é que conta com o quarto maior KAST do top20 DRAFT5. Quer dizer que em 75,7% dos rounds ele tem participação com eliminação, assistência, sobrevivência ou troca de kill.
Vale lembrar que shz ainda tem 21 anos e uma longa carreira pela frente. Seu processo de amadurecimento tem sido constante para ele. E mesmo jovem se mostra maduro o suficiente para não ceder à pressão e ao ego. Ainda em 2018 era apontado como uma das futuras estrelas do CS:GO brasileiro e hoje está em pleno desenvolvimento.
"
Quando estava jogando lá fora em 2016/17, não tinha a mesma mentalidade que tenho agora. Claro que preciso melhorar em muitas coisas, mas esse foi um ponto que notei diferença”, afirmou o jogador.
Ser o sexto melhor jogador de 2020 não foi a toa para shz. Estar atrás de outros jogadores de sua equipe não é demérito nenhum.
Com 8 EVPs durante a temporada, se consagrou com 64 D5 Points, 4.1 a menos que o quinto colocado.
Arte/DRAFT5
O 2021 promete ser melhor ainda para shz e sua equipe. O planejamento do agora ex-BOOM é voltar para Europa e focar nos campeonatos lá. Com a chegada de uma vacina e a perspectiva de um mundo melhor poderá realizar um grande desejo: “
Meu sonho ainda é participar de um Major, e consequentemente ganhar. Mas a curto prazo conseguir desempenhar bem com o time contra os melhores do mundo.”