Próximo de completar 29 anos, Gustavo "
yel" Knittel possui uma história nem tão longa assim, mas já acumulou experiência o suficiente para transparecer a confiança que um capitão precisa ter para comandar uma equipe de
Counter-Strike. Fora do eixo Rio-São Paulo, yel foge a regra do cenário competitivo brasileiro. Ainda assim, contou com a popularização das
lan houses nos anos 2000 para conhecer uma das principais e mais marcantes da história do Counter-Strike. Nascido em Salvador, na Bahia, foi lá que ele conheceu o FPS da
Valve na Monkey, uma das lans mais icônicas do Brasil. Entretanto, Counter-Strike não foi o primeiro jogo que cativou yel. Hoje quase na casa dos 30 anos, ele carrega a estigma de conhecer e ter jogado alguns jogos que a geração atual, seja de jogadores ou torcedores, sequer ouviu falar, como Duke Nukem 3D, quarto jogo da franquia que teve início em 1991, um ano antes do próprio jogador nascer. Mesmo no início, ninguém poderia imaginar que yel se tornaria uma das referências dentro de um time competitivo de Counter-Strike. Mas o jogador revela que, mesmo sem saber que estaria onde está, sempre teve carinho pela competição.
"Não sabia que um dia eu chegaria nesse nível. Porém, todo jogo que eu jogo entro para ganhar e competir. Eu acho que está no meu sangue a sede pela competição", confessou o quinto melhor jogador do ano em uma entrevista concedida à
DRAFT5.
INFÂNCIA TRANQUILA, MAS PROBLEMAS NA ESCOLA
Se o capitão conseguiu ter uma
"vida muito tranquila" graças ao esforço da família, o mesmo não conseguiu fazer com que se repetisse na escola. Hoje com uma carreira bem construída e sólida, yel consegue reparar que não conseguiu definir muito bem as prioridades naquele momento, justificando o "ódio" que a mãe possuía do Counter-Strike. Mais maduro do que o menino que iniciou a trajetória no mundo dos jogos, yel se responsabiliza e ressalta que não culpa a mãe pela falta de prestígio que ela dava para o jogo e por tudo que ele significava naquele momento:
"Não culpo ela. Eu era um menino muito desleixado com a escola", confessa.
Yel defendendo a Jayob em 2015 | Foto: Reprodução/Facebook "Quando eu comecei a jogar Counter-Strike eu desencanei total dos estudos. Sempre ficava em recuperação e cheguei até a perder um ano por conta do computador. Minha mãe odiava que eu jogasse porque eu não ia bem no colégio e, naquela época, nenhum jogador profissional ganhava muita grana para conseguir viver com isso". Apesar das estatísticas de yel apontarem o início da carreira competitiva em meados de 2015, o jogador precisou conviver por pelo menos um ano fazendo algo que ia de encontro ao que os pais queriam para ele. O drama familiar que não foi muito aprofundado pelo AWPer se encerrou na passagem dele pela
WinOut. Isso porque foi defendendo esta organização que yel disse teve a primeira oportunidade de jogar nos Estados Unidos. De Salvador para o mundo, o capitão começava a trilhar os passos de uma carreira competitiva consolidada, fazendo com que fosse naquele momento em que ele percebesse que queria
"viver o resto da vida jogando". Junto com a chance de ir para fora do país veio também a redenção dos pais. Deixando todo o orgulho de lado, a mãe de yel teve a prova que precisava para ver que aquilo poderia ir para frente:
"A única vez que minha mãe me apoio 100% foi quando eu disse que ia jogar nos Estados Unidos".
PRIMEIRA GRANDE ORGANIZAÇÃO
Foto: Divulgação/DreamHack Depois de ir para fora do país não demorou muito para que yel recebesse o primeiro grande convite da carreira. A
Luminosity Gaming acabara de perder Gabriel "
FalleN" Toledo e companhia, onde colheu os frutos de um
Major e estava em alta no Counter-Strike quando resolveu chamar, não por coincidência, um grupo de brasileiros para defender a organização. A ida para a LG está longe de ser gloriosa como a do quinteto anterior. No entanto, yel possui motivos de sobra para se orgulhar da longínqua relação que teve com a Luminosity Gaming, que defendeu entre os anos de 2016 e 2018. Os altos e baixos enfrentados no período em que defendeu a LG, foi dando a yel a experiência necessária que ele colocaria em prática anos mais tarde, em um momento muito diferente da carreira e que sequer havia chegado antes. Mas foi alguns meses após a saída da Luminosity Gaming que yel viveu o que chama de
"momento mais importante da carreira". Isso porque o jogador conseguiu marcar presença no seu primeiro Major ao passar para o
StarLadder Berlin Major 2019.
"Era um sonho meu poder ter o meu nome marcado para sempre no jogo", disse yel de forma literal. Isso porque a vaga na competição fez com que a não só ele como toda a INTZ virassem adesivos no jogo, se eternizando para sempre no competitivo.
Foto: Igor Bezborodov/StarLadder O ano seguinte do AWPer não teve Major e ainda contou com um início incerto. A saída da
INTZ deu a oportunidade do time se juntar à
BOOM, que se tornaria uma organização que ficaria marcada para a história não somente de yel, mas de todo o cenário brasileiro de Counter-Strike.
UMA SUBIDA SEM LIMITES
Como se a mudança de ambiente não fosse o suficiente para yel, ele também foi uma das bilhões de testemunhas de uma das maiores pandemias da história da humanidade. A chegada do coronavírus (Covid-19) fez com que a BOOM, até então casa do jogador, optasse por passar a temporada no Brasil. Desembarcando em solo Tupiniquim de surpresa, nem yel ou qualquer outro jogador do time poderia saber o que aconteceria dali pra frente. No entanto, o que se viu foi um monólogo do time comandado por Alessandro "
Apoka" Marcucci durante a estadia em território nacional.
"Eu sempre tento pensar no lado positivo das coisas. Nossa temporada era pra ser toda fora em 2020. Porém, por conta do Covid, decidimos voltar ao Brasil. Eu vi o retorno como algo temporário, mas, no final, foi bom ter voltado para o Brasil e ter conquistado todos os campeonatos que disputamos. Além de tudo, poder ficar um tempo com a família". Mesmo com um elenco encorpado que muitos diziam ter grandes chances de sucesso no cenário internacional, a BOOM não quis sair desde o momento que chegou. Alguns meses depois, o capitão se encontra ainda mais maduro do que antes e revela que esse tempo no país fez com que eles se moldassem como equipe, além de ganhar o espírito de time vencedor. Não por coincidência, yel viveu o que chamou de
"melhor ano da vida profissional". Mas quem acha que o líder está pensando apenas nos títulos e nas premiações está se equivocando. Para ele, a evolução como capitão e como jogador são as que mais importam. Por isso, consegue ver nesta próxima temporada a chance de evoluir ainda mais e mostrar que podem ser os melhores lá fora.
Divulgação/BOOM "Com certeza eu busco todos os dias da minha vida evoluir, seja no profissional ou na vida pessoal. Acredito que na questão de líder eu consegui evoluir muito neste ano e espero que continue assim sempre. Para falar a verdade, eu nunca me preparei para isso, sempre fui evoluindo pouco a pouco para chegar até aqui", revelou.
O 5º MELHOR DO BRASIL EM 2020
Antes deste artigo ir para o ar, este que vos escreve teve que editar o texto para mudar a forma de chamar yel. Antes capitão da BOOM, hoje, o jogador foi anunciado como integrante do novo quinteto do
MIBR. Agora, o 5º melhor jogador do Brasil durante todo o ano de 2020 terá a missão mais difícil da carreira e seguirá em busca do sucesso no novo projeto.
Arte/DRAFT5 Para isso, terá como base o time que varreu o Brasil na temporada passada, além do próprio talento e conhecimento sobre o Counter-Strike. Apesar de acumular as funções de AWPer e capitão da equipe, ele ainda conseguiu performar com maestria nos torneios que disputou no ano passado, principalmente na
ESL Pro League Season 12 da América do Sul, onde garantiu o posto de MVP. Mesmo sendo a única competição em que yel foi apontado como o Most Valuable Player, yel possui em Apoka uma pessoa que confia no trabalho exercido dentro do servidor. Após o título da BOOM na
GC Masters V, o treinador revelou que, pra ele, era yel quem merecia o título de MVP da competição, conquistado por João "
felps" Vasconcellos. Comprovando ainda mais função de líder dentro do servidor, o capitão possui a melhor estatística de KAST dentre todos os jogadores que estão presentes na lista de Melhores do Ano da DRAFT5. Como se não fosse o suficiente, jogar de AWP não impede com que ele seja um dos principais clutchzeiros do cenário, terminando em quarto na lista. Mas se tratando de indicações, yel também exibe com orgulho as competições em que terminou como EVP. Entre elas, o
Road to Rio da América do Sul, a própria GC Masters V,
Esportsmaker Invitational,
Tribo to Major e a quinta edição do
Campeonato Brasileiro de Counter-Strike.
Yel teve 68.1 D5 points, apenas 0.9 atrás do quarto colocado. Arte/DRAFT5 Não se sabe (e yel não revelou) se, no momento da entrevista, os traços com o MIBR já estavam começando a ser desenhados. Ainda assim, o jogador foi categórico ao responder sobre os planos para esta temporada, onde disse que o objetivo é
"continuar ganhando campeonatos e evoluir".