Marcelo "
chelo" Cespedes tem apenas 22 anos, mas uma trajetória longa no
Counter Strike. Apesar das dificuldades e também das dúvidas familiares em relação a sua profissão, o paulistano, nascido em 1998, teve um excelente ano individualmente e coletivamente, culminando com a transferência para o
MIBR e sendo eleito o segundo melhor jogador no Brasil pela
DRAFT5 na temporada passada.
A relação entre
Made in Brazil e Marcelo Cespedes começou há 14 anos e foi um dos motivos que influenciaram o garoto a querer um dia ser jogador profissional. O contato com os esportes eletrônicos foi justamente com o CS em uma partida histórica para o Brasil. O pequeno chelo assistiu ao lado do irmão o MIBR conquistar o primeiro título Mundial da modalidade. Na ocasião, o esquadrão de Raphael "
cogu" Camargo e cia derrotaram a toda poderosa
Fnatic na Inferno - mapa preferido dos suecos - por 16 a 6 na grande decisão. "
Eu comecei a assistir e falei ‘é isso que quero para minha vida’". Foto: Divulgação/ESWC Com isso em mente, o jovem passou anos jogando por brincadeira e ao mesmo tempo focado nos estudos. Já no CS:GO, por volta de 2015, Marcelo deu os primeiros passos no competitivo e logo adotou o nick chelo. "
A minha mãe sempre me chamava de chelinho, acho que por causa de Marcelo. Ai acabei tirando o diminutivo e virou meu nick". Os times iniciais,
Army5 e
GATHERS eSports, eram formados por amigos, então não levados tão a sério. A primeira experiência mais profissional aconteceu com a
Team Innova, em fevereiro de 2016, quando tinha um contrato e recebia salário. Por lá, chelo jogou por cerca de sete meses, conquistando Liga Profissional, da Gamers Club, disputando classificatória para o Minor e ganhando bagagem. Durante esse período, Marcelo sempre conciliou o tempo de jogador com a vida de estudante, porque "
a única obrigação que minha mãe me impunha era terminar o colegial (ensino médio)". chelo sempre contou com o apoio da mãe e do irmão na busca da carreira de jogador, enquanto que os outros familiares "falavam para estudar, que isso não dava futuro". Entretanto, a Team Innova optou por deixar o cenário em setembro daquele mesmo ano por problemas financeiros, levando chelo a dar uma pausa no jogo para focar nos estudos. O jogador chegou a entrar na faculdade (Mackenzie) no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, mas desistiu rapidamente e voltou para os esports.
"Fui viajar para praia e encontrei o land1n, tatazin e dzt a três quadras da minha casa. Conversa vai, conversa vem e eles estavam com um time na época e me chamaram porque o delboni tinha saído."
PAIN GAMING
Com isso, eles formaram a line no inicio de 2017 e depois de três meses foram convidados para representar uma das organizações brasileiras mais tradicionais: a
paiN Gaming. "C
hegou em nós e coisa de uma semana estávamos no escritório tirando foto e assinando contrato. Foi animal, primeira organização que tinha toda uma estrutura mesmo." Fazendo jus ao investimento, a equipe dominou logo de cara o Brasil, empilhou títulos e garantiu uma vaga na final global da
ESEA Season 24. A competição ocorreu em Leicester, na Inglaterra, e marcou a primeira experiência internacional de chelo como jogador .
"Quando ganhamos a ESEA do Brasil e soubemos que iriamos para Inglaterra, ninguém acreditava até chegar no avião. Chegou lá, vimos a estrutura de um evento gringo e só deu mais vontade de participar de outros campeonatos internacionais." Foto: Reprodução/HLTV A paiN venceu uma partida contra a
Ghost Gaming, porém acabou derrotada pela
Splyce duas vezes e ficaram de fora dos playoffs. Posteriormente, a equipe disputou o
Minor das Américas do Major de Kraków, a derrota aconteceu na fase de grupos, mas a paiN conseguiu outra vitória, dessa vez contra a
Misfits. O chelo é um dos jogadores brasileiros que passaram perrengue nos Estados Unidos no começo da carreira, afinal o time escolheu não voltar para o Brasil depois do Minor para continuar na América do Norte em busca de melhores oportunidades. Então os cinco jogadores começaram a juntar o dinheiro que cada um tinha e no final conseguiram arrecadar $400. Com a grana, os jogadores pegaram dois quartos em um hotel para passar alguns dias.
"O problema é que hotel só permitia duas pessoas por quarto. Fizemos mutreta, colocava três caras dentro de um quarto no dia e dava um jeito. A gente ia no Burger King durante esses três dias, pegávamos o lanche mais barato e todo mundo comia um lanche, no almoço e no jantar. Pegava um refrigerante para todos e ficava dando refil." Foi aí que apareceu Ricardo "
dead" Sinigaglia oferecendo ajuda. Os brasileiros da
SK Gaming passariam um período fora da gaming house, então dead sugeriu aos meninos irem lá para treinar e continuar em busca do sonho.
"Eu agradeço até hoje o dead e a Camila por tudo que me ensinaram e pelas oportunidades que me deram. Boa parte de tudo que já conquistei e que vou conquistar é graças a eles. Sou muito grato, principalmente a Camis que é uma mãe para mim."
No entanto, chelo e Gabriel "
NEKIZ" Schenato se transferiram para a
Luminosity Gaming pouco tempo depois. Além do salário ter sido muito chamativo, chelo foi seduzido pela grande estrutura da LG - organização campeã de Major um ano antes -, possibilitando-0 tirar o visto Visto P-1 e conseguir trabalhar efetivamente como jogador.
Foto: Reprodução/HLTV O paulistano passou 11 meses vestindo a camisa azul da LG e marcou de fato a primeira temporada internacional de chelo como jogador. Os primeiros cinco meses foram bastante produtivos, com a conquista da
World Cyber Arena 2017 - North America. A Luminosity apresentou uma campanha consistente ao longo da competição, eliminando os conterrâneos da
Tempo Storm nas quartas de final e a
Complexity na semifinal. A promissora
Counter Logic Gaming foi a adversária da grande final, mas o esquadrão brasileiro ficou com o caneco, marcando o primeiro título internacional de chelo. O ano se encerrou ainda melhor, com o time terminando entre os oito competidores de duas importantes ligas do CS:GO:
ECS e
ESL Pro League. Contudo, a LG passou por momentos de instabilidade durante os primeiros meses de 2018 e chelo, junto com o treinador Alessandro "
Apoka" Marcucci, decidiram ir para a
Não Tem Como (NTC).
"Na época, a gente entraria em uma organização muito forte. Não vou falar o nome porque ninguém sabe até hoje, mas acabou não rolando porque a organização pegou um patrocínio e a patrocinadora não queria jogo de FPS. Mas (a transferência para a NTC) foi por experiência que conseguiríamos agregar jogando com fnx, kNg, bit e felps." Foto: Reprodução/HLTV A estadia na marca de Lincoln "
fnx" Lau não durou muito tempo. Durante os quatro meses em que esteve no projeto, chelo ajudou o time a chegar na fase principal da
ESL One: Belo Horizonte 2018, onde a equipe saiu derrotada ainda na fase de grupos. Com a saída de fnx, em agosto de 2018, o time decidiu "abandonar" a tag NTC e jogar no servidor com o nome de
NoTag. A line up ficou sem organização por um mês, quando a INTZ contratou os jogadores para atuarem vestindo a camisa brasileira.
PASSAGEM INTRÉPIDA
Apoka e chelo, que estiveram juntos desde o inicio do projeto, ficaram na
INTZ durante um ano e meio. O paulistano guarda no coração a organização em que esteve o maior tempo vestindo a camisa. "
Nos proporcionou tudo sempre, o que estava dentro do combinado, do orçamento deles. Foi a melhor organização brasileira que tive a oportunidade de jogar." Por lá, os brasileiros disputaram inúmeras classificatórias para ter a chance de jogar os maiores campeonatos da modalidade. A INTZ, inclusive, disputou
ESL Pro League Season 8 - Finals, em 2018, e figurou entre os 16 melhores colocados do mundo. A equipe, empolgada com o fim de temporada, buscou a afirmação no ano de 2019. Entre classificatórias e seletivas, a INTZ continuava a caminhada para estar presente nos torneios mais importantes, até que chegou o
Minor Championship - Berlin 2019. A INTZ jogou a seletiva da América do Sul e, depois de seis jogos acirrados, os intrépidos avançaram com a segunda vaga ao classificatório geral. Foto: Reprodução/HLTV O Americas Minor Championship - Berlin 2019 ocorreu um mês depois. Na fase de grupos, a INTZ passou por cima e terminou em primeiro colocado da chave. Depois de bater a Sharks nas quartas de final, os intrépidos sucumbiram na semifinal para a NRG, sendo encaminhada para a tabela dos perdedores; o confronto decisivo, valendo a vaga no Mundial, foi contra a FURIA, que deu o troco e venceu por 2 a 1. As esperanças não tinham acabado, porque a INTZ foi enviada à repescagem. Um jogo, uma vaga e um sonho. Os brasileiros enfrentaram os coreanos da
MVP PK e conquistaram o spot para disputar o Major de Berlin - o primeiro de chelo.
"Eu fiquei muito feliz, teve uma comemoração, liguei para minha família depois que saímos do estúdio e comecei a chorar. Ai sim caiu a ficha. Foi diferente de todos os torneios que já joguei. É extremamente bizarro. Quero jogar esse ano de novo. É uma sensação única de estar no mundial feito pela Valve." Foto: Reprodução/HLTV Mesmo encerrando a participação no Major entre as últimas colocações, a felicidade pela conquista era muito grande. Isso deu ainda mais gás para o time continuar treinando e desempenhando um bom jogo. A recompensa chegou no final de 2019, sendo campeões da
ESEA Season 32: Premier Division - North America, assegurando a vaga para a
IEM Katowice 2020 e encerrando a temporada no top 34 da
ESEA: Global Challenge.
DINASTIA NO BRASIL
Apesar da boa temporada com a camisa branca e preta, a INTZ não renovou o vinculo com os jogadores. chelo se viu novamente em uma situação parecida com o começo de carreira, tendo que se sustentar no exterior para continuar jogando naquela região, mas com uma condição financeira melhor do que naquela época. Algumas semanas depois, em fevereiro de 2020, o time foi contratado pela
BOOM Esports, que viria a dominar o Brasil ao longo da temporada. Mas a ideia inicial não era jogar em solo brasileiro e foi motivada, principalmente, pela pandemia do coronavírus.
"Só depois, em março, a gente decidiu isso porque estávamos em Malta, ficamos dois dias e começou a estourar o Covid-19. Teve o lockdown e pegamos o último voo para sair de malta. Foi uma decisão em conjunto da equipe. Optamos por ficar preso no Brasil, ao invés de ficar lá em Malta." A dinastia de chelo no Brasil, que começou com a paiN lá em 2017, continuo em 2020. Ao todo, foram 9 títulos conquistados, entre eles a
ESL One: Road to Rio e o Tribo to Major - torneios que valeram pontos ao
Regional Major Rankings (RMR) -, além da GC Masters V, derrotando a paiN Gaming na grande final. Foto: Divulgação/FiReLEAGUE "Desde que chegamos no Brasil, tínhamos certeza que ganharíamos a maioria dos campeonatos. Não sabia que ganharíamos todos, mas sabíamos que nossa experiência internacional e nossa individualidade faria a diferença para ganhar os campeonatos que desejávamos." chelo, por sua vez, afirmou que o nível de jogo no Brasil melhorou bastante em comparação com 2017. "
Acho que tende a subir ainda mais. O Brasil é uma fabrica de fazer players. Tem muito jogador bom que só precisa de oportunidade, só que as vezes eles mesmos fecham as portas por não serem bem vistos no cenário." A BOOM fechou a temporada ganhando a
FiReLEAGUE - Global Finals de maneira contundente, sem dar chances para os adversários. Além disso, foi a última apresentação de chelo e companhia pela organização.
O 2º MELHOR NO BRASIL EM 2020
Os títulos coletivos foram importantes para o ranqueamento dos melhores jogadores no Brasil em 2020, mas o que fez chelo ficar a frente de três companheiros de equipe foi o desempenho individual apresentado no decorrer do ano. O jogador somou um MVP e 9 EVPs na temporada.
A melhor exibição foi na
Gamers Club Redragon Challenge, onde chelo terminou como o melhor jogador do campeonato ao conquistar 1.27 de rating e +73 de K/D na competição. O paulistano também destacou outras participações impactantes na visão dele.
"Tem dois campeonatos que eu acho que me destaquei. Foi a ESL Pro League e o Tribo to Major. Eram torneios que tínhamos que ganhar, que sentíamos uma certa obrigação e deu um gás a mais." De fato, chelo teve um grande impacto na campanha do título do Tribo to Major. O jogador foi líder no quesito first kill, com 62.2%, e possuiu a maior taxa de precisão, com 177 abates com headshot. Fora isso, chelo ficou com EVPs de duas edições do
CBCS,
CLUTCH Season 3,
ESL One Road to Rio,
GC Masters V,
Esportsmaker Invitational,
EPL Season 12 SA,
FiReLEAGUE - Global Finals e classificatório fechado do
Minor SA. O chelo terminou o ano com 1.22 de rating 2.0, quase 80 de ADR, KD de 1.27 e com 29 clutchs, mas o rifler assegurou a terceira posição entre o top 20 na categoria KAST - a estatística mais importante em uma partida de Counter Strike.
Tudo isso fez chelo somar 97 D5 Points, 22 pontos a frente do terceiro colocado e 45 pontos atrás do dono da primeira posição.
MIBR EM 2021
Ano novo e vida nova. É assim que chelo entra para a 2021, saindo da BOOM para defender a histórica tag do MIBR, que o influenciou na infância. O jogador está em bootcamp na Sérvia com o time para disputar três torneios em um período de 30 dias.
"Posso afirmar que esse será o meu melhor ano individual, tenho certeza. Se deus quiser, eu vou entrar no top 20 e ganhar os maiores campeonatos com time", finalizou chelo.