Com exceção dos mais aficionados no
Counter-Strike competitivo do Brasil, poucos haviam ouvido falar no nome de Rafael "
saffee" Costa, novo AWP da
paiN Gaming que chegou com a difícil missão de substituir Paulo "
land1n" Felipe, uma das principais peças da equipe nas últimas temporadas. No entanto, o AWPer (que revelou que nem sempre ocupou essa função) explodiu para o cenário logo na sua primeira aparição em um torneio Tier 1 brasileiro. A
GC Masters V foi o cartão de visita de saffee, que carimbou de vez a sua chegada entre os principais nomes do Counter-Strike brasileiro. Nascido em Espírito Santo do Pinhal, no interior de São Paulo, saffee recém completou 26 anos e possui em 2021 a chance de se consolidar ainda mais na carreira. Longe de ser um jovem em ascensão, o jogador está, sim, rumo ao topo, mas se agarra à maturidade que a vida lhe proporcionou para caminhar com calma e cheio de consciência de que pode fazer melhor.
OLD SCHOOL
No universo das tatuagens, old school são representadas, na maioria das vezes, por desenhos e figuras encontradas de forma cartunesca em filmes geralmente associadas à metaleiros e motociclistas. Claro que o arquétipo nem sempre corresponde com a realidade, mas saffee consegue dar um novo significado ao termo. Os mais novos, em sua maioria àqueles que nasceram nos anos 2000, podem se considerar privilegiados quando se trata de internet e informação. Antes do acesso ser difundido à maioria das pessoas com facilidade, era preciso utilizar o que era chamado de internet discada. Além de só poder ser usada em fins de semana (sábado depois das 14h) ou durante a semana após às 00h, era mais difícil que o normal obter uma.
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal Por isso, as
lan houses se tornaram tão populares no início dos anos 2000. Na entrada da Era Digital, era lá que acontecia os encontros e onde o Counter-Strike nasceu, por assim dizer. Aos 26 anos, saffee sabe bem o que é isso. "Old school", não teve apenas a honra de conhecer este ambiente icônico, mas também conheceu de perto a Monkey, uma das lan houses mais famosas do Brasil. Se hoje mapas "de_" são tão conhecidos até mesmo em partidas casuais, onde o principal objetivo é defusar e plantar a C4, naquela época outros mapas faziam sucesso para quem não quisesse competir, como saffee.
"Meu primeiro contato com o Counter-Strike foi bem cedo. Acho que eu tinha uns 12 anos quando meu irmão me mostrou, na época, o 1.5. Eu cheguei a ir em algumas lan houses, mas só pra brincar jogando fy_poolday da vida com alguns amigos do colégio, mas nada sério", disse. Inserido no FPS da
Valve desde muito jovem, saffee viu no irmão, um dos sócios da equipe Firegamers, a chance de se aprofundar ainda mais ao pisar pela primeira vez em uma Monkey. Mesmo muito novo, foi nesse momento que ele percebeu que queria sentir a mesma sensação dos cinco jogadores que viu na
lan house, vibrando durante uma partida:
"A sensação que eu senti naquele momento de ver os cinco ali no PC, vibrando e competindo, foi única".
FOCO NO PROFISSIONAL E HIATO
Se muitos que já passaram por esta lista apontaram que a entrada no cenário competitivo aconteceu sem querer, saffee aparece como uma figura na contramão dos demais. Seja por influência do irmão, da Monkey, ou apenas o destino soprando o futuro no seu ouvido, o AWPer relatou que desde o princípio já pensava em atuar competitivamente. Se colocando ainda mais como um personagem das antigas, saffee tinha como ícone o veterano sueco Marcus "
zet" Sundström. Jogador profissional entre 2002 e 2014, ele atuava na
SK Gaming, que tanto daria felicidade aos brasileiros anos depois, no momento em que era uma das inspirações do jogador da paiN Gaming.
"Tudo aconteceu muito rápido. No final de 2010 eu comecei a jogar e, em 2011, já estava jogando os principais eventos nacionais", disse.
Por ironia do destino, saffee se vê, hoje, já tendo disputado um torneio presencial de Counter-Strike 1.6, mas nunca de Global Offensive. Foto: Reprodução/Instagram Isso porque ele esteve presente no
WCG Brasil de 2011, disputado no Shopping Eldorado, em São Paulo.
"Ficamos em 6º lugar, se eu não me engano", diz antes de brincar e dizer que já faz muito tempo. Entretanto, uma longa pausa na carreira tirou saffee dos servidores e privou o cenário de conhecer previamente um dos principais nomes do CS:GO atual. Oito anos longe de qualquer jogo para focar nos estudos, o jogador viveu a ascensão do Counter-Strike no Brasil, mas viu em uma partida de uma equipe brasileira a inspiração para retornar ao servidor.
"Eu vi o jogo da Team oNe contra a Cloud9, quando eles ganharam na WESG, e o caike estava naquela época. Eu sempre acompanhava ele. Ele foi uma inspiração para eu voltar a jogar porque eu joguei com ele no 1.6. Quando eu vi ele ganhando da Cloud9, me deu uma motivação gigante para voltar", confessou.
RETORNO AO SERVIDOR
Por privilégio e muita bala, saffee conseguiu retornar ao competitivo com uma chance na
New England Whalers, em 2019. Apesar do time totalmente estrangeiro hoje, naquela época eram os brasileiros que davam as cartas por lá, e foi justamente com um ex-companheiro de time que o jogador da paiN Gaming daria início à sua escalada para o sucesso. Ao lado de Caike "
caike" Costa e Leonardo "
Torres" Souza, ele recebeu a proposta para fazer parte do projeto na
Paquetá Esports. Justamente defendendo a nova casa que saffee assumiu a função de AWPer, em março da temporada passada. Apesar das diversas ironias com o nick do jogador, foi jogando agressivo, e não safe, que ele se destacou no cenário.
Foto: Divulgação/paiN Gaming "Eu nunca tinha jogado de AWP na vida, nem no 1.6, nem no começo do CS:GO. Isso aconteceu em março de 2020, depois que houve umas mudanças na line-up da Paquetá. Então, não faz nem um ano que virei AWPer de fato. Sempre fui rifler", confessou. Justamente após começar a jogar com o rifle de precisão que o jogador teve o nome escrito no caderninho de talentos para serem observados no cenário brasileiro. Não por menos, conquistou o posto de MVP da Liga Dell de maio após ser campeão com a Paquetá. Mesmo possuindo diversos méritos próprios, saffee faz questão de exaltar os companheiros de time da antiga organização. Assim como fez com caike, ressaltou a importância que eles tiveram para que ele chegasse onde está hoje.
"Sempre serei grato por tudo que a organização fez. Tenho muito orgulho de ter feito parte daquele time e representado o nome de uma pessoa incrível. Sou muito grato, também, aos meus companheiros daquela época, pois o nível de dedicação do time era de outro mundo e todo mundo se dava bem".
A CHANCE DE OURO NA PAIN
Saffee foi anunciado em julho da temporada passada pela paiN Gaming e via no mês seguinte a participação do time confirmada na GC Masters. O que tinha de tudo pra ser uma estreia comum ou recheada de nervosismo se transformou em uma apresentação de gala. Chegando até a final do Major brasileiro, o jogador foi um dos destaques não só da grande final perdida para a
BOOM, como de toda competição. Em nível de comparação, ele teve o incrível feito de conseguir ter o mesmo Rating 2.0 do MVP do torneio, João "
felps" Vasconcellos. Definindo a própria GC Masters V como um
"campeonato mágico", ele revelou que a atuação de gala não foi previamente planejada:
"Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar ter feito um campeonato tão bom que, infelizmente, não saímos com o título".
Foto: Divulgação/paiN Gaming Apesar do vice-campeonato, saffee e a paiN Gaming não tem o menor motivo de sentir vergonha. Na grande final contra a BOOM, o time só foi parado pela equipe que varreu tudo no cenário passado. Mais uma vez consciente das próprias palavras, o AWper ressaltou justamente a atuação dos adversários, afirmando que foi mérito do adversário e não demérito da tag que defende.
"Eu sempre tive muita fé na minha volta ao Counter-Strike e acho que essa GC Masters serviu para eu realmente cravar que era pra eu estar aqui, jogando CS, fazendo o que eu amo e com a certeza que essa Masters sempre ficará guardada comigo". Agora em outro continente, saffee vive uma nova etapa da vida. Em uma grande organização que tem como objetivo lutar pelo domínio da América do Norte, o AWPer não consegue deixar de reparar a diferença entre um cenário e outro, afirmando que os times brasileiros costumam aproveitar mais a qualidade individual de cada jogador.
"Estar na América do Norte é muito bom pelos campeonatos que rolam. Acho que so times de lá, pelo menos do Tier 2, forçam muito mais para o lado tático do Counter-Strike do que para o individual. Já aqui no Brasil, sentia que os times tinham um individual muito bom e exploravam mais isso".
O 18º MELHOR DO BRASIL EM 2020
Pouco tempo disputando grandes torneios no Brasil na temporada passada foi o suficiente para que saffee aparecesse como o 18º melhor jogador escolhido pela
DRAFT5.
A alavancada na carreira que fez com que ele saísse do país foi, também, responsável por não deixá-lo permanecer mais tempo para aparecer em posições mais altas. Arte/DRAFT5 Entretanto, saffee teve o que era necessário para entrar para a história. Entre os destaques, está o já citado MVP da Liga Dell de maio. Um pouco antes disso, também garantiu o posto de EVP da
BPL S12, o primeiro do ano conquistado pelo jogador enquanto defendia a Paquetá. Em seguida, também pela organização do craque do Lyon, saffee foi um dos melhores jogadores e EVP da
AORUS #1 e teve um bom desempenho para repeti-lo, também, na
AORUS #2, onde não conquistou o título após ser vencido pela, até então,
Redemption POA. Entretanto, foi apenas no fim da temporada que veio o destaque mais importante da carreira de saffee, na GC Masters V foi EVP1. Tudo isso lhe concedeu 27,6 D5 Points.
As estatísticas de saffee no cenário brasileiro são dignas de estrela. Foi o segundo melhor em rating 2.0, terceiro melhor em ADR, o melhor KD entre os 20 nomes e o segundo maior impacto com 1.38. Arte/DRAFT5 Hoje consagrado como um dos grandes nomes que precisa ser visto com carinho, saffee já consegue traçar metas para este ano. Apesar de ter acabado de começar, guarda muita expectativa para a paiN Gaming, que cumpre quarentena para conseguir entrar nos Estados Unidos e se declarar oficialmente como um time NA.
"Primeiramente eu quero continuar ajudando a minha equipe da melhor maneira possível. Vou continuar me dedicando como sempre me dediquei para poder chegar o mais rápido possível no Tier 1 aqui fora e bater de frente com as melhores equipes do mundo", afirmou.