O Counter Strike é o jogo mais tático e com mais variações que se pode ter no cenário mundial do esporte eletrônico, isso acarreta numa série de dúvidas para o público geral assim que se vê a vias de uma mudança num quinteto sólido e quase que imutável com o passar dos tempos. Desde as primeiras conquistas internacionais em 2016, a SK mudou apenas uma peça do quinteto, manteve uma formação vitoriosa de quatro jogadores com uma ou outra mudança, que sempre surtiu efeito a curto e longo prazo, mas volta e meia vinha a se questionar. A história mudou nas últimas semanas com a saída de Epitácio "Taco" Pessoa, uma das peças que nunca havia se mexido. Com o quinto jogador já definido, como a equipe brasileira vai se configurar?
Qual o impacto da saída de Taco e como a SK se aproveitava de sua função?
Após despontar no topo do mundo, a primeira mudança que a equipe brasileira teve foi a saída de Licoln “fnx” Lau, mas há de se notar um ponto em todas as trocas que a equipe de Gabriel “Fallen” Toledo fez até hoje, sempre haviam jogadores certos para substituir. Com a saída do veterano supercampeão, a SK já pensava em João “felps” Vasconcellos. Logo depois, saindo Felps já se havia a certeza de Ricardo “Boltz” Prass. Vale ficar atento numa questão, todas as mudanças surtiram efeito quase que imediato. Uma época de títulos e ótimos resultados aconteceu depois de cada uma delas. Não há como afirmarmos se uma mudança de mentalidade sempre acontece ou se apenas um ar diferente de gente nova muda cada um dos jogadores do core da SK, mas fato é que impulsiona cada individualidade ao máximo.
Foto: HLTV
Aí que entra o impacto da saída de Taco comparada a saída de fnx, apesar de indiscutivelmente o veterano do 1.6 ser um dos melhores jogadores do mundo na função que faz, é uma role mais genérica, que justamente é onde mais se revela jogadores. Daquela equipe campeã da MLG Columbus, apenas o quarteto permaneceu. Mesmo criticado, é impossível de não se ver a função que Epitácio “Taco” Pessoa dava para o trio restante. O jogador potencializava o core da equipe com seu estilo de jogo para o todo. Exemplo disso é o formato de jogo de Fernando “fer” Alvarenga. É o membro da SK responsável pela flutuação no mapa, tiragem de informação e, na maioria das vezes, o cara que busca a jogada, até mais na função de playmaker do que Marcelo “coldzera” David, que por vezes mais age de suporte para fer do que qualquer outra coisa. Isolada a possibilidade de Fer fazer as funções de Taco, vamos ao restante. Coldzera é o melhor do mundo e como supracitado um jogador nativamente de suporte, colocá-lo numa função solo bomb ou fazendo ancoragem de qualquer dos bombsites seria um desperdício de teamplay do melhor jogador da função no planeta. Logo, impossível. Do trio central da SK, sobrou apenas Gabriel “Fallen” Toledo. Numa análise geral do cenário internacional e da formatação de meta atual, é quase que nula a possibilidade de se jogar o IGL e AWP principal da equipe dentro de um bombsite solo, uma pelo motivo de liderança. Fallen precisa ver o jogo e, mesmo que a passagem de informações seja excelente, não seria potencializá-lo ao máximo como líder, portanto seria um ponto negativo isolá-lo em um dos lados. Outro ponto é por ser mesmo o sniper principal, precisando geralmente de alguém para auxiliá-lo nas buscas por eliminações de entrada, tendo esse alguém a obrigação de vingar assim que Fallen morra na rodada. De uma forma genérica e direta, imagine uma entrada rápida ao bombsite B da Train onde Fallen segure a mega rampa de AWP, é impossível de se ver a parte de baixo sem ser eliminado e com a rotação ainda longe. Seria altamente punitivo a formatação de defesa neste estilo. É muito mais louvável um setup em que o capitão brasileiro seja o cara das rotações rápidas, auxiliando seu time de AWP.
É possível ancorar Stewie2K em um bombsite?
Visto o valor de Taco no passar de todo este tempo, analisamos agora uma potencial formação da SK. Jake "Stewie2K" Yip fazia uma função bastante parecida na Cloud9, enquanto de CT. Uma das melhores partidas dos norte-americanos no ELEAGUE Major Boston 2018 foi contra a mousesports no mapa Train, Jake ficou isolado no B na maioria das rodadas pelo lado defensivo. A qualidade do jogador, individualmente, é superior a de Taco, isso por si só é um upgrade de âncora de bombsite, isso se ele for unicamente substituir o brasileiro na função. Vejamos exemplos:
Situação 1 - Pre made | Stewie âncora de bombsite numa função parecida com a de Taco
Situação 2 - Formatação 2 - 1 -2, com Tarik morrendo em primeiro contato na megarampa. Em VERMELHO Autimatic de AWP é o jogador da rotação rápida (exemplo de Fallen na SK pela ligação), Rush em LARANJA trabalha na função de fer. Stewie em AZUL ancorando bombsite novamente.
Pre made da Cloud9 com Stewie de âncora
Pre made da SK com Taco de âncora
Com apenas 20 anos de idade, além de desempenhar função parecida com a de Taco, Stewie já foi IGL, AWP principal, lurker, suporte nativo e flutuador nos seus tempos de Cloud9. Durante muito tempo potencializou o crescimento de Rush e Autimatic, abrindo mão de ser a estrela da equipe. Enquanto isso, quem fazia tal coisa na equipe brasileira? Taco. Mas quanto ao lado terrorista? Stewie usualmente fazia uma função semelhante a de Taco. Na SK Taco era um entry nativo, segurava um dos lados até que uma mid game call viesse falando para que entrasse em algum ponto para puxar a mira dos adversários cravados e os suportes entrassem em ação. Ou seja, alguém já havia buscado a informação de onde os inimigos estavam postados. Na Cloud9, Stewie flutuava na rodada, era o cara que conseguia algumas informações e só aí que tentava uma forma mais agressiva, uma jogada diferente. Porém, igual a Taco, entrava a frente de sua equipe.
De uma forma geral, SK e Cloud9 até jogam parecido do lado terrorista, mas os brasileiros usam mais da individualidade para conseguir as rodadas, mais tentativas agressivas com entradas mais violentas, diferente da C9 que espera um pouco mais até que o primeiro contato é dado, para aí punir. Sendo assim, é provável que o lado mais fácil de se organizar seja o CT. Aliás, é onde grande parte dos analistas hoje colocam mais esperanças nessa nova SK.
A nova cara da SK e uma possível ajuda ao capitão
O estadunidense parece ser daqueles jogadores que não abre mão de um desafio, assumir a liderança da Cloud9 não foi fácil, ser o AWP principal enquanto Skadoodle estava fora também não foi tranquilo, mas parece que Jake fazia tudo assustadoramente bem, numa equipe que tinha toda uma pressão por resultados e por carregar o perseguido sonho norte-americano até o ápice da consagração com o título do Major. A experiência com liderança também pode ser um ponto de atualização na forma com que a SK se orienta. Atualmente o que sabemos é que Fallen é a principal mente da equipe, nenhum dos outros jogadores tem um jeito a mais de experiência tática para auxiliar o capitão. Com Stewie poderemos ver algumas mudanças, formas diferentes de abordagens, uma equipe um pouco mais atualizada, justo numa época em que parece que a famigerada rodada atrasada não dá mais certo, num cenário no qual todos parecem terem aprendido a jogar contra a melhor equipe brasileira de todos os tempos do CS:GO. Uma “segunda mente tática” não era vista na principal equipe brasileira desde a saída de Lucas “steel” Lopes e Caio “zqk” Fonseca, ainda em 2014, mesmo que num nível bastante inferior (na época), eram jogadores que já haviam experienciado a enorme responsabilidade de comandar uma equipe e que por ventura poderiam ajudar Fallen. Agora com Jake a equipe pode ter uma ajuda a mais nesse quesito, justo num tempo em que se vira novamente ao fato da falta de um treinador.
A linguagem é mesmo uma barreira?
Foto: HLTV
Muito se fala de como a equipe vai se comunicar a partir de agora. Porém, é uma preocupação mais do público do que dos próprios jogadores. Todos eles tem pelo menos dois anos de Estados Unidos, jogam todos os dias comunicando em inglês com outros jogadores, convivem com cidadãos norte-americanos e alguns deles até aulas já tiveram. É óbvio que jogar a vida inteira comunicando em português e ter uma mudança para o inglês, leva um tempo de adaptação, mas nada que o convívio não cure e nisto a SK é um passo a frente da grande maioria das equipes. É mais do que um time, acaba sempre firmando um vínculo mais forte de amizade e um climão de família, o que propicia o aprimoramento, seja ele pra qual for o motivo. Sinceramente, é um ponto mais complicado do que as próprias formatações táticas, mas é um ponto que apenas eles podem alterar e em conjunto. Aliás, o que se fala por todo canto é sempre que Stewie é um dos norte-americanos mais íntimos aos jogadores da SK, até mais do que Elige. Isso com total certeza é um ponto positivo na adaptação e foi também para a escolha do jogador.
Conclusão
Tanto SK quanto Cloud9 usam de configurações parecidas pelo lado CT, principalmente nos mapas mais jogados. Stewie fazia a função de solo bomb na equipe norte-americana e se os brasileiros optarem, dá para colocar ele na mesma posição de Taco sem tantos problemas de adaptação. Pelo lado terrorista a conversa é um pouco diferente, mas continuam com opções de configurações semelhantes as que se fazia, além disso tudo, um aumento no firepower geral do quinteto e um reajuste na mentalidade tática pode fazer da equipe brasileira novamente a número um do mundo. Basta esperarmos para um novo capítulo da vitoriosa história do país no Counter Strike.