O ano era 2017 e dois times brasileiros lutando pelo topo: SK Gaming e a Immortals. O primeiro vinha de três grandes títulos: a ESL One Cologne 2017, ECS S3 Finals e a DreamHack Open Summer 2017. Já a Immortals, que vinha acumulando falhas nos classificatórios para os Majors, finalmente tinha carimbado sua presença por lá.
Ao lado da Cloud9, os brasileiros chegaram no Americas Minor Championship por meio do convite da PGL, organizadora da competição. O confronto de abertura foi contra a Complexity, conquistando a primeira vitória sem sustos. Posteriormente, também venceram a LG na segunda rodada, avançando às quartas de final.
Na etapa decisiva, o favoritismo pesou para os brasileiros. Atropelos para cima de Counter Logic Gaming (CLG) e Cloud9 foram o suficiente para alcançar a grande final e, consequentemente, um lugar na seletiva internacional. No confronto valendo seed, deu Cloud9. Três mapas jogados e vitória norte-americana.
Antes da fase principal chegar, era necessário figurar as oito melhores equipes do classificatório fechado. Apesar de ter mostrado um nível altíssimo nos Estados Unidos, a Immortals não chegava como favorita; inclusive, nem era cotada para aparecer no evento principal. A vida do brasileiro nunca foi fácil e não seria dessa vez que as coisas mudariam.
Debutando na Polônia, o primeiro embate foi contra a G2 Esports, dreamteam francês. A primeira metade da Inferno foi assustadora, mas Vito ''kNg'' Giuseppe brilhou e foi o personagem principal no comeback. No total, sete pontos de desvantagem buscados e overtime garantido. Mas, vida de brasileiro nunca foi fácil. G2 foi superior no tempo extra, o que resultou na partida vencida por 22 a 20. O sonho foi iniciado com o pé esquerdo.
Enfrentando a equipe que sucumbiu para a GODSENT no primeiro confronto, a Immortals encontraria sua primeira vitória. Controlando a Cache, mas sofrendo de maneira demasiada após abrir o 13 a 2 na primeira metade, os brasileiros superaram a Dignitas e voltaram à estaca zero. O destaque daquela manhã foi Ricardo ''boltz'' Prass, com 27 eliminações.
No terceiro confronto, o clássico do futebol viria para os teclados. Brasil e Alemanha decidindo quem ficaria com a corda no pescoço. Assim como em 2014, na Copa do Mundo, o Brasil saiu derrotado. A BIG massacrou e garantiu a vitória na Cache por 16 a 9. Contudo, é importante lembrar de uma coisa: quem apanha nunca esquece. Guarde isso.
Precisando vencer ambas as partidas, o milagre brasileiro aconteceu. Tal como David Luiz na final da Copa das Confederações - naquela defesa contra a Espanha - , Henrique ''HEN1'' Teles acordara destinado em fazer história. Depois de perder a metade por 12 a 3, a Immortals, fazendo jus ao seu nome, não morreu. Somando 22 abates e apenas 4 mortes em quinze rounds, o jacaré resolveu. Esbanjando resiliência, a vitória foi brasileira (16 a 14). O sonho estava mais que vivo.
Fechando um capítulo da enorme história que estava sendo construída, a Overpass contra a HellRaisers foi no mínimo emocionante. Após abrir uma larga vantagem enquanto defendia, o ataque não teve a mesma assertividade e o jogo ficou complicado Porém, 16 a 13 confirmado em mais uma partidassa de boltalha. Estávamos no Major. A primeira parte da história havia sido escrita.
Nas partidas iniciais, o clássico brasileiro com a SK aconteceu. Mesmo perdendo a Overpass para os compatriotas, nada mudou e a Immortals passou de fase com 3V-2D. Aliás, ambas as equipes venceram as partidas necessárias e avançaram de fase, chegando nos playoffs em chaves distintas. Enquanto superava a BIG em um jogo que ficou marcado pelas provocações - incluindo os gritos de kNgV -, a Immortals via a outra representante brasuca cair para a Astralis nas quartas de final.
Garantida no TOP4 e na briga pela vaga na decisão, o duelo seria contra os donos da casa: a lendária Virtus.pro. Deixando o dramático enredo de lado, a Immortals não tomou conhecimento da rival, vencendo por dois a zero e cravando a bandeira do Brasil na final.
Do outro lado, uma surpreendente Gambit seria a segunda finalista, esquadrão que superou a favorita Astralis no estágio anterior.
Immortals e Gambit superaram barreiras da mesmice e protagonizaram uma decisão jamais imaginada. Nem pelo mais otimista torcedor. Além do troféu, o jogo também valia cerca de $350 mil, visto que o campeão ficava com $500 mil, e o segundo lugar $150 mil.
Cobblestone (Immortals), Train (Gambit) e Inferno (decider) foram os mapas definidos. No primeiro mapa, provando mais uma vez a força brasileira na Cobblestone, atropelo da Immortals. 16 a 4 e o sonho estava mais próximo ainda. Naquele momento, o famoso setup com duas AWPs de kNg e HEN1 era o assunto mais falado. Foi uma inovação. O Brasil mais uma vez mudava a forma de jogar Counter Strike. Estávamos no topo.
Na escolha dos cazaques (Train), o pesadelo começou. A defesa não foi suficiente e saímos derrotados na primeira metade, pontuando apenas seis vezes. Com a troca de lados sendo desfavorável, a Gambit manteve a soberania, cravou o 16 a 11 no placar e deixou tudo igual na série.
Um terceiro mapa nunca teve o nome fazendo tanto sentido quanto a inferno decisiva. O placar da primeira metade foi elástico, mas muito pelos mínimos detalhes. Um bom exemplo disso é a famosa granada de Mikhail "Dosia" Stolyarov, a qual posteriormente seria eternizada no Counter-Strike com um grafite na parede. Isso prova que, até quando os brasileiros pontuavam, algo dava errado.
E na segunda etapa do último mapa, a Immortals voltaria a ser pega de surpresa. Dessa vez, logo após levarem o pistol e os rounds seguintes, emplacando quatro em sequência e almejando a virada. Abay "HObbit" Khasenov venceu o clutch que mudou o rumo da partida. Se havia um sonho, ele ficou mais distante. Na piscina, durante o pós-plant, o cazaque superou os três adversários e, de forma magistral, anotou o décimo segundo ponto do ataque.
Com a vantagem que possuía, a Gambit fez bom uso da experiência da dupla Danylo "Zeus" Teslenko e Dauren "AdreN" Kystaubayev, fechando a partida em 16 a 10 e colocando o caneco em suas mãos.
Independente do revés na final, o saldo foi mais que positivo. O crescimento brasileiro no cenário internacional era evidente. O topo era nosso.
Entretanto, tudo cairia por água abaixo nos próximos meses - mas como sempre, é história pra depois...