G2000: Nivera - À sombra de uma máquina

Atualmente na Heretics, o belga de 19 anos é o irmão mais novo de ScreaM

por Lucas Benvegnú / 05 de Ago de 2020 - 14:55 / Capa: Arte/DRAFT5
Não são raros os casos de famílias que passam um negócio de geração para geração. Talvez na agricultura, ou no comércio, até mesmo em uma indústria. Por que não com o Counter-Strike?

Um dos mais icônicos jogadores da história do CS:GO, Adil "⁠ScreaM⁠" Benrlitom popularizou-se por suas incríveis habilidades mecânicas dentro do jogo. Headshot Machine, One Tap Machine, a lista de alcunhas dadas ao belga são extensas, e a gama de highlights por ele protagonizados consegue ser ainda maior.

Não é segredo para ninguém que ScreaM, após sucessivos insucessos no Counter-Strike, voltou seus olhares para o VALORANT. Mas ainda há alguém que cultive a tradição da família. Nabil "⁠Nivera⁠" Benrlitom ganhou destaque desde que se juntou à Team Heretics em março e, é claro, foi comparado ao seu irmão mais velho. No entanto, o prodígio quer mostrar que a sua própria história está prestes a ser escrita.

UM EMPURRÃOZINHO DO DESTINO


Os calendários estavam na página de junho de 2019 quando três velhos conhecidos de 3DMAX no Counter-Strike: Source cruzaram seus caminhos no casamento de um deles, Richard "⁠shox⁠" Papillon. Naquela ocasião, Boris "⁠flex0r⁠" Latry, o AWPer da antiga composição, datada de 2011, voltaria a conversar pessoalmente com ScreaM.

Foto: Reprodução/Instagram ScreaM (terceiro da esquerda para direita) e flex0r (último) reencontraram-se no casamento de shox (ao centro) Foto: Reprodução/Instagram


Assim, o francês revelou estar envolvido em um projeto denominado Wonderkids, que visava ajudar a desenvolver novos talentos do Counter-Strike de sua região: "O ScreaM me perguntou porque eu não chamava seu irmão para o time. Eu já havia chamado, mas ele havia recusado. Eu buscava por jovens para compartilhar minha experiência, dentro e fora do jogo"

"Ouvi falar do Nivera um ano antes, então comecei a assistir suas demos e percebi imediatamente que ele era insano. De início, ele recusou porque não queria deixar seu antigo time, mas no casamento, o ScreaM me disse que ele falaria com o Nabil para que ele se juntasse ao projeto", contou em entrevista à HLTV.org.

O SUBMUNDO DO CENÁRIO FRANCO-BELGA


Antes daquilo, os registros de Nivera apontavam que o jovem havia disputado apenas duas LANs. Por incrível que pareça, foi mais do que o suficiente para chamar a atenção de algumas personalidades do cenário, como o jornalista Guillaume "neL" Rathier.



Apesar de ter ao seu lado uma das figuras mais populares do jogo, Nivera explica que ScreaM não fez necessariamente parte em seu desenvolvimento como jogador: "Tudo aconteceu mais por minha conta e por parte dos times que eu joguei. Ele nunca tentou acelerar as coisas para mim, sempre quis que eu tivesse meu ritmo. (...) Apesar dele ter me ajudado com certos aspectos do jogo, eu cresci mais por causa dos meus companheiros."

Mas, nem só de flores vive alguém que por muitos ainda é visto como "o irmão do ScreaM": "Quero ser um bom jogador para que isso reflita bem em meu irmão, mas isso não me traz pressão. Eu acredito em mim mesmo e no meu jogo", aponta Nivera.

Foi apenas neste fatídico ano de 2020 que o mais novo dos Berlintom começou a ganhar mais notoriedade. Na Wonderkids, o prodígio, que naquela época atuava juntamente de Kévin "⁠misutaaa⁠" Rabier, hoje na Vitality, atraiu olhares ao levar a equipe às oitavas de final da seletiva aberta para a IEM Katowice, antes de sucumbir à experiente North.

Além de mais uma boa colocação no classificatório aberto para o Minor que levaria ao ESL One: Rio Major 2020, onde o belga apresentou bom desempenho mais uma vez, Nivera chegaria aos playoffs da LouvardGame 5.1, uma pequena, mas popular LAN de seu país, com performances estatelantes que o colocariam com o sonoro K/D de 1.55.

Foto: Louvard Game Nivera foi de longe o maior destaque da LAN que disputou em fevereiro | Foto: Louvard Game


Fato é que, apesar dos resultados no "submundo" do cenário francês, o menino Nivera não teve muito palco para mostrar sua qualidade individual. A verdadeira oportunidade só viria quando a Team Heretics de Fabien "kioShiMa" Fiey e Alexandre "xms" Forté viu-se reduzida a quatro jogadores após a conturbada saída de Jérémy "⁠jeyN⁠" Nguyen, ainda em março.

BATISMO DE FOGO


Logo no início de março, Nivera receberia sua primeira oportunidade realmente profissional: "Eu perguntei ao ScreaM se seria bom me juntar ao time. Ele me disse que o kioShiMa e o xms eram bons companheiros de equipe, pois ele já havia atuado com eles". Apesar da empolgação de um novo desafio, o jovem relutou, visto que teria que largar a AWP para se tornar um jogador híbrido.

"Largar de ser um AWPer e virar um rifler seria um sacrifício, mas eu percebi que seria um bônus, saber jogar com ambas as armas e ser considerado um jogador híbrido. Não gosto de ser alguém que só pode jogar com uma única arma", apontou.


Àquela altura, esperava-se que a estreia do atleta de apenas 18 anos ocorresse no Minor Europeu para o Major do Rio, já na Cidade Maravilhosa, no começo de maio. Entretanto, devido aos acontecimentos relacionados à pandemia de coronavírus que se sucederam, a competição acabou sendo extinta e disputada online.

Ainda assim, a estreia de Nivera demorou, mas saiu. Logo em seu primeiro compromisso junto à composição francesa, a CyberBet Cup 2020, o prodígio ostentou notáveis 1.29 de rating, sendo peça-chave na conquista de seu primeiro título: "Eu nunca havia vencido um torneio antes, então, quando eu entrei no time, minha meta era vencer um", contou.

Quase como um batismo de fogo, o ESL One: Road to Rio, foi o primeiro campeonato onde Nivera enfrentou jogadores de alto calibre do Counter-Strike mundial. Isso não significa que tal fato tenha sido um problema para o belga, que se saiu muito bem na competição, levando sua equipe a uma surpreendente sexta colocação, vencendo equipes como North, ENCE, Dignitas e Complexity na campanha.


Apesar de uma queda precoce na BLAST Rising, Nivera e seus companheiros voltaram a obter êxito em duas competições a nível doméstico, conquistando tanto a ESL Championnat National Summer 2020, quanto a ESL European Championship 2020, torneios onde o franzino jogador emplacou 1.76 e 1.24 de rating, respectivamente.

O final de temporada para a Heretics não foi dos melhores, com a equipe amargando as últimas colocações da divisão europeia da cs_summit 6 e da seletiva fechada para a DreamHack Open Summer, mas isso certamente não reflete o potencial da equipe, quem dirá de Nivera.

UM FUTURO PROMISSOR


Inegavelmente, a mira afiada é algo de família. A pouca idade mostra ser apenas um número perante a qualidade e a disciplina apresentadas por Nivera. Como é de conhecimento geral, uma boa mira não é o mais importante no alto nível do cenário competitivo de Counter-Strike.

O belga sabe bem disso. A tomada de decisões - e a maturidade apresentada nelas - impressionam. Outro ponto, que já foi até citado pelo próprio jogador, é a versatilidade. Definido por seu mentor flex0r como um "camaleão", animal frequentemente associado à resiliência de se adaptar à diversas situações, Nivera soube bem moldar-se conforme o estilo de jogo da Heretics.


O belga teve competência para optar por tornar-se um jogador híbrido a utilizar apenas a AWP. Certamente, um passo à frente na sua carreira, que tem tudo para ser tão notável quanto a de seu irmão. Tal fato é respaldado por seus highlights, que não restringem-se apenas às ocasiões onde ele tem a oportunidade de puxar a sniper.

O jovem franzino que cresceu à sombra de uma máquina quer agora construir seu próprio legado. Talvez a instabilidade proporcionada pelo estilo de jogo da Heretics não seja o lugar certo para que seu potencial seja exibido pelos quatros cantos do planeta, mas certamente é um bom e honroso começo. Nas palavras de flex0r, "se ele manter a mesma mentalidade, não há dúvidas de que ele estará na lista dos vinte melhores jogadores no próximo ano".
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