* Atualizada às 16h (de Brasília) com as respostas enviadas pela ImperialCristiane Queiroz, mãe de Matheus “brutt” Queiroz, e os familiares do jogador estão movendo ações trabalhistas contra Imperial eSports e Team Reapers pela morte do atleta em 15 de dezembro de 2019. São dois processos individuais e outros dois coletivos, que pedem indenizações totalizando R$ 936.106,65Esta é a primeira das três matérias do
Dossiê brutt produzido pela
DRAFT5 com base nos documentos referentes aos processos que a família do jogador esta movendo na justiça, os quais foram obtidos pela reportagem.
São quatro processos ao todo. Dois deles, abertos em setembro, buscam respectivamente os pagamentos R$ 6.626,56 da Reapers e R$ 9.480,09 da Imperial por erros cometidos pelos clubes quanto a aquisição do jogador e obrigações trabalhistas.Os outros dois foram iniciados em outubro e pedem indenizações de “danos morais reflexos” por supostas más-condições de trabalho oferecidas pelas organizações a brutt. Ambos são no valor de R$ 460 mil. Todas as ações são movidas pelo advogado Helio Tadeu Brogna Coelho Zwicker.A intenção de judicializar aquele que ficou conhecido como “Caso brutt” foi revelado pelo advogado da mãe do jogador ao START UOL e ge em abril de 2020. “Essas empresas têm responsabilidade, em tese, pela negligência sucedida por eventos que podem ter levado à morte de brutt”, comentou o advogado na época para o START.
Jogadores prestando homenagem a brutt na final do CBCS | Divulgação/CBCS
PROCESSOS CONTRA REAPERS
brutt vestiu a camisa da Reapers de 3 de dezembro de 2018 até 10 de novembro de 2019 e, no processo referente às obrigações trabalhistas, a mãe do jogador requer que seja reconhecido vínculo de emprego no período entre 22 de janeiro de 2019 até 6 de novembro de 2019, considerando-se “unicidade contratual”.Também são pedidos a assinatura de carteira de trabalho do jogador com o cargo de atleta profissional de CS e salário de R$ 1,2 mil; pagamentos de verbas rescisórias referentes a saldo de salário, férias proporcionais, salário proporcional, recolhimentos do FGTS durante todo o período, multas dos artigos 467 e 477 da CLT e recolhimentos previdenciários.Gabriel Siqueira Hentz é a pessoa contra a qual a mãe de brutt move os processos referentes a Reapers, que, em junho congelou os investimentos que faz nos esportes eletrônicos em decorrência aos danos financeiros causados pela pandemia do novo coronavírus. No processo, o proprietário da Reapers ainda é acusado de ter "fraudulentamente" extinguido, “voluntariamente” a organização logo após a morte de brutt, “quando tomou conhecimento da causa do óbito e da polêmica que havia sido instaurada em seu nome pelas más condições do ambiente de trabalho que proporcionava aos seus empregados”.E é por isto que a mãe de brutt solicita que Gabriel Hentz seja “condenado solidariamente” em conformidade com o parágrafo único do Art 10-A da CLT, a qual diz que “o sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do contrato”.
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A segunda ação, referente aos “danos morais reflexos”, àquele sofrido pelas pessoas intimamente ligadas à vítima direta do evento danoso, requer indenizações não só para a mãe de brutt, mas também para outros quatro familiares do jogador. Nesta, são listados oito fatores que, supostamente, contribuíram para a morte de brutt
- Falta de estrutura do imóvel onde residia e treinava para as competições;
- Água não era potável;
- Falta de condições adequadas de salubridade;
- Falta de alimentos adequados e balanceados à nutrição dos atletas;
- Falta de descanso da vítima, que passava 24 horas na gaming house sob as ordens da ré;
- Uso excessivo de headset;
- Falta de exame admissional, demissional ou periódico;
- Falta de assistência da empregadora, especialmente pela ausência de convênio médico que havia sido prometido na contratação do atleta.
Por conta disto, a mãe de brutt requer a indenização de até 50 vezes a remuneração do jogador, ou seja, R$ 100 mil para cada um dos membros da família, sendo pedido assim R$ 400 mil ao todo. Os outros R$ 60 mil são referentes aos honorários advocatícios.PROCESSOS CONTRA IMPERIAL
brutt foi anunciado como novo jogador da Imperial em 11 de novembro de 2019, sendo adquirido por R$ 25 mil de acordo com a ação trabalhista movida contra a organização. Nesta, requere-se também o reconhecimento do vínculo de emprego durante o período de 6 de novembro de 2019 à 15 de dezembro do mesmo ano, além da assinatura na CTPS com o cargo de jogador profissional de CS e salário de R$ 2 mil.Pede-se ainda pagamentos de verbas rescisórias referentes a salário atrasado (11/2019), saldo de salário (12/2019), férias proporcionais, 13° salário proporcional e recolhimento do FGTS. Também são requeridas a emissão das guias do seguro desemprego e do termo de rescisão de contrato de trabalho; aplicações de multas nos artigos 467 e 477 da CLT, além de recolhimentos fiscais e previdenciários.
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Na outra ação que move contra a Imperial, são pedidas indenizações para mãe de brutt e outros três por "danos morais reflexos". São listados os mesmos fatores presentes no processo da Reapers, assim como os valores: R$ 400 mil para a família e R$ 60 mil para pagamentos dos honorários advocatícios.AUDIÊNCIAS
Duas audiências públicas já foram realizadas no Ministério Público do Trabalho (MPT). Uma com a Team Reapers, no dia 4 de setembro de 2020, e outra com a Imperial, em 13 de novembro de 2020, a última por videoconferência.Gabriel Henz deixou claro na audiência que Reapers e Imperial são organizações distintas e que a única relação entre as duas foi a venda de brutt por R$ 25 mil em três parcelas:uma de R$ 15 mil e duas de R$ 5 mil, com a última sendo repassada para a mãe do jogador. Lá também falou que o clube já não se encontra mais ativo, mas que antes só passou a ter CNPJ a partir de junho de 2019 e que formalizou alguns contratos de trabalho, mas sem registro na CTPS e no e-social. Contudo, garantiu que houve recolhimento do INSS. O empresário disse ainda que, no ano passado, recebeu mensalmente R$ 7,5 mil pela participação do time em uma competição.Foi concedido ao clube o prazo de até 11 de novembro para que o mesmo juntasse os documentos referentes ao que foi dito na audiência:
- Demonstração clara e objetiva dos seus trabalhadores, do regime jurídico a que se vincularam, do período de trabalho
- Recolhimento do INSS dos empregados
- Exames ocupacionais realizados
- Controle de atividades dos atletas e do horário de trabalho através de documentação tal como planilhas
- Comprovante de pagamento dos prêmios
- Comprovante de pagamento pelo CBCS
- Notas fiscais de fornecimento de equipamentos para os atletas
- Notas fiscais dos prestadores de serviço de saúde fornecidos aos atletas
- Documentação relativa ao brutt durante todo o período em que passou pela Reapers, bem como da transferência para a Imperial
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Já a Imperial foi representada por Felippe Martins e outro sócio da organização Bruno Martins. Na audiência, afirmaram que cinco dos jogadores da equipe possuem contratos de prestação de serviços e um não, sendo este Lincoln “fnx” Lau, não tendo as carteiras de trabalho assinadas e que não foram contratados como jogadores. Os executivos da organização disseram também que brutt nunca solicitou qualquer medicamento à Imperial e que sabia que o jogador sofria de dores de cabeça, sinusite e etc, mas não a doença que causou a morte do atleta. Admitiram também que os integrantes do time não fazem exames admissionais e que, por ser prestação de serviço, nenhum realiza exames nem admissionais e nem periódicos. Deixaram claro também que brutt, quando foi contratado, não apresentou nenhuma doença e que não recebeu nenhum relato de incapacidade física no dia em que o jovem disputou uma partida do CBCS com uma toalha nas costas.Garantiram ainda que no dia 18 de dezembro de 2019 repassaram à mãe de brutt o valor de R$ 5 mil e que em janeiro foi depositado mais R$ 5 mil, além de um bônus pago ao atleta durante o período em que ele vestiu a camisa da Imperial e um auxílio de R$ 850 referente a uma tomografia feita pelo jogador. Também informaram que souberam da morte do jovem pela mídia.
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O MPT concedeu ao clube o prazo de até 14 de dezembro para a Imperial juntar documentos relativos a todos os fatos narrados pela audiência:
- Contrato da CBCS
- Contrato com a patrocinadora
- Controle da atividade dos atletas e do horário de trabalho através de documentação tal como planilhas de novembro até o presente momento
- Comprovantes de depósito dos honorários da psicóloga
- Contratos de prestação de serviço com os direitos de imagem
- Comprovante de pagamento dos prêmios
- Notas fiscais de fornecimento de equipamentos para os atletas
CONTESTAÇÃO
A Imperial foi a única que fez contestações quanto ao que foi dito pela defesa da família de brutt, sendo apresentado ao Tribunal Regional do Trabalho um documento de 36 páginas e 165 tópicos.Nela, a organização afirma que a família de brutt apresentou valores aleatórios no requerimento da indenização de R$ 9.480,09 já que afirmou, sem qualquer tipo de prova, que o jogador foi contratado com salário de R$ 2 mil. Classifica ainda as contas apresentadas como exageradas tendo em vista que o vínculo entre atleta e clube foi de 38 dias.Quanto ao valor pedido pela família de brutt, a Imperial afirma que já efetuou pagamentos superiores - dois depósitos de R$ 5 mil e o outro de R$ 800 -, mencionando que a defesa do jogador “parece esquecer do quanto foi ajudada em todas as suas solicitações, e agora atira para todos os lados em busca de indenizações” e que omite tais recebimentos.A contestação produzida pela Imperial diz ainda que a defesa da família de brutt produziu pedidos juridicamente impossíveis e que por conta disso o processo deve ser extinto sem resolução do mérito. Duas dessas solicitações, na opinião dos advogados da organização, são a multa de 40% sobre FGTS e a entrega das guias para recebimento do seguro desemprego.Para os advogados do clube, a família de brutt tenta responsabilizar a Imperial pela morte do jogador e que tal ação beira a má fé, buscando enriquecimento às custas de um falecimento prematuro, na qual não houve qualquer participação do clube, e que os familiares do jogador sabem qual a causa da morte do jovem e se furtam de informar em juízo.Quanto ao período em que brutt defendeu a Imperial, a organização afirma que adquiriu o jogador da Reapers pelo fato de tal equipe estar se desfazendo, com o jovem “ficando praticamente sozinho”, e por enxergar potencial no jogador. O clube aponta que houve um acordo feito para o atleta jogar eventos pontuais e a participação do mesmo se resumiu a dois jogos.
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A Imperial deixa claro que brutt chegou na gaming house já reclamando de fortes dores de cabeça, suspeitando que se tratava de necessidade de óculos, e quando elas pioraram o atleta “achou melhor” ir para o Rio de Janeiro, onde ficou internado por alguns dias e acabou falecendo, o que significa que o jovem ficou nas dependências do clube só por 23 dias.De acordo com o clube, o contrato apresentado pela família de brutt na tentativa da mesma de estabelecer um vínculo trabalhista entre o jogador e a organização não existe e que uma das provas disso é o fato do jovem ter realizado lives sem qualquer elo com a Imperial. Por conta disso, os advogados da organização julgam tal ação como má fé.Na contestação, a defesa da Imperial diz que a família de brutt “se utiliza da máquina Judiciária em busca de um enriquecimento sem causa” e, por isso, deve ser condenada a pagar multa de até 10% sobre o valor da causa e indenizar a organização pelas despesas que efetuou, fora que a conduta dos familiares do jogador deve ser enquadrado no artigo 940 do Código Civil por omitir o recebimento de R$ 10 mil após o falecimento do jovem.O QUE DIZEM AS PARTES
A
DRAFT5 entrou em contato com ambas as organizações, mas somente a Reapers não se pronunciou até a publicação desta matéria.
Já a Imperial afirmou que "
as pretensas questões trabalhistas que envolvem o atleta, foram discutidas e explicadas pontualmente e de forma clara por parte da empresa, nos autos do processo trabalhista, o qual poderá ser consultado pela redação"
*Para acessar as partes do documento em alta qualidade clique aqui.*Com a colaboração de Filipe Carbone. Continua depois do anúncio