-“Esse mapa é mais CT ou TR?”
- "CT", respondi.
E assim começava o meu verdadeiro contato com seu Clodoaldo Carlos, pai de Leonardo "leo_drunky" Oliveira.
-“Po, então tamo bem pra caralho”, foi sua reação com minha resposta.
Naquela altura a Sharks vencia o primeiro mapa (Mirage) por incríveis 9 a 0 pelo lado terrorista e aquele senhor ao meu lado não havia sequer parado de se mexer em quaisquer dos rounds.
-“VAI LÉO, PEGA ELE!”
Gritava, como que se de alguma forma enviasse uma mensagem diretamente ao filho que segurava a rotação dos CTs, marcando outro para os tubarões.
Já naquela altura, estava eu energizado com tamanha entonação de emoção e me sentia totalmente tentado a apoia-lo.
Ao passo que o sucesso do time do filho se engrandecia naquela partida inicial, mais histérico ficava. Porém, o segundo half veio e os adversários melhoraram. Aquele senhor então demonstrara algo que, confesso, me envolvi ainda mais.
-“Aproveitar que agora é eco deles. Sem vacilar.”
Até certo ponto tradicionalmente espantado, perguntei a ele se conhecia do jogo ou acompanhava o cenário.
-“Na minha casa hoje só dá CS:GO. O dia inteiro. No final de semana só Counter Strike. Eu fico assistindo os jogos dos adversários dele pra falar ‘filho, olha...’ eu sempre tento ajudar eles.”
É bem verdade que existiam outros pais naquele fim de tarde de domingo nos estúdios da ESL em São Paulo, mas Clodoaldo era incomparável, um ícone e aos poucos se tornava um dos protagonistas daquela MD5.
-“Eu posso apanhar, mas que eu vou bagunçar eu vou!”, afirmava ele enquanto me apontava um sorriso de felicidade nas mesmas proporções de tensão.
Aquele senhor inquieto não parou nem mesmo quando a FURIA começou a crescer na partida. Ao mesmo tempo que bradava gritos para disputar contra a torcida adversária, me direcionava um semblante preocupado com o resultado se apertando.
“Não podemos entregar”.
E daquela forma, cada round, cada eliminação, cada grito dos jogadores, seu Clodoaldo sentia na pele e como um espelho refletia na mesma intensidade, criando um ambiente verdadeiramente inspirador. Aquela arena montada era pequena para tamanha sintonia entre pai e filho.
Nas rodadas finais daquele mapa, a Sharks conseguiria a melhor, saindo a frente naquela disputa. Foi a primeira vez que os gritos se findaram.
Inferno era o segundo mapa. Diferente do anterior, o jogo estava mais apertado e o desespero batia
“Ver meu filho jogar é o dobro de emoção que eu sinto vendo o meu time de futebol. Fico muito apreensivo, torço, grito, tento passar energia positiva para ele”, disse-me ele em entrevista logo após o mapa.
“Aqui hoje, eu estava ali jogando e é claro que não dá para ficar olhando toda hora para a plateia, mas tipo, dentro de mim eu sabia que ele estava lá, torcendo por mim, gritando, vibrando junto comigo”, comentou Léo ao fim da partida.
“Acho que ele herdou um pouco de mim. Essa competitividade. Contagiar o time. Eu acho que precisa disso, uma pessoa pra falar ‘vamo lá, vamo acordar, vamo pra cima, nós somos capazes, vamos vencer.’”
E assim como o seu Clodoaldo afirmava, sim precisava de alguém com esse espírito e a Sharks possuía duas fontes dessa inspiração sanguínea familiar, aquela in-game de Léo e a out-game do pai.
Mas essa conexão entre pai e filho não estava presa apenas àquele momento na história da carreira do jovem de 18 anos.
“Quando deixei meu filho no aeroporto (para ir para Portugal), parece que voltei de luto de lá. Ele nunca havia saído de casa, era a primeira vez”.
“Lá (Portugal), quando eu precisava de um refúgio, eu não tinha”, comentou o jogador visivelmente emocionado.
Aquele último mapa correria nos moldes do início. Plateia ensandecida. Jogo pegado. Todos os olhares se viraram para ambos as telas do estúdio, mas os meus? Clodoaldo Carlos e suas reações.
Nem mesmo o melhor dos roteiristas poderia ter escrito, mas justo
leo_drunky conseguiria eliminar
yuurih finalizando aquela série e garantindo a passagem para Dallas.
Novamente Clodoaldo, num daqueles atos memoráveis que só alguém muito apaixonado pode fazer. Saiu correndo de seu assento e abraçou seu filho naquele curto palco.
Dallas nunca foi tão perto.
De alguma forma ao notar tamanho momento se mostrando a frente dos meus olhos, eu possuía apenas duas certezas. A primeira era que eu havia presenciado umas das possíveis histórias mais marcantes do cenário e a segunda é que eu tinha de conta-la.
Foto: @guerraesports