Conheça a Alma Agency, empresa que pretende revolucionar o agenciamento de jogadores de esports

Agência vem sendo pioneira no ramo em terras brasileiras

por Lucas Benvegnú / 22 de Ago de 2022 - 18:30 / Capa: Arte/DRAFT5

Salários exorbitantes e multas rescisórias multimilionárias. Já faz muito tempo que o Counter-Strike deixou de ser apenas um hobby para muitos e tornou-se um negócio com enorme potencial de mercado.

A necessidade de profissionalizar um cenário que, se comparado aos esportes tradicionais, por exemplo, está apenas engatinhando, é evidente. O desafio, no entanto, é botar a mão na massa e desbravar um ramo pouco explorado.

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É neste momento que surge a figura da Alma Agency. Sob a tutela dos empresários Vitor Vaccari Nunes e Oswaldo Fernandes Neto, a empresa é pioneira no agenciamento de atletas em solo brasileiro e tem por objetivo revolucionar um aspecto subvalorizado aos olhos de muitos.

A DRAFT5 conversou então com a dupla para entender melhor o funcionamento da agência, as ambições desta, a escolha dos talentos que trabalharão sob a marca e a recente transferência de Lucas "nqz" Soares, agenciado pela Alma Agency, à badalada 9z Team.

COMO TUDO COMEÇOU

Embora não seja o mais apaixonado dos fãs do Counter-Strike, Neto conta que enxergou na modalidade um mercado em potencial para expandir sua atuação, outrora exclusivamente limitada ao ramo do futebol. Ele, contudo, precisou buscar o conhecimento necessário para isso em terras estrangeiras:

"Fiz um mestrado em Madrid, na Espanha, em direito internacional do esporte, algo muito voltado para futebol, onde eu também trabalho. Fiz em 2018, para começar a trabalhar com futebol. Não sou um grande apaixonado dos esports, só jogo FIFA", brinca.

"Quando a gente teve a Alma, me apaixonei pelo CS. Fomos do céu ao inferno muito rápido, mas foi muito bom. Hoje gerencio carreiras de atletas de futebol com outros sócios", se apresenta Neto.

zmb, hoje capitão da FURIA Academy, com a camisa da Alma no CLUTCH S2 | Foto: Rafael Veiga/DRAFT5zmb, hoje capitão da FURIA Academy, com a camisa da Alma no CLUTCH S2 | Foto: Rafael Veiga/DRAFT5

"Com o tempo, estendemos este serviço para os esports. Era uma ideia desde o começo, pois acreditamos em uma evolução do mercado. Contratos maiores, melhora da qualidade dos jogadores, aumento do calendário, enfim. Acreditamos que em um futuro breve teremos contratos e transferências muito graúdas para negociar."

"O Vitor faz mais a parte comercial. Eu faço as vendas, o fechamento de contratos com os nosso agenciados, com os clubes, com as marcas, algo bem 360", explica.

Vitor, em contrapartida, faz questão de mostrar o quão vidrado é no universo dos jogos. Não por acaso, o empresário conta que chegou a tentar se lançar como atleta em tempos passados, mas logo optou por dedicar-se à profissionalização do cenário:

"Sempre fui vidrado em esports e jogos. Tive meu primeiro video game com três anos de idade, passava horas e horas jogando. Tentei ser profissional. Um dos meus objetivos quando entrei na faculdade de direito era profissionalizar o cenário. Não tenho a mesma especialização em direito esportivo, mas tenho curso de negociação. Faço a parte comercial, redes sociais, captação de patrocínios, participação em eventos", se apresenta Vitor.

Neto, aliás, explica que há uma grande lacuna quanto à regulamentação das relações trabalhistas nos esportes eletrônicos. Embora cada desenvolvedora tenha lá suas suas peculiaridades, existem tratativas nos bastidores para que tal aspecto evolua:

"Ainda não temos uma jurisprudência consolidada. Não tem lei e não tem entendimento consolidado, visto que os casos morrem no ninho. No setor privado, entre grandes organizações, existem conversas. Sou a favor para que todos trabalhem para aumentar o nível do negócio, em formatos de liga, como o CBLOL. É uma discussão rica", prega Neto.

"Quando você coloca gente que sabe discutir, quer melhorar e tem dinheiro de patrocinadores, sabe fazer o negócio, o cenário cresce. Quando você coloca política no meio, acabou. Vira mais um para comer da sua comida e não agregar em nada. Não acho que um órgão público ou ligado ao governo ajudaria, mas reuniões privadas já existem e são muito produtivas", completa.

"A burocracia não necessariamente é ruim, acaba criando um profissionalismo maior, algo que falta nos esports", pondera Vitor.

A ALMA DO NEGÓCIO

Embora a ideia de trabalhar com o agenciamento de jogadores seja antiga, a dupla optou por começar a se inserir no cenário com Alma Gaming, organização que desfrutou de alguns bons resultados domésticos na reta final de 2019, alcançando o CLUTCH - considerado àquela altura a liga de elite do CS:GO nacional.

"Eu me reuni com o Neto em 2018, quando a gente se conheceu. Eu conversei com ele sobre a minha ideia de fazer exatamente o que fizemos hoje como Alma Agency. Juntamos forças e ele disse que talvez fosse um caminho melhor começarmos de outra forma. Começamos como Alma Gaming, uns três ou quatro meses depois", relembrou Vitor.

FATAL, hoje treinador da Los Grandes, com a camisa da Alma | Foto: Rafael Veiga/DRAFT5FATAL, hoje treinador da Los Grandes, com a camisa da Alma | Foto: Rafael Veiga/DRAFT5

"Tivemos resultados acima do esperado. Montamos a equipe e em um ano estávamos no CLUTCH. Para nós, era algo inimaginável, porque o circuito surgiu para nós em um momento bem delicado. Demoramos seis meses para chegarmos a Liga Pro e quando subimos, a Gamers Club anunciou o CLUTCH. Apesar disso, quando tivemos a possibilidade do acesso, subimos."

Apesar dos êxitos da equipe liderada por FATAL, a pandemia chegou e com ela vieram as incertezas que até hoje pairam o cenário. O desafio de capitalizar em cima de um título que não dá às organizações uma garantia real de retorno pesou e a Alma Gaming logo trocou de foco.

"No fim das contas, não tivemos resultados tão bons e tivemos de cessar as atividades para ver o que faríamos. A pandemia teve parte nisso também. Passamos por um hiato, estruturando o que iríamos fazer, mas neste período já vínhamos trabalhando com alguns streamers. Em janeiro de 2022 lançamos a agência. Era nossa ideia desde o começo", conta.

AOS OLHOS DOS DONOS

Questionado acerca das negociações que levaram nqz à 9z Team, uma das grandes forças do continente sul-americano na atualidade, Neto destaca a atuação de Francisco "Frankkaster" Postiglione, CEO do clube argentino, nas tratativas pelo então prodígio da B4:

"O trabalho do Frankkaster acontece em um formato interessante. Ele é o dono, ele cuida de tudo. Inclusive, durante toda a negociação do nqz, ele fez questão de participar pessoalmente. É 100% envolvido, gera conteúdo e é muito carismático. Você assiste o cara narrando o jogo do time que ele dá o suor para ficar de pé, é diferente", afirmou o empresário.

Embora a Alma Agency só tenha assumido tal forma no começo de 2022, Vitor conta que a agência, ainda sem este rótulo, já teve em seu guarda-chuva nomes como João "felps" Vasconcellos, hoje astro do Fluxo, e Rafael "pava" Pavanelli, experiente nome do CS nacional que hoje foca seus esforços no VALORANT.

"Nossa ideia não era esperar o lançamento da agência, então eu comecei a trabalhar individualmente com pessoas até que pudéssemos trazê-las para a Alma Agency. Neste período de quase três anos já trabalhamos com profissionais como o felps, a izaa, o Pava, o nqz, obviamente. Temos um leque grande de pessoas que trabalham ou trabalharam conosco", explica Vitor.

O processo de buscar por potenciais clientes em um cenário que muitas vezes deixa a desejar no profissionalismo, no entanto, não é lá dos mais fáceis. Nessas horas, não é só o talento que ajuda a separar os touros dos terneiros.

felps está entre os nomes que já trabalharam com a Alma Agency | Foto: Saymon Sampaio e André Vieira/Fluxofelps está entre os nomes que já trabalharam com a Alma Agency | Foto: Saymon Sampaio e André Vieira/Fluxo

Conforme Vitor conta, é preciso traçar um perfil desejado, analisar a habilidade dentro do servidor, mas também levar em conta aspectos como profissionalismo, ambições, personalidade e probabilidade de retorno midiático.

"Quando temos um contrato, que é sempre longo, nossa análise vai entre um cara já pronto, que trará resultados imediatos, ou podemos buscar um talento como o nqz. Isso depende muito do jogo. Para profissionais, atletas, precisamos analisar friamente o talento", pondera.

Enxergar essas características em nqz, por óbvio, não foi uma tarefa difícil para a dupla, que já havia trabalhado com o jovem prodígio brasileiro durante os tempos de Alma Gaming, primeira equipe verdadeiramente profissional defendida pelo jogador.

"Estudamos muito nessas situações. O nqz foi um caso fácil porque já tinha jogado com a gente. Analisamos também outros fatores como personalidade. Queremos saber o direcionamento que o menino vai tomar, como lida com certas situações. Estamos aqui para ajudar, mas não adianta fecharmos com alguém complicado. O potencial ou existência de mídia também é muito importante", enumera.

"Hoje trabalhamos muito com percentuais. Não cobramos um valor mensal do nosso cliente para prestarmos uma assessoria completa. Cobramos pelos negócios que levamos ou participamos com ele", pondera Neto.

"Quando você se torna um atleta profissional, em algum ponto, vira uma celebridade. Muitos não estão preparados para isso. Eles entendem que o trabalho se restringe a entrar no servidor, jogar e treinar. É muito mais do que isso. É preciso conversar com a comunidade, com os fãs, passar informações para o clube", aponta Vitor.

EXPERIÊNCIA POSITIVA

Em um cenário que por muitas vezes ainda passa longe de qualquer profissionalismo, quem faz um trabalho verdadeiramente sério por vezes acaba sendo visto com estranheza. Neto acredita que o segredo para quebrar paradigmas é a postura adotada pela agência nas negociações:

"Creio que isso vai da maneira como você se comporta no contato. Um exemplo prático foi que, quando entramos na transferência do nqz recentemente, queríamos proteger nosso cliente, mas não como se fosse o único, como se eu precisasse fazer minha vida ali."

"Até achamos que encontraríamos uma resistência maior. Às vezes você fala: 'vou colocar um advogado, um agente na relação,' e a outra parte já imagina: 'os caras vão me sugar.' Sabendo disso, já entramos com uma posição pacificadora, sem ganância", afirma.

"Sabendo disso, sempre adotamos uma posição extremamente profissional, explicando sempre ao cliente, à família e à parte contrária cada "porquê" dos nossos pedidos de alteração, acréscimo nos contratos. No fim das contas, com tudo bem explicado, são as partes que decidem como prosseguir, somos apenas mediadores", conta.

nqz empunha o troféu da FiReLEAGUE 2022 junto da 9z | Foto: Divulgação/9z Teamnqz empunha o troféu da FiReLEAGUE 2022 junto da 9z | Foto: Divulgação/9z Team

"Tem organizações, no entanto, que sequer admitem a participação de um agente. Você não pode restringir isso. Tudo bem não colocar o advogado na mesa, mas ele tem de olhar o contrato, propor alterações. Vai demorar mais. Temos que fazer o negócio de maneira segura juridicamente e boa financeiramente", explica.

"Não sei como é no cenário em geral, porque a figura do agente ainda é bastante desconhecida. Não conheço uma agência que faça o que fizemos aqui, como os intermediários do futebol, mas sei que algumas organizações sequer permitem a nossa participação", pontua.

Vitor, de outro modo, explica a estranheza demonstrada por alguns clubes: "O que ocorre às vezes é um possível susto com a nossa existência. Dependendo da abordagem, esse susto se torna tranquilidade. Não estamos aqui para burocratizar ou atrapalhar algo. Queremos facilitar as coisas. A profissionalização que trazemos pode assustar."

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