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Boombl4: "Gosto de assistir os jogos da FURIA, o arT é um jogador maluco"

Capitão russo falou sobre sua trajetória, passando pela QBFire, Winstrike, até chegar à gigante Natus Vincere

por Lucas Benvegnú / 10 de Jul de 2020 - 13:28 / Capa: Adela Sznajder/DreamHack
Em extensa entrevista direcionada ao site especializado HLTV.org, Kirill "⁠Boombl4⁠" Mikhailo, In-Game Leader da Natus Vincere, equipe que atualmente ocupa o posto de número quatro nos rankings mundiais, falou sobre diversos aspectos de sua carreira, dentro e fora do jogo.

Dentre os destaques o russo revelou o gosto por assistir o Counter-Strike brasileiro, além de ter contado mais detalhes sobre sua passagem pela Quantum Bellator Fire, grande surpresa do ELEAGUE Boston Major 2018. Abaixo, você confere os melhores trechos.

Quando perguntado sobre as limitações de idade em um cenário onde novos nomes surgem constantemente, Boombl4 não estipulou uma idade limite: "Eu irei rever minhas performances anualmente. Eu vivo o presente e não gosto de prever o futuro, mas eu gostaria de jogar o máximo possível".

"Quando eu tinha cinco anos, meu primo Sasha me mostrou o CS 1.5 e eu lembro de jogar contra bots na cs_assault. Eu realmente gostava do jogo, e por uns cinco ou seis anos, eu joguei em servidores públicos locais da minha região. Depois disso, comecei a jogar outros games, como PointBlank e League of Legends. Em um verão, acabei por baixar o CS:GO e chegar ao Global. Aí eu percebi o que eu queria", revela o russo.

A pandemia mudou o estilo de vida de todo o mundo. Com o Counter-Strike, não foi diferente, mas por trás de todo atleta de alto nível, há também uma pessoa comum: "A pandemia realmente mudou minha vida, todo dia é igual e você se torna um robô, não tem vibração suficiente nisso. Sobre o coronavírus em geral, eu estou realmente preocupado porque tenho um irmão bebê, minha vó e meu vô, não posso ficar saindo desnecessariamente, visto que posso colocá-los em risco e me arrepender para o resto da vida", contou.

Um bom passatempo na situação atual do planeta é ficar em casa e assistir um Counter-Strike de qualidade. Para Boombl4, esse CS vem justamente do Brasil: "Eu gosto de assistir os jogos da FURIA. O arT é um jogador maluco, que constantemente rusha e avança, e ainda assim consegue manter boas estatísticas. Também gosto de assistir a Liquid, e digamos, a MIBR", aponta.

Já na hora de comentar a respeito da região em que gostaria de jogar, Boombl4 não escondeu o apego pelo CIS: "Eu sempre quis jogar nessa região. Aqui eu falo minha língua mãe e, com isso, tenho mais chances. Da perspectiva de onde seria interessante jogar, acho que poderia ser em qualquer lugar. O Bondik quase conseguiu isso, jogou na Europa, China e CIS", relembrou.

Altas multas rescisórias vêm se tornando cada vez mais comuns no cenário de Counter-Strike. Entretanto, muitos ainda questionam o quão benéfico, ou maléfico, isto é para o cenário: "É ruim quando jogadores são mantidos por organizações e altas multas rescisórias. Não faz sentido para outras organizações adquiri-los. Você pode até mesmo dizer que é uma forma de acabar com a vida de uma pessoa"

"Particularmente, eu não sei o que aconteceria comigo se a Winstrike não me deixasse vir para a NAVI. A questão não é tanto sobre multas, mas sobre organizações. Elas sempre têm de ajudar o jogador, e se ele quiser sair, elas devem tentar encontrar uma forma da transferência acontecer", declarou Boombl4.

Boombl4 contou detalhes sobre a passagem pela Winstrike, desde a chegada até a despedida | Foto: Bart Oerbekke/ESL


"Meu salário na QBF e na EPG era de $500. Quando assinei com a Winstrike, quintuplicou e, quando cheguei na NAVI, aumentou algumas vezes mais. Não fiz nenhuma grande compra até o momento, apenas ajudei meus avós a comprarem um apartamento nos arredores de Moscow. Já nas compras pessoais, comprei um iPhone, foi o máximo que gastei", conta.

O nickname dentro de um jogo é a identidade carregada por cada jogador. Apesar das dúvidas acerca de seu nick, Boombl4 afirma que jamais pensou em mudá-lo: "Quando eu jogava LoL, um dos meus amigos me chamava de Boomich porque eu era muito tóxico e sempre criticava os outros. Gostei do apelido e comecei a usá-lo"

"Quando apareci na HLTV, as pessoas começaram a fazer piadas com meu nick e falar sobre. Tinha muita gente falando a respeito. Boombla, Boombl4, Boomich - não importa como você pronúncia, as pessoas sabem de quem você está falando", garantiu.

Amizades e inimizades são coisas que se fazem presente na vida de todos. Alguns se destacam como amigos, outro como inimigos. Na hora de "dar nome aos bois", Boombl4 não se omitiu:

"Meu melhor companheiro de equipe é o flamie. Desde minha época de QBF, eu sempre falei que queria jogar com ele. Meu pior companheiro foi o wayLander, porque ele só queria treinar com o time, e nunca se dedicava ao treino individual. Sempre pedimos a ele para praticar com bots, mas ele dizia que não, não se ajudava. Eu realmente não gostava disso"

Hoje na pro100, wayLander foi apontado como o pior companheiro de equipe de Boombl4 |  Foto: Adela Sznajder/ESL


Os momentos de descontração para muitos dos jogadores de Counter-Strike acabam ficando dentro do próprio jogo, como é o caso dos jogadores da Faceit Pro League, a famosa FPL. Mas nem só de boas experiências vive a liga.

"Já pedi para o s1mple kikar o juanflatroo (ex-Secret). Ele constantemente rusha e come smokes. Ele pode arruinar uma partida. Não é legal jogar contra ele. Tenho uma certa aversão a ele"

"Não sou uma pessoa de muitos conflitos, mas eu realmente não gosto de certos jogadores porque são muito cheios ou tóxicos. Quando classifiquei para a FPL, fiquei AFK por um único round, e o k1to me deu um sermão sobre o quão errado era aquilo, pois eu acabara de me juntar à liga e seria kikado. Para ser sincero, fui kikado uns dias depois. Bubzkji também tem um comportamento estranho. Ele às vezes escreve coisas estranhas no chat. Já no pessoal do CIS, o Fast. É simplesmente impossível jogar com ele", alega Boombl4.

Voltando às origens, o capitão da Natus Vincere comentou sobre seus dias longe dos holofotes do CS:GO mundial. Durante a época de Quantum Bellator Fire, onde junto de seus companheiros de time, protagonizou uma das mais icônicas campanhas em Majors com uma line-up completamente inexperiente que alcançaria os playoffs do ELEAGUE Major Boston 2018.

Foto: HLTV.org QBFire de Boombl4 foi um dos maiores contos de fada da história dos Majors | Foto: HLTV.org


Os problemas com a organização viriam a aparecer, e a transferência para a Winstrike tornaria-se inevitável. A escalação não conseguiria manter sua vaga no Major após uma desastrosa campanha em Londres, o que levaria a equipe à uma completa remontada, encabeçada pelo próprio Boombl4.

"No começo, não foi tão ruim. Classificamos para o Minor e ficamos em terceiro, garantindo vaga na Repescagem, juntamente de North, ViCi e Envy. Tínhamos apenas uma semana entre o Minor e a Repescagem. Eu era o único que queria ficar na Polônia e continuar treinando, enquanto todos os outros queriam voltar para casa e descansar", relembra.

"Acabei convencendo a todos para ficarem. (...) Chegamos ao Major e perdemos para a NRG, e o coach deles, ImAPet, parecia arrogante. Ele mencionou em uma entrevista que eu era estúpido, um jogador agressivo, o que me machucou na época e, desde então, me fez não gostar dele. Depois disso, vencemos NiP e fnatic. (...) Depois, não conseguimos trocar com a ENCE, e isso causou conflitos pessoais. (...) Acabamos por enfrentar a Cloud9 e fomos eliminados do Major. Fomos mal na escolha dos mapas e estávamos completamente quebrados na partida", analisa o capitão.

Naquela época, o jogador, então com 20 anos, já levantava o interesse de grandes organizações: "Eu recebi grande parte das propostas nesse tempo em que estava remontando a Winstrike. Eu poderia ter assinado com a AVANGAR ou com a Gambit. Tive até uma oferta da chinesa OneThree", revela.

Uma pequena melhora nos resultados de sua equipe não o prenderia por muito tempo ao elenco. Seria impossível negar a proposta da lendária Natus Vincere, que ao final de maio de 2019, buscava substituir o longínquo Ioann "Edward" Sukhariev.

"B1ad3 (coach da NAVI) sempre teve interesse em mim. Ele me contou que queria me trazer para a NAVI há muito tempo. (...) Foi um misto de emoções. De um lado, eu poderia me juntar ao time dos meus sonhos, que estava dois ou três passo à frente de onde eu estava. (...) Do outro, eu estava deixando o time que montei logo antes de um Minor. Eu perguntei se poderíamos adiar a transferência, mas a NAVI então disse que eles contratariam outra pessoa. Eu fui egoísta na minha decisão, mas não queria deixar o meu lugar para outro jogador, eu não tinha o direito de perder essa chance", confessa.

E foi a partir desse ponto que Kirill se tornaria um discípulo de um dos maiores capitães da história do Counter-Strike: o multi-campeão Danylo "Zeus" Teslenko: "Jogar com o Zeus me ajudou bastante. Eu geralmente não tento copiar os jogadores. Eu dou meu melhor para pegar seus melhores aspectos e adaptar ao meu estilo de jogo. Tem muitos jogadores que eu assisto, mas eu não quero ser igual a eles"

Foto: HLTV.org Jogar ao lado do experiente Zeus foi um aprendizado para que Boombl4 pudesse se tornar um capitão | Foto: HLTV.org


"Eu quero criar minha própria compreensão do jogo e meu estilo. Danya (Zeus) é um líder e capitão excepcional. Você sempre pode confiar nele. Eu não entendia sempre seu jeito de passar as calls, já que ele não explicava a lógica daquilo. Ao contrário, eu tentava analisar as calls e tomar as minhas decisões. Eu não fui o único a aprender, mas eu prestava muita atenção às suas ações e calls", explica.

2020 começou bem para a Natus Vincere, mas tudo foi graças a uma mudança cirúrgica, que viu o veterano Ladislav "GuardiaN" Kovács dar lugar a Ilya "Perfecto" Zalutskiy no elenco russo: "Tínhamos uma lista de jogadores, até testamos alguns da nossa Academy, mas eu sempre fui a favor te contratar o Perfecto. Eu me lembrava dele em uma LAN que joguei com a QBF, onde enfrentei-o. Ele era muito bom, e depois provou ser ainda melhor com a Syman. Nosso treinador viu suas demos e também gostou dele. electronic seguiu a mesma linha, então decidimos que a melhor escolha era ele".

Mas, após os triunfos em LAN, que incluem o vice da ICE Challenge, uma excelente campanha na BLAST Premier: Spring e o título da IEM Katowice, a equipe não conseguiu replicar os bons resultados no online, após a transição para as disputas à distância devido à pandemia de Covid-19.

"É realmente difícil encontrar estabilidade no CS. Você pode vencer vários torneios em sequência, e depois perder apenas um, e isso fará você pensar que que está ficando pior, quando na realidade, os outros times estão crescendo. Você pode não ter treinado individualmente o suficiente, ou o oponente pode ser desconfortável de enfrentar. Nós, por exemplo, achamos desconfortável jogar contra a fnatic"

Foto: Helena Kristiansson/ESL Apesar de ter apresentado melhora, NAVI ainda precisa impressionar no online para voltar à antiga forma | Foto: Helena Kristiansson/ESL


"O único time a encontrar estabilidade foi a Astralis, e isso levou os jogadores ao burnout e ao recesso médico. A quarentena também tem um certo impacto, visto que você perde bootcamps, o hype dos campeonatos e as conversas pessoalmente, mas têm certos times que preferem jogar online. Por exemplo, nos RMRs, enfrentamos equipes que geralmente não vão à LAN"

Para eles, o online é o que equivale à LAN para nós. Eles acham mais confortável, estão no campo deles, enquanto o nosso campo é o presencial. Nos falta foco para o online. Estamos habituados apenas a treinar em casa. (...) Quando você está em um bootcamp presencial, você está completamente focado no jogo. Trabalhamos em cima disso, então acho que melhoramos nossa performance online", finalizou Boombl4.
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