Karina "kaah" Takahashi é inquestionavelmente uma das mais vitoriosas jogadoras da história do cenário feminino de Counter-Strike nacional. Colecionando títulos coletivos e honrarias individuais junto da FURIA, a atleta aparece dentre as três melhores do país pelo quarto ano consecutivo, faturando a prata nesta temporada.
Nascida no dia 22 de outubro de 1995, em São Paulo, kaah foi introduzida ao FPS da Valve pelo pai, Helio, que lhe deu a primeira conta na Steam com o icônico Counter-Strike 1.6. Todavia, foi só na era Global Offensive que a diversão tomou tons mais sérios, com kaah formando um time junto às amigas em 2013. Apesar disso, viver de CS àquela altura do campeonato não era uma opção plausível.
Foi preciso deixar a paixão de lado para se dedicar, ao menos até segunda ordem, aos estudos. kaah, aliás, é formada em Tecnologia em Produção de Música Eletrônica.
Anos mais tarde, já em 2017, kaah pôde voltar as atenções ao Counter-Strike, passando a competir junto da NumberSix e logo virando figurinha carimbada em alguns dos principais campeonatos do cenário feminino brasileiro.
Depois de encerrar 2022 com o vice-campeonato da Gamers Club Masters Feminina VI, a FURIA não perdeu tempo e resolveu mudar, trazendo Gabriela "bokor" Bokor para substituir Mariana "mari" Preste.
A mudança trouxe alguns bons frutos de início, com as furiosas sendo campeãs da primeira Cash Cup do ano e alcançando as semifinais da ESL Impact Katowice 2023, sendo eliminadas pela hegemônica Nigma Galaxy no torneio de $100 mil.
A equipe, todavia, sofreu um duro golpe já em março, perdendo Olga "Olga" Rodrigues para o projeto internacional da HSG. Foi preciso recorrer a Gabriela "gabs" Freindorfer, que já havia defendido a equipe entre janeiro de 2020 e setembro de 2021, para se reerguer.
Apesar dos pesares, kaah considera tal movimentação um dos grandes pontos altos do ano: "O momento mais especial do ano? Acho que foi a gabs ter voltado a jogar comigo. Passei por um momento bem turbulento do começo até a metade do ano por causa das mudanças dentro do time. O da gabs em especial foi um momento em que ela deixou claro que nunca me deixaria na mão quando eu estivesse precisando", contou.
O retorno de gabs, todavia, não representou uma retomada imediata da boa forma por parte da FURIA, que pela primeira vez na história acabou ficando de fora das finais mundiais da ESL Impact League, caindo diante da Black Dragons no duelo por uma das vagas destinadas à América do Sul.
Depois de tamanha frustração, resposta imediata com o título da segunda edição da Série Feminina da Gamers Club by Itaú, competição onde kaah faturou o prêmio de melhor jogadora. No restante do semestre, foco total em um objetivo de longa data: o tão sonhado acesso à Série A da Gamers Club by Itaú.
Após a parada na temporada, já em agosto, a equipe acabou ficando com o vice-campeonato da Gamers Club Masters Feminina VII, sendo superada pela B4 - grande rival de 2023 - em uma acirrada decisão que foi ao limite do tempo regular no terceiro mapa.
Embora a medalha de prata tenha representado mais um duro baque para uma equipe acostumada a empilhar troféus, as coisas logo se alinharam: em setembro, vice-campeonato da Série B da Gamers Club by Itaú, resultado este que fez da FURIA a primeira equipe feminina a subir para a Série A.
É bem verdade que a primeira participação na liga de elite da plataforma líder não saiu como o planejado, mas a experiência obtida não demorou a surtir efeito.
Em outubro, praticamente um tríplice coroa para a equipe: campeã da BGS Esports 2023 - conquistada justamente sobre o Fluxo Demons, antiga B4 - e da Super Edição da Série Feminina da Gamers Club by Itaú, além da classificação às finais mundiais da ESL Impact League S4 com o saldo perfeito de 7V-0D na etapa sul-americana do campeonato.
Para retomar a coroa de melhor equipe brasileira na atualidade, nada melhor que o título mais cobiçado do cenário feminino: a Gamers Club Masters Feminina VIII, conquistada sobre o MIBR já em novembro.
Na última exibição da temporada, gostinho de quero mais. Derrotada por 9 Pandas e NAVI Javelins, a equipe liderada por Izabella "izaa" Galle acabou ficando pelo caminho na fase de grupos da ESL Impact League S4 Finals em Valencia, na Espanha. Por mais que o resultado não tenha sido o desejado, fica o aprendizado:
"Encerrar o ano jogando em Valencia foi algo que precisávamos. A gente estava em um ano bem balançado por ter ficado uma edição fora (das finais mundiais). Tivemos um monte de mudanças internas e passar para jogar lá foi uma prova para gente que não é porque perdemos uma jogadora que viramos 'um time fraco'. Na minha concepção, estávamos tendo problemas internos que não conseguimos resolver. Fica o aprendizado de resolver esses problemas", ponderou.
Em meio à acirrada rivalidade que FURIA e Fluxo Demons - antes B4 - protagonizaram no cenário feminino brasileiro ao longo de 2023, nem mesmo kaah parece ter certeza de quem termina o ano à frente:
"Pelo que vi aqui, das seis vezes que nos enfrentamos, ganhamos cinco e perdemos uma, que foi a Gamers Club Masters VII que ficamos em segundo. Dos oito campeonatos femininos do ano daqui do Brasil que jogamos, ganhamos seis, perdemos um para o Fluxo e outro para a Black Dragons, onde ficamos de fora da ESL Impact League S3, que foi o campeonato mais importante do ano", analisou.
"Se a pergunta for FURIA vs. Fluxo, eu diria que nós terminamos à frente, mas ficamos fora de um mundial no ano e elas não, o que diz que, como time, no cenário em geral, elas podem sim ter terminado o ano na nossa frente", reconhece.
"Eu diria que todos os campeonatos representaram algo a mais pra mim esse ano, desde os últimos campeonatos no CS:GO, onde fomos campeãs, até a ESL Impact Valencia, que mesmo não passando para os playoffs, tive um desempenho bom individualmente. Eu estava bastante preocupada sobre como seria migrar para um jogo novo e também queria muito saber como estariam todos os times e jogadoras no jogo novo. Deu pra ver bastante coisa", examinou.
Ao longo de 2023, kaah apareceu entre as melhores jogadoras de competições disputadas em território nacional em sete ocasiões diferentes: destas, em seis a FURIA ficou com o título, sendo que em duas delas ela apareceu como MVP, enquanto nas demais ficou dentre as EVPs 2 do campeonato.
A atleta foi MVP da segunda Série Feminina da Gamers Club, bem como da ESL Impact League S4. Como EVP, kaah aparece nas listagens da Gamers Club Masters Feminina VII, ESL Impact League S3, Super Liga Feminina da Gamers Club, BGS 2023 e Gamers Club Masters Feminina VIII.
"Individualmente falando, eu estou satisfeita com o meu desempenho. É impossível eu querer desempenhar sempre bem quando também estou tendo problemas que fogem do meu controle e eu aprendi a reconhecer isso. Terminei o CS:GO e comecei o CS2 jogando bem na grande maioria dos jogos", afirmou.
Todos estes feitos colocam kaah como a segunda melhor jogadora do Brasil em 2023 com sonoros 170 DRAFT5 Points, cálculo que leva em conta o individual das atletas.
Apesar dos grandes feitos, a experiente jogadora não deixa de cobrar um melhor desempenho na próxima temporada: "Coletivamente, meu ano foi fraco. É o mais fraco desde que entrei na FURIA em questão de resultados. Ter ficado fora de um mundial teve bastante peso", lamentou.
Questionada sobre qual posição ocuparia na lista de dez melhores no Brasil em 2023, kaah por pouco não cravou: "Eu não sei dizer, talvez top 3?", questionou-se.
Perguntada acerca das expectativas para 2024, kaah foi mais uma a reclamar da redução no número de vagas destinadas à América do Sul para as finais mundiais da ESL Impact League, mas não deixou de olhar para a próxima temporada com otimismo no crescimento do cenário feminino.
"Os próximos passos com certeza são continuar o investimento. Infelizmente a ESL Impact diminuiu em um campeonato e uma vaga para nossa região no campeonato de Dallas, mas eu tenho esperanças que outros campeonatos também vão surgir pra compensar. Além disso, eu sinto muita falta do investimento do Brasil, mais organizações investindo no nosso cenário para termos mais times, mais jogadoras que acreditam que conseguem viver do sonho e consequentemente um cenário mais forte ainda", analisou.
Por fim, kaah - que foi mais uma a apontar Daniele "Dani" Cavallari, ex-DIVINA fem de apenas 16 anos, como nome a aparecer na listagem da DRAFT5 em 2024 - quer fazer diferente de 2023 para começar o próximo ano com tudo:
"As expectativas para 2024 são sempre as melhores possíveis. Eu me avalio bem no CS2 e acho que estou jogando bem o jogo. Agora é melhorar logo todas as questões que têm que ser melhoradas para que o ano comece muito melhor do que 2023", finalizou.