Consistência, experiência e muita qualidade são apenas alguns dos vários atributos que marcam a carreira da Gabriela "GaBi" Maldonado. A jogadora mais uma vez fez parte do melhor time brasileiro feminino, manteve as boas performances individuais e se consolida cada vez mais como a maior jogadora de CS:GO. Pelo terceiro ano consecutivo, GaBi aparece na lista do TOP 10 da DRAFT5 e foi eleita a 5ª melhor no ano de 2022.
Gabriel Maldonado nasceu em 1999 em Osasco, região Metropolitana de São Paulo. A relação com os jogos eletrônicos sempre esteve próxima, mas foi pela influência do primo que teve o primeiro contato com o Counter-Strike: Global Offensive: "Comprei o jogo, resolvi dar uma chance e estou aqui até agora".
O início da trajetória competitiva foi apenas em 2016, quando tinha 17 anos e formou o primeiro time após conhecer as companheiras por meio de um grupo do Facebook. Ela relembra que demorou um pouco para chegarem no nível dos melhores times em solo nacional, sempre batendo na trave e terminando em terceiro na Liga Feminina.
O cenário mudou na G3X Cup, chancelada por Alexandre "Gaules" Borba, onde GaBi e as meninas da Densa Squad surpreenderam ao eliminarem duas das favoritas, ProGaming e Pichau, e atraindo os olhares de todo o cenário.
"Lembro que haviam vários times com muito mais nome que o nosso e ninguém colocava muita fé na nossa equipe. Nesse campeonato, surpreendemos e ficamos em segundo lugar."
O primeiro título da carreira veio após três meses, quando soltaram o grito de campeãs da Liga Feminina de junho com a tag More Than You. Posteriormente, GaBi foi contratada pela ProGaming, onde passou cerca de dois meses com a equipe, mas finalizou a temporada atuando na semXorah. A jogadora também iniciou 2017 com a famosa tag e chegaram perto de conseguir uma vaga na Intel Challenge Katowice 2017, mas acabaram perdendo na final para as norte-americanas da silhouette.
O primeiro semestre daquele ano foi de bastante mudança para GaBi, que passou por Team One RED, Victory Pro e Team Innova Pink. Durante esse período, GaBi ajudou nas conquistas de mais duas Ligas Femininas e ingressou na Vivo Keyd em outubro daquele ano, onde construíram uma verdadeira Era no cenário feminino.
No final de 2017, a VK decidiu investir no cenário feminino pela primeira vez na história da organização e montou um megazord com as principais jogadoras, juntando GaBi, Juliana "showliana" Maransaldi, Pamella "pan" Shibuya, Camila "cAmyy" Natale e Bruna "Bizinha" Marvila. O elenco entrosou rapidamente, levantou o troféu da Brasil Game Cup Feminina 2017 e venceu a seletiva feminina para a WESG 2017-18.
O ano de 2018 foi ainda melhor na carreira de GaBi e o restante das meninas, conseguindo a vaga inédita para a IEM Katowice 2018. Na primeira LAN internacional, as meninas chegaram nos playoffs e caíram para a RES Gaming. Logo depois, a VK disputou a WESG, disputada em Haikou, na China, mas não tiveram o mesmo desempenho e saíram ainda na fase de grupos pelos critérios de desempate.
A equipe voltou ao Brasil com mais experiência e continuaram o domínio em solo nacional, ganhando mais uma Liga Feminina. Porém, a organização acabou dispensando o elenco por conta de problemas fora do servidor.
O time permaneceu junto jogando com tags fakes até serem contratadas pela OpTic Gaming, grande organização internacional, onde ergueram o troféu da Brasil Game Cup Female 2018. Um escândalo com a line-up indiana, onde Nikhil "forsaken" Kumawat foi banido em campeonato presencial por uso de cheats, afetou a equipe feminina da organização, que rompeu o vínculo contratual de forma unilateral.
Voltando a ficar sem uma casa, as jogadoras encerram a temporada sob a tag Time das Lindas e colocando mais um título na conta, a GAMECON Challenge CS:GO Feminino 2018. O Time das Lindas novamente ficou com a vaga para Katowice, em 2019, então a paiN Gaming não perdeu a oportunidade e assinou com o vitorioso elenco. Contudo, o time não conseguiu repetir o feito do ano anterior e não chegou na fase decisiva do torneio, assim como na WESG 2019.
Com a camisa da tradicional organização brasileira, GaBi e companheiras tiveram dificuldades ao longo do ano. Mesmo faturando a etapa semestral da Liga Feminina, a formação sofreu na liga de agosto e foi derrotada pela Vivo Keyd na BGC Feminina, não chegando sequer às finais presenciais.
A escalação ainda viu o longo tabu de vitórias na LAN, sem perder desde 2017, ser quebrado na seletiva nacional para a GIRLGAMER Esports Festival 2019, torneio que seria disputado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. As brasileiras foram derrotadas pela Isurus e acabaram na quarta colocação.
A histórica line-up começou a ser desfeita no começo de 2020. Apesar de não ser um fim dos sonhos para aquele time, elas escreveram juntas uma história dominante, com sete títulos e campanhas internacionais históricas para o Brasil naquela época, além de servir como inspiração para novas meninas.
GaBi saiu da paiN Gaming para ser uma das principais peças do projeto da FURIA, que iniciou os investimentos na cena feminina em janeiro de 2020. Mesmo com um ano atípico e difícil por conta da pandemia de Covid-19, a mistura de jovens com experientes deu certo e a FURIA dominou os torneios femininos.
O ano de 2020 foi mágico para as furiosas, consagrando-se campeãs por sete vezes, sendo duas edições da Gamers Club Masters Feminina — considerado o Major brasileiro. Além disso, a equipe se aventurou em torneios mistos, acumulando boas performances e dois vice-campeonatos - Gaming Culture Invitational 2020 e Gaming Culture Invitational Convergence 2020.
"Creio que a dedicação do time foi o que nos levou a ganhar todos os campeonatos, porque treinamos bastante todos os dias para conseguir mandar bem sempre."
Com o avanço da vacinação e as coisas voltando a normalidade aos poucos em 2021, a FURIA ganhou uma concorrente de peso com a entrada do MIBR no cenário feminino. A rivalidade ficou acirrada desde o começo, quando as furiosas perderam a final do Grrrls League 2021: Split #1 para o MIBR.
Elas conseguiram a recuperação nos meses seguintes e deram o troco no MIBR ao ganhar três eventos seguidos em cima das rivais. O posto de melhor time brasileiro ainda estava com a FURIA, mas a derrota na GC Masters Fem III surpreendeu todo o cenário, eliminadas para a Jaguares, que viria a conquistar o título mais tarde.
"Depois dessa derrota vimos que os times estavam muito equilibrados e com isso viemos com mais vontade para o segundo semestre."
A line-up passou por instabilidades nos meses seguintes, com muitas alterações na função de treinador principal e, principalmente, com a saída de Gabriela "Gabs" Freindorfer, que escolheu pendurar o mouse e se aposentou do competitivo. A escolha da substituta foi rápida e optaram pela Olga "Olga" Rodrigues, atleta que havia atuado durante os últimos dois anos pela Black Dragons.
O que parecia ser uma derrocada da FURIA, com derrota para underdog e instabilidades na escalação, não passou de uma crise passageira. Elas voltaram completamente dominantes no segundo semestre, ganhando tudo, não dando chances na GC Masters Feminina IV e terminando com 10 títulos na temporada.
"Em 2021, tivemos bastante dificuldade, mas os times femininos melhoraram bastante e deu para ver que ficou bem mais disputado. Nosso time se dedica muito, então esperava um bom ano. Acho que os dois títulos que tivemos em LAN foram os mais marcantes."
Antes de iniciar 2022, a cena feminina recebeu uma grande novidade por parte da ESL, que anunciou a ESL Impact, um circuito mundial feminino que distribuiria mais de $500 mil de premiação. Com isso, a FURIA chegou ainda mais motivada para a nova temporada, permanecendo com a soberania no Brasil e vencendo a edição sul-americana da ESL Impact.
No primeiro Mundial do ano, realizado em Dallas, nos Estados Unidos, a FURIA teve a primeira experiência internacional e logo mostrou o cartão de visitas. As meninas mostraram um jogo sólido, chegaram até a final, mas perderam para a Nigma Galaxy.
"Acredito que em Dallas (chegaram mais perto de derrotar a Nigma), porque conseguimos tirar um mapa delas, porém sentimos muito o cansaço na final porque jogamos uma série de três mapas contra a CLG e não tivemos tempo para descansar", explicou GaBi.
A FURIA anda disputou mais dois eventos internacionais em 2022, com a ESL Impact Valencia e a ESL Impact Season 2, esse último em novembro, na Suécia, onde as meninas tiveram um tempo de bootcamp na Europa como preparação. Elas voltaram a decisão nas duas vezes, mas a Nigma continuou sendo a pedra no sapato, ganhando os dois jogos por 2 a 0.
"As jogadoras da Nigma têm um individual muito forte e elas tomam as decisões muito rápidas. A gente vem trabalhando muito em cima disso para estarmos mais preparadas em 2023."
Embora o inédito título internacional para o Brasil não tenha saído, a FURIA não deixou cair o rendimento, superou a temporada anterior e levou 13 títulos em solo nacional. Mesmo assim, o final da temporada terminou de maneira amarga, com a B4 ganhando a GC Masters Fem VI em cima da FURIA.
"Eu sinto que os times estão cada vez mais preparados. Durante o ano inteiro não tivemos muitas dificuldades, porém o último campeonato do ano acabamos perdendo. O ano inteiro foi muito cansativo, a gente deu o nosso máximo, mas no final do ano estávamos esgotadas e acho que isso teve influência nesses últimos campeonatos."
O domínio da FURIA nos últimos três anos foi ainda mais importante para a carreira de GaBi, que já acumula mais de 35 títulos na carreira e consolida cada vez mais como a maior jogadora da história do Brasil.
"Eu fico muito feliz de poder inspirar novas meninas a jogarem e também é muito gratificante ser importante para o cenário, espero cada vez mais ajudar essas meninas e fazer com que nosso cenário cresça mais a cada dia."
Assim como apresentado em todos os textos anteriores, a lista de melhores no ano foi baseada em dois critérios: D5 Points e C Points. O primeiro remete às conquistas individuais, enquanto o segundo é sobre as conquistas coletivas.
GaBi foi bem regular ao longo de toda a temporada. Mesmo jogando em posições que não sejam para brilhar, a rifler somou sete EVPs, foi duas vezes a segunda melhor jogadora do campeonato – Ela Faz o Game e Liga Feminina da GC #3 –, além de ter sido a MVP da BGS Esports 2022.
Todas essas premiações fizeram a GaBi terminar com 74.4 D5 Points. Além disso, a experiente atleta teve 10 pontos acrescentados pelo C Points – cada ponto corresponde a um título em que ela foi listada.
"Acho que o segredo da evolução é sempre querer mais e treinar cada vez mais. Por conta da minha experiência e também por ser solo bomb, eu consigo passar muito confiança pro meu time tanto em calls e também por sempre ganhar bastante tempo quanto estou no lado CT. Acho que isso ajuda bastante meu time na vitória. Agora falando um pouco sobre o que falta no meu jogo, eu acredito que falta jogar contra times melhores para viver mais situações no jogo e sempre ter soluções."
O ano de 2023 já começou e o elenco feminino da FURIA não vai tirar muito tempo para descansar, porque vão iniciar nesta primeira semana de janeiro a preparação para a ESL Impact Katowice 2023, que acontece em fevereiro.
"Minhas expectativas são sempre as melhores, espero conseguir vencer o máximo de campeonatos e trazer um mundial para casa."
GaBi também tem ótimo olhar para as possíveis revelações. Em 2021, a atleta indicou Nadjila "poppins" Sanchez, que entrou no Top 10 da DRAFT5 nesta temporada, agora GaBi aposta em Karina "n4mie" Mazakina, que tem 18 anos e atua pela EndGame.