As melhores no Brasil em 2022: (2) – Giovanna "yungher" Yungh

Disciplina, dedicação e determinação. Fatores que levaram yungher a chegar ainda mais longe

Foto: Arte/DRAFT5 com fotos de Felipe Guerra e B4

No âmbito esportivo, constantemente, vemos atletas que precisam trabalhar muito para estar entre os melhores e vemos jogadores que já nascem com habilidade e competência suficiente para conseguir esse grande feito.

Giovanna "yungher" Yungh, a segunda melhor jogadora no Brasil em 2022 eleita pela DRAFT5, é uma mistura dos dois tipos. Com dedicação, disciplina, determinação e, acima de tudo, muita habilidade, a jogadora caminha para ser uma das maiores da história do nosso cenário.

Como começou

A relação de Giovanna com os games começou de forma peculiar. Não é muito normal ver os pais influenciando os filhos a passarem horas na frente de um computador. Esse não foi o caso de yungher, que teve sua primeira relação por conta da mãe, que "viciou" a filha em GunBound.

Na sequência, a influência continuou através dos primos, que colocaram o Counter-Strike na tela de Giovanna pela primeira vez. Na época, ainda muito nova, yungher se divertia somente contra os bots do jogo.

"Meus primos eram muito viciados em jogos, principalmente RPG. Mas, eles jogavam CS também e na hora eu quis. Daí eles foram na minha casa e baixaram pra mim. Era o CS 1.5. Eu jogava sempre contra bot, eu não sabia jogar online porque eu era muito, muito novinha. Essa foi minha primeira experiência com o CS", conta.

Divulgação/Black Dragons

Início da carreira

Apesar de gostar muito de Counter-Strike, yungher precisou interromper sua diversão. O jogo estava a atrapalhando a dormir, por conta de pesadelos. Sua mãe, então, decidiu desinstalar o game do seu computador.

A relação com o CS retornou anos depois, somente em 2016. Foi nesse ano que Giovanna conheceu Victor "remix" Monteiro, atleta profissional com quem se relaciona até hoje. O jogador foi responsável por introduzir yungher ao Counter-Strike: Global Offensive.

"Em 2016, eu conheci o remix. Ele me apresentou o CS:GO e eu fiquei encantada. Ele me levou em um evento gigantesco da ESL, em São Paulo. Eu nem entendia o que estava acontecendo, mas eu vibrava e torcia. Eu fiquei maluca. Foi ali que eu disse que queria aquilo pra mim".

Apesar de ter ficado encantada com o jogo em 2016, não foi fácil para yungher dar o seu primeiro passo rumo ao cenário competitivo. Ainda na faculdade, Giovanna queria finalizar a graduação para dar início ao seu sonho.

"Eu não via a hora de terminar a faculdade. Eu fiz quatro anos, mas chegou no TCC e aconteceram muitas coisas que me fizeram trancar. Meu maior objetivo era sair daquilo logo, pra começar a jogar e ser profissional naquilo. Porque era isso que eu queria pra minha vida".

Quatro anos depois de ter o seu primeiro contato com o CS:GO, ela foi contratada pela Black Dragons, sua primeira equipe profissional. Apesar disso, nada caiu do céu para a jogadora, que sempre lutou para conquistar o que conquistou.

"É muito gratificante saber que todo o esforço e todo o trabalho que eu tive, em pouco tempo, valeram a pena. Quando eu larguei tudo e finalmente foquei somente em jogar, eu passei um ano inteiro estudando o jogo junto com um amigo. Eu comi o jogo, eu estudei o que eu podia e o que eu não podia, pra entender e me sentir na altura das pessoas que eu admirava", disse.

Divulgação/Black Dragons

Primeiros anos no competitivo

Yungher vem encantando o cenário feminino de Counter-Strike desde 2020. Sua habilidade com a AWP em mãos é impressionante, e a jogadora é uma das que mais evoluiu no Brasil. Foi toda a dedicação da atleta que chamou a atenção da Black Dragons.

"A Black Dragons me chamou para fazer um teste e eu aceitei. Eu fiz o teste, foi super legal, deu tudo certo. No mesmo dia elas me deram uma resposta positiva. Elas gostaram porque eu disse pra elas me darem um feedback de todos os meu erros. Eu pedi pra elas me falarem qualquer coisinha errada que elas vissem, pra eu saber o que eu estava errando. Isso meio que chamou a atenção delas. Elas viram que eu estava na pegada".

Em 2021, Giovanna apareceu pela primeira vez na lista de melhores jogadoras do Brasil da DRAFT5. Eleita a oitava melhor atleta da temporada passada, yungher foi crucial para sua equipe chegar entre as melhores do país na ocasião.

Para ela, o momento mais marcante do último ano foi a conquista da Athena's Challenge 2021. "Foi surreal. Eu gritei tanto que minha pressão caiu, todo mundo ficou maluco. Foi muito engraçado. Esse dia é memorável", relata.

Ano novo, mais conquistas

Em 2022, a carreira de yungher decolou ainda mais. Com dedicação e disciplina, a jogadora foi essencial durante a temporada da sua equipe. Antes de deixar a Black Dragons, em junho, a atleta e suas companheiras deram mais passos importantes.

O primeiro deles foi a conquista da segunda edição de 2022 da Gamers Club Liga Feminina. Invictas, as jogadoras venceram o campeonato que foi muito importante para a sequência da temporada, de acordo com Giovanna.

"Foi muito importante para nós, pois estávamos batendo bastante na trave e a vitória nos trouxe uma confiança extra que precisávamos. Todo mundo continuou dando seu máximo e fomos melhorando tanto coletivamente, quanto individualmente".

Yunger durante a primeira GC Masters feminina da história | Foto: Felipe Guerra/Gamers Club

Em seguida, yungher e a Black Dragons viajaram para Dallas, nos Estados Unidos, onde disputaram a ESL Impact League Season 1. Esse foi o primeiro campeonato internacional da jogadora, que o descreve como um feito marcante.

"Quando ganhamos a vaga pro mundial em Dallas, eu só conseguia chorar. Estava prestes a realizar meu sonho de jogar um mundial e em lan. Eu nunca tinha jogado em lan. Sabia que teria a chance de conhecer mulheres e homens que admiro e poder trocar ideia sobre o jogo, conhecer novos costumes. Então, era uma sensação de gratidão infinita de poder estar vivendo tudo aquilo, de poder mostrar tudo o que a gente vem trabalhando para, de passo a passo, ir subindo cada dia mais. Essa experiência com certeza ficou marcada pra sempre, trouxe muito aprendizado pra todas e vamos continuar suando muito pra alcançar a FURIA e a Nigma nesse duelo pelo topo do ranking".

Após o torneio global, Giovanna e suas companheiras seguiram caminhos diferentes da Black Dragons. Com a saída da organização, as atletas procuraram uma nova casa, e logo em seguida fecharam com a B4 Esports.

Com a camisa nova, o elenco continuou performando bem, o que resultou em mais um título e mais uma participação em campeonato internacional. Após conquistar a MEG Female 2022, a B4 partiu rumo à ESL Impact League Season 2, dessa vez na Suécia.

Giovanna destaca a importância das competições internacionais para o sustento do cenário feminino de Counter-Strike. "É extremamente importante que uma organização de campeonato tenha feito três mundiais por ano pra nós. Uma coisa atrai outra e por aí vamos crescendo".

A jogadora também pontuou que ter essa visibilidade internacional pode servir como incentivo para quem quer entrar na carreira profissional de esporte eletrônico e também para pessoas mais velhas, que se inspiram nos feitos dos mais jovens.

"Acabamos sendo 'vista' por mais investidores, por pessoas que já têm ou criam interesse sobre o assunto do esports. Acabamos sendo vistas também por crianças, adolescentes e até adultos que geram interesse e se inspiram nisso de alguma forma", disse.

No retorno ao Brasil, a experiência angariada ao longo das competições fizeram efeito. Com muita garra e emoção, a B4 derrotou a FURIA na grande final da Gamers Club Masters Feminina VI. Giovanna comentou sobre a sensação de desbancar o segundo melhor time feminino do mundo.

"Foi extremamente importante essa vitória pra cada uma de nós. Sabemos que elas tiveram uma temporada muito superior, mas a vitória nos mostra que podemos também brigar pelo topo e estamos lutando bastante por isso. Com certeza esse título acende uma faísca gostosa pra esse início de ano pra nós, mas é manter o foco, continuar trabalhando e tentar ser constante nisso. Sabemos que podemos".

Divulgação/B4

Resumindo bem, a temporada do elenco formado por yungher foi muito boa. A jogadora e suas companheiras fecharam o ano com três títulos importantes e duas participações em eventos internacionais.

Ao fazer um balanço sobre toda a temporada vivida pela sua equipe, Giovanna pontuou que não faria nada diferente e afirmou que "as coisas aconteceram da forma que deveria ser". Além disso, a jogadora destacou o apoio recebido pela B4 e, principalmente pelos funcionários da organização.

"Nosso time veio numa crescente muito boa, tanto coletivamente quanto no individual de cada uma e tenho certeza que o Dan, nosso psicólogo, tem muito envolvimento nisso. Ele fez um trabalho excelente com nós desde o primeiro dia. Também teve a B4 que disponibilizou uma casa com a Tia Susy e Tia Maísa (melhores do mundo) pra gente morar uns meses, basicamente como família. Então, tudo isso fez parte da nossa evolução esse ano, fora a dedicação de cada uma no jogo".

Desempenho invidual

Para chegar no segundo lugar da nossa lista de melhores jogadoras de 2022, yungher brilhou e muito. Ela foi eleita MVP de cinco campeonatos, incluindo a segunda etapa da Liga Feminina e o MEG Feminino 2022. A atleta foi a primeira em DRAFT5 Points, que são os pontos relativos às listagens de EVP e MVP.

Além disso, a atleta foi a melhor jogadora da quarta etapa da Liga Feminina, da ESEA Cash Cup Spring 6 e da primeira etapa da Aorus League Feminina. Isso mostra o quão forte e impactante yungher foi para sua equipe nessa temporada.

Ao falar sobre um suposto "segredo" para subir tão rápido no ranking de melhores jogadoras da DRAFT5, a jogadora foi sincera e destacou a sua dedicação. "Não existe segredo. Acredito que tem a ver com o quanto você se dedica e o que você faz nesse tempo que você se dedica. Desde que comecei a jogar, sempre quis estar entre as melhores, e desde então trabalhei muito pra isso".

Arte: DRAFT5

A atleta também se demonstrou feliz pelo reconhecimento, mas pontuou que mais importante que os prêmios individuais, são os títulos coletivos. "Fico extremamente feliz de estar sendo reconhecida, mas o que me importa mesmo é título coletivo. Quero ganhar campeonato e estamos muito focadas nisso".

Para o próximo ano, Giovanna quer ver o seu time dominando o cenário. "O objetivo é o de sempre: continuar almejando o top 1 e trabalhando pra alcançar ele, tanto pro coletivo, quanto pro individual. Com pé no chão, cabeça no lugar sempre, muita dedicação e vontade de vencer de todos".

Prognóstico para 2023

Como de costume, pedimos para as jogadoras citarem três atletas que podem aparecer na nossa lista da próxima temporada. Para Giovanna, três jogadoras prometem crescer bastante de produção no próximo ano: Sofia "xan" Manhães, Isadora ”yodinha” Zago e Bruna "Babs" Nycoly.