Gabriela "Gabs" Freindorfer é certamente um dos nomes mais vitoriosos da história do cenário feminino brasileiro de Counter-Strike: Global Offensive. Embora hoje a paulistana já esteja oficialmente aposentada das competições, seus feitos são mais do que notáveis.
Sua paixão pelos jogos vem da infância. Sua história com o Counter-Strike, por sinal, entrelaça-se com os caminhos que seguiu até hoje. Apresentada ao CS 1.5 por seu irmão mais velho, Gabs fez do clássico e soberano FPS um amor à primeira vista. Então com oito anos, Gabriela rendeu-se aos encantos do simples, mas cativante jogo.
É bem verdade que a agora ex-jogadora, hoje com seus 25 anos, não é lá uma veterana, mas sua idade engana. Esbanjando experiência, a jogadora foi forjada no ambiente mais raiz possível para o CS: as icônicas LAN houses. Ela, aliás, relembra ser geralmente a única garota a perambular por tais territórios, costumeiramente dominados pelos meninos.
Durante boa parte de sua carreira, Gabs teve de se dividir entre o Counter-Strike e os estudos. Por mais que atualmente o cenário feminino seja forte - ao menos em terras brasileiras - onde é fomentado majoritariamente por iniciativas como as da Gamers Club - nem sempre foi assim. Não muito tempo atrás, até mesmo as melhores do país precisavam buscar meios para que em um futuro não tão distante pudessem viver de uma carreira verdadeiramente rentável.
O desejo de Gabriela, aliás, passava pela área das exatas. Aprovada no vestibular para a Faculdade de Engenharia Industrial, a FEI, a jogadora passou cerca de dois anos cursando Engenharia Civil na Instituição. Todavia, à medida em que seu caminho no FPS tornava-se mais brilhante, a dupla rotina passou a ser um problema. A paixão pelo CS:GO, então, falou mais alto.
Os primeiros registros de Gabs no cenário competitivo de Counter-Strike passam pela respeitada tag da semXorah, ainda no final da era 1.6. Nos tempos de Global Offensive, Gabs passou a traçar definitivamente seu caminho rumo ao topo, defendendo algumas das mais respeitadas equipes que passaram por estas terras tupiniquins.
Do início promissor na ProGaming Esport, passando pela Remo Brave, chegando à estrangeira Alientech, Bootkamp Gaming, Não Tem Como e Bar Sem Lona. Gabs venceu e convenceu por onde passou. Esta última tag, aliás, reservou grandes momentos para a atleta e suas companheiras. Embora ela e sua equipe - que sequer recebiam um salário àquela altura - tenham esbarrado na hegemonia construída pelo TiMe DaS LiNdAs em solo brasileiro, o vice obtido na GAMECON Challenge CS:GO Feminino 2018 foi o suficiente para chamar a atenção da Vivo Keyd.
Sob o banner de uma das mais tradicionais organizações do Brasil, Gabs angariou o título da Brasil Game Cup Feminina 2019 após MD5 diante da Team One da menina prodígio Gabriela "bokor" Bokor. Os resultados expressivos, no entanto, não seriam capazes de manterem a Vivo Keyd atrelada àquele elenco feminino.
2020 então se iniciava com a busca por uma nova casa. Gabriela, todavia, mal sabia que o capítulo mais altaneiro de sua história no CS estaria reservado para seus dias de FURIA. Foi em janeiro de 2020 que Gabs chegou ao gigante clube brasileiro para compor o primeiro elenco feminino deste no CS:GO.
Apesar de todos os pesares que vieram junto de 2020, o ano foi de saldo positivo para Gabs e sua recém-formada FURIA. Entre uma troca de line-up e outra, uma verdadeira dinastia foi solidificada pela equipe no cenário feminino nacional. Não havia rival à altura daquele elenco.
Foram oito títulos ao longo de 2020 que decretaram: o Brasil tinha uma dona, e esta era a FURIA. 2021, entretanto, trouxe junto de si uma oponente que talvez fosse capaz de frear Gabs e seu esquadrão furioso: o MIBR reativara sua divisão feminina de Counter-Strike e mirava derrubar sua principal rival na busca pelo topo do país.
O amargo vice-campeonato do primeiro split de Grrrls League 2021 diante do MIBR acendeu o sinal de alerta do lado furioso, mas nada de muito significativo. Não demorou para que a equipe fosse capaz de voltar aos trilhos e reencontrar o caminho que levava ao mais alto lugar do pódio.
Vieram então três títulos em sequência sobre a maior rival: WESG 2021 LATAM - este disputado presencialmente no Rio de Janeiro - AORUS League 2021 S1 e a primeira edição da Liga Feminina da Gamers Club no ano. Apesar do terceiro lugar na Athena's Challenge 2021, os bicampeonatos na Liga Feminina e na AORUS League não demoraram a chegar.
Apesar da surpresa que foi o título da Jaguares na Gamers Club Masters Feminina III, bem como o bronze da FURIA na competição de R$60 mil, nada de terra arrasada pelo lado das tropas de Gabs. Cabeça erguida e rumo a mais um título em LAN: o segundo split de Grrrls League 2021, conquistado após uma acirradíssima decisão diante do MIBR.
Para Gabs, o ano se encerraria com chave de ouro ainda em setembro. Menos de dez dias após o tricampeonato da Série Feminina chancelada pela Gamers Club, a jogadora anunciaria sua aposentadoria do cenário competitivo para se dedicar à criação de conteúdo e às streams, ainda sob o banner da FURIA.
Eleita a quinta melhor jogadora do país em 2020, a atleta crava seu nome na décima colocação em 2021 muito por conta de sua ausência nos últimos campeonatos da temporada. Apesar de ter competido apenas em 9 dos 12 meses do ano, Gabs foi gigante enquanto vestiu o manto furioso nas mais prestigiadas disputas do cenário feminino nacional.
Ela, não por acaso, angariou o status de EVP em seis dos torneios que disputou ao longo do ano. Nesse bolo de torneios onde Gabs se sobressaiu estão ambos os splits de Grrrls League, duas edições da Série Feminina da Gamers Club, além de uma temporada de AORUS League e da WESG LATAM 20/21.