As melhores no Brasil em 2020: (7) – gabee

Jogadora se destacou com três título, um MVP e quatro EVPs, resultando na posição de número 7 de nosso top 10 feminino

Foto: Arte/DRAFT5
Mineira de Uberaba, Gabriela "gabee" Velasco possui uma trajetória profissional marcada pela força da amizade e companheirismo que encontrou na cena competitiva de Counter-Strike: Global Offensive. Uma das principais peças da FURIA na temporada, precisou se reafirmar dentro da própria casa para ir rumo ao topo do cenário brasileiro. Quem de longe observa uma estrela em ascensão cumprir todos os objetivos traçados no início da carreira, pouco imagina os desafios que o personagem em foco passou para ir rumo ao topo. Entre ficar sem modem em casa por proibição dos pais a largar uma faculdade de Engenharia da Computação, há os casos e situações que dão força àqueles que sonham com o sucesso.

O INÍCIO DA TRAJETÓRIA

Nascida em 1998, gabee veio ao mundo pouco antes do estouro do Counter-Strike nas lan houses. Muitos anos depois, a jogadora amadureceu junto com o FPS, apesar de ainda não conhecê-lo. Entretanto, isso não significa que ela já não gostava de competitividade. Com apenas 14 anos, já atuava pela equipe BlackLegendz no Combat Arms. Ao perceber que "o jogo foi falindo", como dito pela própria jogadora à DRAFT5, gabee parecia se preparar ainda mais para o que lhe guardava no futuro. Coincidência ou não, a sagitariana colocou à prova uma das principais características do nono signo do Zodíaco e se aventurou em um universo completamente novo que ainda não conhecia.
Foto: Rafael Veiga/DRAFT5 Foto: Rafael Veiga/DRAFT5
"Meu amigo fazia parte do mesmo time masculino e falou pra eu baixar Counter-Strike para poder jogar um jogo diferente do que estávamos acostumados na época. Eu decidi dar uma chance porque não gostava de ficar jogando jogos aleatórios. Já estava com 17 anos quando comecei a jogar só Counter-Strike", disse gabee. A trajetória, no entanto, não foi a mais fácil. Nem todo o talento e personalidade forte permitiam que gabee fugisse daquilo que nem ela queria encontrar. Sem "apoio nenhum dos pais na época", ela via o maior desafio justamente ao querer se dedicar totalmente ao jogo. Na mitologia, o Centauro representa a junção da natureza animal com todos os instintos do ser humano. Não se sabe o que passou na cabeça de gabee ao deixar a faculdade de Engenharia para focar em um jogo de computador, mas, certamente, o instinto da sagitariana falava alto o suficiente para ela querer ser ouvida. "Eles tiravam meu computador, tiravam o modem de casa e levavam para o trabalho". Apesar de todas as conquistas como profissional, talvez poucas superem a de conseguir fazer a própria vontade frente a dos pais. Para isso, contou com o apoio de amigos da época da faculdade, para quem desabafava sobre a relação com o Counter-Strike a ponto de fazê-los dizer: "Cara***, você joga demais".

O MOMENTO DE VIRAR PROFISSIONAL

Talentosa e recheada de habilidade no FPS da Valve, gabee ainda precisava virar profissional mesmo com todas as dificuldades. Entretanto, qual é o momento ideal em que um jogador percebe que precisa subir de nível para alcançar o sonho que almeja? Sem os pais para ajudar na caminhada, ela seguiu se apoiando nos amigos para "continuar focada no objetivo". Já possuindo experiência no competitivo de outro FPS, o olhar clínico de gabee se tornou ainda mais favorável para a decisão. Unindo o apoio dos colegas à própria visão que possuía de si mesma no jogo, foi o suficiente para dar o passo mais ousado que a levaria para o topo do cenário apenas alguns anos depois. "Meus amigos falaram que eu tinha um potencial muito grande. Eu tinha uma visão disso também. Eu me dedicava muito, aprendia bombas, movimentação, spray... Tudo sozinha, sem pedir ajuda para ninguém". Audaciosa e extremamente dedicada em realizar os próprios sonhos, gabee viu a carreira decolar na mesma proporção em que ela aprendia a jogar Counter-Strike. Apesar de jogar em um time fake "por diversão", não demorou para ter a primeira oportunidade em uma grande organização. Ao lado de grandes nomes, gabee era anunciada em fevereiro de 2019 para defender a INTZ. Ao lado de Claudia “Santininha” Santini, Jessica “fly” Pellegrini e Juliana “ujliana” Scaglioni ela viveu um ano de mais baixos do que alto, mas viu no fim da temporada a recompensa vir como um pote de ouro no arco-íris para seguir sonhando com um futuro próspero.

O VALOR DE UMA AMIZADE

Se pessoas que não possuíam nenhum envolvimento profissional no Counter-Strike já foram de suma importância para gabee, que dirá àqueles que a vida se encarrega de apresentar justamente no meio e momento que mais precisamos. Hoje separadas competitivamente, a sétima melhor jogadora do ano eleita pela DRAFT5 gratifica à santininha por tudo que vive.
Gabee e santininha na GIRL Gamer em 2019 | Foto: Reprodução/Instagram
De acordo com a própria gabee, ela foi a responsável por lapidá-la e transformá-la na jogador que se tornou. "Minhas primeiras atuações foram bem fracas por parte do individual, até porque eu era crua no competitivo. Mas, com o tempo, eu fui aprendendo. Fui sendo lapidada pela Santininha, melhor IGL que tive, e comecei a me desempenhar bem". MVP da Rainhas do Clutch, a jogadora também aproveita para colher os próprios louros. Apesar de afirmar que chegou onde chegou "por conta da Santininha", gabee também ressalta o próprio mérito que teve na caminhada. Ainda assim, afirma que a ex-companheira de time "foi a base" em todos os dois anos que atuou profissionalmente ao lado dela e se diz "muito grata por isso".

O FUTURO PRÓSPERO

Depois de muitas decepções, a recompensa veio nos últimos meses do ano. Primeiro torneio presencial da gabee, o título do classificatório GIRLGAMER Esports Festival 2019 foi inesquecível e "mais marcante" da jogadora. Como se a conquista não fosse grandiosa o suficiente, também foi por meio dele que a INTZ garantiu passagem de ida para o evento principal, em Dubai. Queira gabee ou não, uma classificação para um torneio internacional interfere da melhor maneira possível no psicológico. Além disso, a jogadora mal poderia imaginar o ano totalmente atípico que teria pela frente. Por isso, pode sentir orgulho de ser uma das únicas do Brasil a ter disputado um torneio presencial em 2020, fazendo com que todo o aprendizado naquela competição tivesse peso de ouro, assim como grande parte de Dubai. "O momento mais marcante da minha carreira foi quando ganhamos a GIRLGAMER em São Paulo, em 2019. Foi a minha primeira experiência em LAN e, apesar de na época só ter praticamente dois anos de competitivo, conseguimos nos consagrar campeãs de um campeonato muito importante que nos deu a vaga para Dubai", afirmou.
Gabee junto da INTZ no que considera como momento mais marcante da carrreira | Foto: Rafael Veiga/DRAFT5
Nos torneios que disputaria na sequência defendendo a INTZ, gabee teria duas eliminações para a FURIA, onde veria o presente se cruzar em um futuro próximo. Ainda assim, teve no decorrer de 2020 experiências mais agradáveis e melhores recordações. Entre elas, uma final de Liga Feminina, perdendo justamente para as Furiosas. O segundo semestre do ano passado serviu para sacudir a poeira e fazer a jogadora mudar de ares depois de tanto tempo. Assim como todas as meninas da INTZ, passou a defender a Soberano e, por lá, garantiu a classificação para a primeira edição da Gamers Club Masters feminina, onde terminou na terceira posição.

DIAS DE LUTA, DIAS DE GLÓRIA

A linha do tempo de gabee na reta final de 2020 pode ser resumida em uma palavra: conquistas. A jogadora chegou na FURIA com a difícil missão de substituir Bruna "bizinha" Marvila, que ia para o banco de reservas da equipe. Uma das melhores jogadoras do Brasil dava espaço à uma aposta que estava prestes a se tornar realidade. O anúncio aconteceu no dia 29 de outubro e pouco mais de dez dias depois gabee era apontada pela DRAFT5 como MVP da Rainhas do Clutch, onde garantia a primeira conquista do ano. Se um é pouco, a recém-chegada rifler da FURIA ainda teria muitos mais motivos para sorrir no decorrer do restante da temporada feminina. "Cheguei em um ponto excelente da minha carreira ao entrar no melhor time do Brasil, mas não posso dizer que estou no melhor momento porque tenho muita coisa pra aprender e acrescentar no meu jogo", afirmou gabee. Última peça adicionada na FURIA para o restante do ano e para a próxima temporada, gabee indica alguns dos principais nomes que fazem com que ela se sinta em casa. Apesar de ser grata à todas as companheiras de time, ela faz questão de citar Gabriela "GaBi" Maldonado e Izabella "Izaa" Galle, atual IGL do time. Capitã do time, Izabella foi a responsável por auxiliar a recém-chegada no momento em que firmou contrato com a FURIA."Foi a que mais me ajudou quando entrei. Me deu a direção das coisas e sou grata também por essa ajuda e acolhimento que eu tive".
Gabee junto da FURIA em 2020 | Foto: Gui Caielli/FURIA
Em relação à GaBi, apontou como ela "é uma jogadora incrível", que está sempre ajudando no que é precisa dando dicas quando está errado e no que pode melhorar. Mas, independente dos nomes dados por gabee, ela revelou em que momento percebeu que o time tinha de tudo para se tornar um dos melhores da história do cenário feminino no Brasil. "Percebemos que o time poderia ir mais longe quando fizemos o bootcamp e todas tinham o mesmo objetivo. Não era só ganhar o campeonato da GC Masters, mas, sim, evoluir mais rápido como um time. A base do time já era a melhor do Brasil antes de eu entrar", assumiu a jogadora. Por isso, ela tinha como principal objetivo não só ajudar a equipe, mas de dar o melhor dela a cada dia que fizesse parte do quinteto: "Entrei com minha missão particular de dar 1000% para continuar no topo. Conseguimos nos consagrar campeãs dos três campeonatos que jogamos juntas. Somos, sem dúvidas, o melhor time do Brasil".

A 7ª MELHOR JOGADORA EM 2020

E gabee não se enganou nas contas. Foram, de fato, três títulos em um intervalo de dois meses desde quando começou a vestir a camisa da FURIA. Se a Rainhas do Clutch e a GC Masters já não fossem o suficiente, gabee também se viu triunfando na BGS 2020, onde garantiu a terceira conquista da temporada e fechando com 100% de aproveitamento nos torneios que disputou. Mas se títulos são importantes, a jogadora também se fez presente em diversos torneios do ano desde o início da temporada. Na GC Masters, por exemplo, foi apontada como uma das melhores jogadoras do torneio. Com um KDR de 1,23, foi uma das melhores da FURIA no principal torneio da temporada.
Arte/DRAFT5
Além disso, também teve outras estatísticas mais do que fundamentais para colocar as Furiosas no caminho do título. Efetiva com o rifle em mãos, conseguiu +21 KD/Diff ao terminar o evento com 111/90. Por fim, teve uma das melhores taxas da HS do certame, com 51% de abates conquistados após balear o adversário na cabeça. Se tratando de indicações que fazem com que ela esteja pronta para entrar na lista da DRAFT5, gabee foi apontada pela equipe como EVP da primeira e segunda edição da GC Masters feminina, além da Girl Power Invitational e BGS Esports. Por fim, claro, o posto de MVP do Rainhas do Clutch. Tudo isso gerou cerca de 24,4 D5 points, quase dez a mais que a oitava colocada. Com pouco tempo de casa, gabee ressalta que a temporada de 2021 tem de tudo para ser ainda mais próspera que a anterior. Adaptada e cada vez mais confiante, a jogadora ressalta que o objetivo principal é continuar fazendo com que a FURIA seja o melhor time do Brasil e galgar passos ainda maiores se destacando, também, no cenário masculino. Entretanto, a determinada jogadora não deixa de ressaltar o quanto dará duro para conseguir "evoluir cada vez mais em time e individualmente". "Podem esperar uma gabee diferente dentro do server. Vou me dedicar mais e mais, dar tudo de mim para que isso aconteça. Confio no time que tenho e sei que com elas isso vai acontecer".