Gabriela "
Gabs" Freindorfer, de apenas 24 anos de idade, é uma das jogadoras mais experientes do cenário feminino de
Counter Strike: Global Offensive. Apesar de nova, a paulistana coleciona títulos em seu currículo e foi uma das peças mais importantes da engrenagem da
FURIA - campeã de oito torneios ao longo da temporada - em 2020.
A caminhada da jogadora no circuito competitivo iniciou mesmo há quatro anos, mas o amor pelo jogo vem desde a infância. Gabs sempre esteve inserida no mundo dos jogos, por meio de
tabuleiro, baralho, console, mobile, mas o amor à primeira vista foi com o FPS da Valve - através do saudoso
CS 1.5. O irmão mais velho foi o responsável por apresentar o jogo para a menina de oito anos na época.
"Invadi o computador do meu irmão mais velho para jogar e foi daí que eu me apaixonei pelo CS. Comecei no 1.5 ainda como criança e passei por diversas modalidades: Half-Life, CS 1.6, non-steam e, atualmente, no CSGO." Gabs é oriunda do maior celeiro de jogadores de Counter Strike: as lan houses - ainda populares nos primeiros anos do século XXI. Mesmo jovem e quase sempre a única menina presente no ambiente, Gabs passou a acompanhar o irmão nas idas às lan houses. Foi lá que a primeira oportunidade surgiu após completar para um time durante um torneio.
Gabs é a que está no meio | Foto: Arquivo pessoal Posteriormente, com cerca de 15 anos, a aspirante a jogadora passou a frequentar mais as lan houses e dar os primeiros passos, participando de campeonatos e conhecendo as pessoas. "
Me apaixonei pela ideia de ser profissional no jogo e comecei a frequentar todos os outros campeonatos femininos que tinham na época".
A QUASE ENGENHEIRA CIVIL
Gabs sempre conciliou o amor pelo Counter Strike com os estudos, afinal o cenário de esports ainda dava os primeiros passos em busca da profissionalização. Mesmo fazendo corujão e indo para escola muitas vezes sem dormir, o desempenho escolar de Gabs não foi afetado, mas ela alerta para a importância dos estudos para quem está começando: "
Eu acho muito importante manter os dois até PELO MENOS se formar na escola, que foi o que eu fiz". Antes de concluir o ensino médio, a estudante já sabia que gostaria de cursar Engenharia Civil. Familiarizada com as matérias de exatas, Gabs prestou vestibular e entrou na
Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e por lá permaneceu por mais de dois anos. Na faculdade, a situação de conciliar o período de estudante com o de jogadora começou a ficar inviável.
"Foi quando eu tive que optar por jogar ou estudar, mas depois acabei trancando porque quis me dedicar somente ao jogo. Acredito que se fizermos muitas coisas ao mesmo tempo, não conseguimos dar o nosso 100% em nenhuma delas." Tirando a preocupação inicial dos pais, Gabs sempre contou com o apoio dos familiares e dos amigos ao longo carreira - principalmente com a estrutura do cenário evoluindo ano após ano.
FOCO COMO JOGADORA
A primeira tag defendida de forma mais profissional foi a icônica
semXorah ainda no CS 1.6. Já no Global Offensive, a promissora jogadora iniciou os trabalhos dentro do servidor na
ProGaming Esports, em 2016. Posteriormente, a paulistana passou por muitas organizações, como Brave e-Sports, Team Alientech, Bootkamp Gaming, Não Tem Como e Bar Sem Lona. Gabs com a camisa da Alientech | Foto: Reprodução/Youtube/HyperX Brasil Foram dois anos pulando de time em time, mas se engana quem pensa que isso um dia desmotivou a jogadora. Até pelo contato muito cedo com os jogos, Gabs sempre foi um dos rostos mais conhecidos do cenário feminino, que passou por muitas mudanças neste período.
"Eu falo para mim mesma que eu cresci junto com o cenário. Quando eu entrei era bem "fraco", profissionalmente falando, não se ganhava salários por ser jogador. Quando você acompanha esse processo, você acaba reconhecendo muito mais o valor dele." Gabs somou conquistas e vices ao longo desse período, mas a segunda colocação da
GAMECON Challenge CS:GO Feminino 2018 foi determinante para o novo rumo da jogadora. Com uma boa campanha na competição, a equipe de Gabs acabou derrotada na grande final pelo
TiMe DaS LiNdAs - considerada a melhor equipe feminina naquela momento. O desempenho atraiu a atenção de uma das organizações mais tradicionais do Brasil. Gabriela “
gabs” Freindorfer, Amanda “
AMD” Abreu, Ana Claudia “
ninha” Barbosa, Shayene “
shAy” Victorio e Karina “
kaah” Takahashi, que atuavam juntas pela tag
Bar Sem Lona, foram contratadas pela
Vivo Keyd no fim de 2018. O time passou por algumas mudanças durante o ano de 2019, mas a base ficou mantida pela temporada inteira.
Foto: Rafael Veiga/DRAFT5 "Estávamos com a line da VK há muito tempo e encerramos ela com uma vitória incrível na BGS 2019 (contra a Team One em uma MD5). Acredito que foi um período de amadurecimento como jogadora para todas nós." O caneco levantado não impediu a saída da organização do CS:GO. A VK dispensou os times femininos e masculinos da modalidade no fim daquele ano.
365 DIAS DE FURIA
O fim de um projeto vitorioso não desanimou as meninas, que permaneceram juntas e foram em busca de uma nova oportunidade. O reconhecimento pelo trabalho veio dias depois e com muita responsabilidade, já que seriam a primeira line up feminina da história da
FURIA - eleita a melhor organização brasileira de 2020 pelo
Prêmio eSports Brasil.
"Quando o convite da FURIA veio para nós, ficamos extremamente felizes e lisonjeadas. Apesar de ser o primeiro contato da organização com uma line feminina, eles carregavam um nome forte. Não é um time, é A FURIA. Isso deu um choque de realidade maior em cada uma pra entender que é trabalho, vamos vencer!" Algumas mudanças ainda ocorreram antes do sucesso, com as saídas de Goddess e ninha para as entradas de Gabriela "
GaBi" Maldonado e Izabella "
Izaa" Galle. O investimento, sem dúvida, valeu a pena, afinal a FURIA dominou completamente o cenário. A equipe faturou oito campeonatos ao longo da temporada, inclusive as duas edições da
GC Masters feminina (Major brasileiro).
"Se for pensar em títulos, pode sim dizer que foi o melhor ano da minha carreira profissional. Dominamos o cenário feminino no ano inteiro e isso é algo a se aplaudir de pé." Foto: Divulgação/FURIA De acordo com a jogadora, não existe uma receita pronta para o time se destacar. O importante é o trabalho feito todos os dias e isso foi destacado com a saída de Bruna "
bizinha" Marvila para a entrada Gabriela "
gabee" Velasco.
"O importante é entender que qualidade é melhor que quantidade. Não acredito que resultados bons nascem do nada, eles são frutos de horas "estudadas". Qualidade em um treino faz toda a diferença e foi assim que iniciamos um bootcamp quando a gabee entrou no time, tentando sempre manter esse idealismo." Tirando a GC Master II, o esquadrão ainda ganhou mais dois campeonatos com a nova integrante:
Rainhas do Clutch e
BGS Esports 2020.
A 5º MELHOR EM 2020
O desejo da menina de oito anos se concretizou em 2020 na sua melhor forma. Além das conquistas coletivas, Gabs fez valer os anos de dedicação em torno do game e apresentou um belo desempenho individual. Podemos classificar a temporada de Gabs como constante, conquistando cinco EVPs por competições diferentes e, não à toa, terminando no top 5 de Melhores Jogadoras da
DRAFT5. A própria integrante furiosa tem dificuldade em elencar a sua melhor aparição, mas o impacto na primeira edição do
Rainhas do Clutch foi gigante. A jogadora terminou com 1.75 de KDR só na fase de playoffs do torneio, ficando atrás apenas da
gabee. Outra participação que merece destaque aconteceu na campanha do título da
BGS Esports, onde a experiente player foi dona do KDR de 1.54 ao longo da primeira fase de disputa.
Arte por DRAFT5 Gabriela "
Gabs" Freindorfer ainda angariou os EVPs da primeira e segunda edição da
GC Masters, e do
Girl Power Invitational. Por conta disso, encerrou a temporada com cerca de
25,8 D5 points, deixando-a na quinta colocação da lista.
"Não esperava (estar no top 10). Acho que temos muitas jogadoras incríveis no cenário. Muitas que se mantém no top 10 e outras que estão chegando para fazer historia. Fico muito feliz em fazer parte, mas também preocupada porque a mulherada está vindo forte."
QUER MAIS EM 2021
A FURIA, obviamente, entra em 2021 como o time a ser batido. No entanto, Gabs ressalta que não estão preocupadas com o fato de serem mais visadas pelas adversárias. Segundo a jogadora, o importante é trabalhar para corrigir os próprios erros. "
Nossos planos são sempre evoluir. Acho lindo quando um time não está procurando excelência e sim melhorias". O ano esplêndido não a impede de querer mais. Com muita lenha para queimar, Gabs quer manter a dinastia nacional para 2021 e conquistar o mundo.
"Meu sonho agora é ganhar um mundial. Estou treinando e me dedicando fortemente para isso".