As melhores no Brasil em 2020: (2) – GaBi

Experiente jogadora da FURIA ostentou 49,4 D5 Points em sua brilhante temporada

Foto: Arte/DRAFT5
Gabriela "GaBi" Maldonado é certamente um dos nomes mais renomados do cenário feminino do Counter-Strike sul-americano. Natural de Osasco, região Metropolitana de São Paulo, a atleta nascida em 1999 sempre teve gosto pelos videogames. Logo cedo, a pequena Gabriela teve contato com um computador no qual conheceu o CS. Em suas palavras, era um servidor estrangeiro no qual sofria pelos seus 400ms de ping.

PRIMEIROS PASSOS

Outra que se destaca pela simplicidade na hora de escolher seu nickname, a paulista é, curiosamente, uma das três Gabriela's a integrarem o elenco feminino da FURIA. Seu primeiro contato com o CS:GO, versão mais nova daquele considerado por muitos o soberanos dos FPS, veio por meio da insistência de um primo, que a convenceu a comprar o jogo. "Logo dei uma chance e estou aqui até agora", conta GaBi. Uma abordagem mais competitiva demoraria um pouco mais para ser adotada pela jogadora. Foi apenas em 2016 que ela resolveu dar o primeiro passo rumo ao seu estrelato no Counter-Strike. "O meu primeiro time foi no começo de 2016", recapitula. "Conheci as meninas por meio de um grupo feminino que tinha no Facebook", explica. "Quando montamos o time demorou um pouco até conseguir chegar lá na frente apra disputar com as melhores da época. Lembro que sempre passavam duas equipes por grupo na Liga Feminina e sempre ficávamos em terceiro", relembra.
Foi pelo Facebook que GaBi conheceu suas primeiras companheiras de time | Foto: Felipe Guerra
E foi logo naquele longínquo começo de 2016 que a atleta teve sua primeira chance de disputar um campeonato presencial, a G3X Cup chancelada por ninguém menos que Alexandre "Gaules" Borba. A oposição, por sinal, era muito melhor no papel. Da ProGaming de Cláudia "santininha" Santini e Juliana "showliana" Maransaldi, passando pela Pichau de Camila "napeR" Naper, GaBi e suas companheiras derrubaram todas. O quinteto da Densa Squad só seria freado pela experiente Innova de Camila "cAmyy" Natale e Pamella "pan" Shibuya. "Lembro que haviam vários times com muito mais nome que o nosso e ninguém colocava muita fé na nossa equipe", assinala. "Nesse campeonato surpreendemos e ficamos em segundo lugar", lembra. Seu primeiro título, no entanto, não demoraria a vir. A etapa de junho da Liga Feminina de 2016 ficaria sob a tutela dela e suas companheiras do mix More Than You. Seu primeiro ano como profissional se encerraria sob o banner da semXorah. O 2017, no entanto, seria um pouco mais movimentado. Um bom início de ano pela Team One RED ao lado de Amanda "AMD" Abreu e Bruna "Bizinha" Marvila veria a equipe garantir o título de mais uma Liga Feminina, além do vice da Power Lounge Cup Feminina.
As golden girls vice-campeãs da Power Lounge Cup | Foto: Arquivo pessoal

A PRIMEIRA ERA

Uma breve passagem pela Team Innova Pink seria o prelúdio de uma das fases mais marcantes de sua carreira. Em outubro de 2017, GaBi e suas demais companheiras foram contratadas pela renomada Vivo Keyd para comporem a primeira divisão de Counter-Strike feminina da história da organização brasileira. O sucesso sob o banner da equipe seria instantâneo e a composição consolidaria uma das grandes hegemonias da história do cenário feminino nacional de CS:GO. Fechando 2017 com chave de ouro, as guerreiras destruíram toda e qualquer força que se opusesse a elas no caminho rumo aos títulos da Brasil Game Cup Feminina 2017 e da seletiva feminina para a WESG 2017-18. Não à toa, GaBi ficou com o prêmio de quarta melhor jogadora daquela temporada pela Gamers Club. 2018 começaria na mesma pegada à medida em que GaBi e suas companheiras alcançariam aquela que ficaria marcada como sua primeira LAN no exterior: a Intel Challenge Katowice 2018, torneio realizado na Polônia que contou com algumas das grandes equipes do cenário feminino mundial daquela época. Em Katowice, saldo positivo: ida aos playoffs, quarta colocação e $5 mil no bolso. Na WESG, disputada em Haikou, na China, o resultado não agradou tanto: queda ainda na fase de grupos nos critérios de desempate. A experiência internacional, no entanto, valeu muito a pena. Logo, a equipe retornaria à América do Sul para dar continuidade a sua dominância regional. Foi assim durante todo aquele 2018.
Escalação da Vivo Keyd durante disputa no Parque Olímpico do Rio de Janeiro | Foto: Arquivo pessoal
A era construída por GaBi e suas tropas no cenário feminino, aliada à algumas aparições esporádicas em torneios mistos, não seria suficiente para garantir a manutenção do elenco sob o banner da VK após polêmicas extra-jogo. Livre de contrato, a equipe acabaria por chamar a atenção de uma das maiores organizações de esports de todo o planeta. Visando expandir seus horizontes, a OpTic Gaming fechou com o quinteto. A estadia, no entanto, duraria pouco menos de dois meses. Foi tempo suficiente para a equipe faturar os títulos da Game Experience 2018 Feminina e da Brasil Game Cup Feminina 2018. O vínculo contratual seria quebrado de forma unilateral pela OpTic devido ao receio provocado pelo escândalo protagonizado por sua line-up indiana, onde Nikhil "forsaken" Kumawat foi banido em campeonato presencial enquanto atuava sob o banner da mesma. Apesar dos pesares, o então Time das Lindas, tag usada por GaBi e suas companheiras enquanto livres no mercado, terminou 2018 em grande estilo com o título da GAMECON Challenge CS:GO Feminino 2018. Protagonizando novamente uma brilhante temporada, Gabriela foi indicada mais uma vez ao prêmio de melhor jogadora daquele ano pela plataforma líder.
Aposta da OpTic em solo brasileiro não durou muito tempo | Foto: Reprodução/OpTic Gaming
GaBi e seu esquadrão não davam quaisquer sinais de queda no desempenho já no início de 2019. A vitória sobre a Reboot que sacramentou mais uma aparição do quinteto no Intel Challenge Katowice serviu para provar isso. A paiN Gaming, por sinal, não quis perder tempo, acertando com as meninas mais dominantes do cenário em fevereiro daquele ano. Mesmo sem conseguir alcançar a fase decisiva das duas competições internacionais que disputou, a ICK, na Polônia, e a WESG, na China, a equipe seguia sem aliviar para ninguém em solo brasileiro. Apesar da boa largada, 2019 não foi exatamente o melhor dos anos para GaBi e suas companheiras de paiN. Mesmo faturando a etapa semestral da Liga Feminina, a formação sofreu com o ping alto na disputa da seletiva norte-americana para a DreamHack Showdown, sucumbindo à forte CLG Red nas semifinais. A Liga Feminina de agosto veria a escalação performando novamente abaixo do esperado, bem como na BGC Feminina, onde a paiN não conseguiu alcançar às finais presenciais. O ano seria sacramentado com uma das poucas disputas em LAN: a seletiva nacional para a GIRLGAMER Esports Festival 2019, torneio que seria disputado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
GaBi durante a disputa de seu último campeonato junto da paiN | Foto: Rafael Veiga/DRAFT5
E coube às argentinas da Isurus a responsabilidade de quebrar um longo tabu: pela primeira vez desde 2017, a escalação composta por GaBi e companhia seria derrotada em um campeonato presencial. Se não bastasse a precoce queda nas semis, o torneio ainda ficaria um pouco mais amargo à medida em que a equipe sucumbiu à Vivo Keyd na disputa pelo terceiro lugar.

UM ANO FURIOSO

Impecável. Irretocável. Perfeito. Extraordinário. Você leitor escolha o adjetivo que bem entender para definir o que foi o atípico ano de 2020 para a FURIA. Com a derrocada da paiN, GaBi encontrou uma nova casa junto das furiosas. A união, por sinal, rendeu incontáveis frutos. Para ser exato, mais uma era a ser lembrada pelo cenário feminino sul-americano de Counter-Strike. "É muito bom representar a FURIA, uma organização gigante a qual sou fã e que dá estrutura para os jogadores", afirma. "Isso é essencial para o sucesso do time feminino", pondera uma das mais experientes atleta do elenco, que ressalta a importância de tal fator: "Consigo passar confiança para o time e puxo bastante calls dentro do jogo", garante. Perdendo apenas um mapa ao longo das duas primeiras edições de Liga Feminina do último ano, a FURIA ia mostrando pouco a pouco que era o time a ser batido. O título do Girl Power Invitational reforçou tal tese. O triunfo na primeira edição da Gamers Club Masters Feminina serviu apenas para coroar o árduo trabalho da equipe em um ano repleto de adversidades.
Ninguém foi capaz de parar a FURIA no cenário feminino em 2020 | Foto: Divulgação/FURIA
Aventurando-se em campeonatos mistos, GaBi e companhia se saíram bem. Caíram na fase de grupos do Esportsmaker Invitational após embates pegados com a gigante BOOM e com a ascendente Paquetá. Já no Gaming Culture Invitational Convergence 2020, a composição furiosa chegou à decisão, perdendo para o bem-estruturado Santos na decisão por três mapas a um. Um marco para o cenário feminino brasileiro. "Foi um ano muito bom, porque conseguimos vencer todos os campeonatos femininos que jogamos. Creio que a dedicação do time foi o que nos levou a ganhar todos os campeonatos, porque treinamos bastante todos os dias pra conseguir mandar bem sempre", assegura. "Eu esperava que teríamos bons resultados nessa temporada, porque somos um time dedicado. Porém tiveram times femininos que bateram de frente com a gente", relembra. A Liga Feminina do terceiro trimestre seria mais um troféu para a coleção furiosa, que seria ainda mais engrandecida pela conquista do bicampeonato do Major brasileiro, a Gamers Club Masters Feminina, campeonato que, para GaBi, teve um gostinho especial: "Todos os títulos que ganhamos esse ano foram muito importantes, mas se fosse pra falar de apenas um com certeza seria a Gamers Club Masters Feminina II, porque senti que ajudei bastante in game com ideias, também porque fui MVP e tive o prazer de receber minha primeira medalha de MVP", diz.
As campeãs do Rainhas do Clutch | Foto: Divulgação/FURIA
O fechamento da temporada não poderia ser diferente. Irretocável campanha na BGS Esports 2020 que culminaria com GaBi e cia. outra vez no topo do pódio. "Eu senti que fui constante esse ano. Como eu jogo bastante em bomb sozinha é mais difícil conseguir se destacar e acho que esse ano consegui mandar bem", analisa. Mesmo ciente de seu grande desempenho, GaBi preferiu não arriscar sua colocação no top 10: "É difícil falar em qual posição eu vou ficar, mas só de estar entre as principais jogadoras já fico muito feliz", explica a atleta de 21 anos. Quanto aos nomes a serem observados em um futuro próximo, a jogadora apontou duas atletas: "É complicado falar sem conhecer totalmente as meninas, mas pelo o pouco que eu vi acho que a Daiki pode aparecer e também a Arkynha que vem se saindo muito bem". "Creio que na lista de 2020 estarão jogadoras que já estão no cenário há um tempo e que estão jogando desde o início do ano, mas com certeza em 2021 podem aparecer novos talentos", diz GaBi.

A 2ª MELHOR DO BRASIL EM 2020

Mesmo executando algumas tarefas um tanto quanto ingratas dentro do servidor, GaBi ostentou números excepcionais ao longo de todo o ano. Ainda em janeiro teve destaque na paiN, durante o classificatório para a WESG. Logo em seu primeiro compromisso junto das furiosas, GaBi ficou como EVP1 da Liga Feminina inaugural de 2020. Na segunda etapa da Liga Feminina, um salto no desempenho resultou nela faturando o prêmio de melhor jogadora da competição. Tendo como principal inspiração o duas vezes melhor do mundo Marcelo "coldzera" David por conta do "foco e dedicação que ele tem", a atleta ainda nomeia outros dois atletas como referência: "Lá de fora, admiro bastante o NiKo e o ropz", conta. GaBi voltou a ser destaque nas campanhas que levaram a pantera aos títulos da primeira Gamers Club Masters Feminina e do Girl Power Invitational.
Arte/DRAFT5
Foi EVP1 no Gaming Culture Invitational Convergence 2020, no Rainhas do Clutch teve EVP, assim como no segundo split da BGS Esports 2020, e na Girl Power Invitational. A jogadora ainda teve tempo de coroar sua brilhante temporada com sua primeira medalha de MVP DRAFT5, conquistada graças às implacáveis atuações durante a segunda Gamers Club Masters Feminina. Tais feitos lhe conferiram sonoros 49,4 D5 Points, apenas 0,1 acima da terceira colocada Karina "kaah" Takahashi, os pequenos valores de diferença vem dos 3,4 pontos que Gabi conseguiu sendo EVP da seletiva da WESG, ainda em janeiro. Gabi, ficou 10,3 pontos atrás da primeira colocada, diferença oriunda do peso dos campeonatos em que ficou como EVP1. A ausência de Gabi entre as EVPs da terceira Liga Feminina de 2020, pesaram na contagem final da fórmula contra a número 1. Um ano brilhante que a coloca como segunda melhor do Brasil.