Episódio que comoveu toda a comunidade brasileira de Counter-Strike: Global Offensive no final de 2019,
a morte de Matheus "brutt" Queiroz voltou a ser assunto neste sábado (11) após a mãe do jogador, Cristiane Fernandes Queiroz Coelho, se pronunciar pela primeira vez.
Ela escreveu uma carta destinada aos responsáveis de outros atletas e concedeu uma entrevista ao
UOL, na qual revelou que dará entrada em ações judiciais contra Team Reapers e Imperial. "
Depois de muita angústia, resolvi quebrar o silêncio e relatar tudo aquilo que eu gostaria de saber ou de ter ouvido antes de perder meu filho", escreveu a mãe de brutt na carta. Quatro meses após a perda, Cristiane revelou ter chegado a conclusão de que "
meu filho era só uma máquina para dar nome, likes e boas visualizações nas redes sociais". O objetivo da carta, explicou Cristiane, é alertar "
a todos os mães e pais" de atletas profissionais de esportes eletrônicos. "
Muitos desses jovens trancam a matrícula na faculdade, deixam suas casas. Alguns deixam mulheres e filhos, e muitas vezes partem para outras cidades atrás do sonho de se tornar um atleta profissional e melhorar a situação financeira pessoal e da família. E, para isso, se submetem a um esforço mental extremo e muitas horas de dedicação aos jogos eletrônicos. Além dos horários de treino estipulados, treinam individualmente para aumentar seu desempenho pessoal. Com meu filho não foi diferente", declarou. De acordo com Cristiane, para captar o talento de brutt várias promessas foram feitas: "
Para nossa família, foi dito que os meninos estariam amparados por um gerente, responsável por eles enquanto estivessem nas gaming houses e que receberiam assistência à saúde e todas as condições e cuidados necessários compatíveis com suas atividades. Mas, na prática, não foi o que aconteceu". Ao UOL, a mãe de brutt informou que a primeira vez que o jogador se apresentou doente foi quando ele ainda defendia Team Reapers. Na carta, Cristiane disse que "
meu filho e os demais jogadores começaram a passar mal com dores de estômago, diarreia e outros sintomas. Desconfiaram da água que era oferecida, o que se comprovou mais tarde". Ainda na entrevista, a mãe de brutt relatou que a saúde do jogador começou a deteriorar após a
transferência para a Imperial porque a casa oferecida pela organização aos jogadores não contava com ar-condicionado e ficava próxima ao Aeroporto de Congonhas. Problemas esses que dificultavam o descanso dos atletas. Aconteceram ainda episódios de falta de comida e alagamento no banheiro da casa. Cristiane revelou que se apavorou com estado do filho ao vê-lo atuando no jogo entre Imperial e Uppercut, que foi o último pela organização: "
Ao perceber que meu filho, estranhamente, estava jogando com casaco e de capz, sem o fone, fiquei muito assutada. Mais tarde descobri que meu filho teve que jogar mesmo sob uma dor insuportável e com toalhas molhadas na nuca para aliviar a dor, sem aguentar sequer um barulho do headset".
brutt em ação no CBCS pela última vez e com a toalha relatada na nuca | Foto: CBCS O episódio levou Cristiane procurar saber como brutt se encontrava, quando descobriu sobre os problemas na gaming house da Imperial e decidiu ir ao encontro do jogador. "
O quadro do meu filho piorou muito. Desesperada, fui para São Paulo e me deparei com meu filho esticado numa cama sozinho, pálido, e com duas toalhas molhadas na cabeça. Ele estava visivelmente fraco e abatido porque estava há dias sem se alimentar direito", relatou na carta. Depois de levar brutt a unidades de saúde em São Paulo e o estado do jogador piorar, Cristiane resolveu voltar para o Rio de Janeiro com o filho. A real situação do problema do atleta foi constatada após uma consulta com o médico da família e exames mais detalhados. Contudo, apesar de todos os esforços, a saúde do jovem se agravou e ele acabou morrendo no dia 15 de dezembro. Na carta que escreveu para os outros responsáveis de atletas, a mãe de brutt relatou ainda que, por várias vezes, solicitou ajuda financeira à Imperial porque "o médico e os exames eram muito caros, e o hospital público não tinha vagas. O auxílio veio, no valor de R$ 800 e que foi dado pelo dono do clube como uma colaboração a parte já que a organização não pagava uma assistência de saúde ou convênio. "
Pior foi tomar conhecimento de que circulava uma notícia nas redes dizendo que nossa família teria recebido todo o suporte durante a doença do meu filho e após o falecimento. Mentira. Não recebemos sequer um tratamento humano ou, no mínimo, apoio emocional", relatou Cristiane. A mãe de brutt disse ainda "
o meu esposo e eu passamos dias lutando para salvar o meu filho. Tivemos que parar de trabalhar. Ficamos sem recursos financeiros, pois somos autônomos. Dias sem tomar banho e sem se alimentar direito, para acompanhá-lo no hospital. E mesmo assim tínhamos que nos manter fortes para dar suporte ao Matheus e aos irmãos". "
O brutt morreu, foi enterrado e tudo acabou pois o meu filho não passava de uma máquina que se tornou inútil. Vigie seus filhos atletas, mães. Confiei nas promessas que foram feitas e o meu filho, agora, não está mais aqui", finalizou.
Por meio de nota, a Imperial se pronunciou nas redes sociais dizendo que os fatos divulgados na reportagem surpreenderam o clube por não se tratarem da realidade. A organização falou ainda sobre quadro de saúde apresentado pelo atleta durante toda a passagem e a proximidade da gaming house ao aeroporto.
Team Reapers também emitiu uma nota na qual afirma que brutt não apresentou "
nenhuma insatisfação ou sintoma que demonstrasse gravidade no estado de saúde". O clube ressaltou também que todo suporte à operação da gaming house.