Opinião do Spricigo: Porque o Last Dance é uma péssima ideia que pode dar certo
Os lados de um debate envolvendo coração e razão
por Lucas Spricigo
10 de Nov de 2021 - 18:25Compartilhe:

Antes de começar é importante ressaltar que o objetivo do texto não é fazer você acreditar na minha opinião. É enxergar as outras que, talvez você nem mesmo tenha pensado, mas também entender o motivo do seu amigo acreditar piamente que o projeto de Gabriel “Fallen” Toledo com o resto do core LG/SK funcionará.

PORQUE PODE DAR ERRADO

Quando falamos de desempenho, é difícil não apontarmos para equipes do topo do Counter-Strike em que jovens são as grandes estrelas. Não é opinião, é fato, só 8% dos jogadores das equipes top 30 tem mais de 28 anos. A correlação não é voltada a apenas ao que o achismo propõe, não se pode brigar com números.

A NAVI, por exemplo, esqueçam Oleksandr "s1mple" Kostyliev por um momento. O badalado Valerii "b1t" Vakhovskyi nasceu em 2003, ou seja, talvez nem usasse o banheiro ainda quando Lincoln “fnx” Lau conquistava a ESWC em 2006. FalleN já tinha 15 anos na mesma época.

O próprio s1mple está no cenário desde 2013, hoje é um dos grandes da história do jogo, mas só tem 24 anos. Não são 30 anos.

Mas o que a idade influencia na prática. Cientificamente, talvez nada, não é um comparativo de 20 contra 50 anos. Porém, as pessoas mudam seus focos de vida a partir de um certo momento.

b1t da NAVI, um dos novos rostos do CS:GO tinha 3 anos quando fnx conquistava seu primeiro mundial | Foto: HLTV.orgb1t da NAVI, um dos novos rostos do CS:GO tinha 3 anos quando fnx conquistava seu primeiro mundial | Foto: HLTV.org

Na opinião da HLTV desta quarta-feira (10), citaram os esquadrões suecos que fizeram sucesso, tanto na NiP quanto na fnatic. Mas existe outro exemplo que talvez complemente e fundamente melhor a opinião.

Lembram da Virtus.pro polonesa? Quanto tempo vimos os mesmos jogadores, ou uma line-up muito similar, jogando? É claro que com o passar do tempo e as conquistas vindo os jogadores mudam seu foco. Pasha foi pai, o TaZ foi pai em 2017. Como que o foco continuaria o mesmo? Como vai ter uma rotina de viagens pelo mundo, de bootcamp de semanas longe da família?

Lincoln “fnx” Lau saiu da Immortals em 2017. Eu sei que a pandemia mexeu com todos e talvez você não se dê conta, mas já foram 4 anos. O cenário é outro, o mundo é outro, o meta é outro. Desde aquela época, o jogador tentou a sorte no cenário brasileiro, mas nos últimos 4 anos não teve sequer 1 evento surpreendente, extraordinário, com desempenho daquele fnx. Não teve MVPs por aqui e apareceu em poucos eventos em forma. Motivo? O foco era outro.

Todos do core LG/SK em algum momento já manifestaram o desejo de encerrar a carreira em breve “dois anos”, um diz, “vou ver como são as coisas do ano que vem e quem sabe” diz o outro. O foco, a vontade a gana de ganhar vem de onde agora? Hypou agora por qual motivo?

O imediatismo da comunidade por resultados também é uma doença que atinge os jogadores. Se meses atrás o pensamento era se aposentar em dois anos no máximo, então quer dizer que existe 0 possibilidade de esperar a equipe maturar? É chegar ganhando ou não vai longe? Então o projeto vai começar pensando em acabar?

São esses os motivos, as dúvidas que permeiam o projeto e inflamam o público que não enxerga com bons olhos. A nostalgia não pode ser reforço, é um projeto que envolve custos e quem custearia um projeto pelo coração?

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PORQUE PODE DAR CERTO

Talvez não exista jogador no mundo igual Lincoln “fnx” Lau, renascer das cinzas por tantas vezes realmente deixa o público a mercê de surpresas sempre em que se indica um retorno. Quantas vezes o “fnx focado” é colocado em pauta, desde o mais iniciante do público até as opiniões dos mais conceituados.

O fnx focado voltou 10 anos após seu primeiro mundial para conquistar os dois Majors do Brasil. O fnx focado foi ultrapassado em KAST, uma das estatísticas mais importantes do CS:GO no domingo, 4 anos de liderança de um dos números que a média mais subiu com o meta recente. O fnx focado é colocado por qualquer analista como um dos maiores da história dos mais de 20 anos de Counter-Strike.

“fnx ta velho e parado” também estava parado (e não era novo) no início do CS:GO, ainda em 2014, no mesmo ano foi kickado da equipe com FalleN, fer e os gêmeos teles. Muitos também falaram “acabou pra ele”, sim, acabou…rs... dois anos depois levou tudo o que podia jogando pela LG/SK. fnx não tá velho e nem parado, estava sem foco e talvez não quisesse saber de Counter-Strike por um tempo. Se ele entende que chegou o momento de voltar, saia da frente.

Foto: DreamHackFoto: DreamHack

Gabriel “FalleN” Toledo e os comparativos com vinho são corriqueiros durante as partidas do Professor. É de longe o jogador do quarteto que está em maior forma. Por ser IGL os números não tão baixos no comparativo com os outros jogadores da função, faz entender que a queda de FalleN nos últimos anos é quase nula. Ele continua em forma e agora muito mais experiente, por ter jogador junto de outros, ter experienciado outras equipes, outros estilos.

Marcelo “coldzera” David foi um dos primeiros diferentes a tocar no CS:GO. A gana pela vitória, já foi muitas vezes confundida e julgada de outra forma. Talvez não exista ninguém que queira ganhar mais do que o duas vezes melhor do mundo. Coldzera sofreu com suas escolhas, já revelou que se deixou levar pela oportunidade de jogar ao lado do amigo Nikola “niko” Kovac e isso pesou na ida para a FaZe. Tentou ir para a Complexity vendo a oportunidade de voltar a um Major, mas não deu e isso para coldzera é lenha num fogo ardente.

Se o “estilo cachorro” de hoje em dia faz sucesso desde o level 20 GC até o cenário profissional, deve muito a Fernando “fer” Alvarenga. Você que não viu 2016, 2017 e 2018 talvez não entenda direito, mas ele sempre tirava algo da caixa. Algo totalmente fora do comum e isso que deu cara ao Counter-Strike brasileiro.

Não é só para vender camisa, é a fé do Brasil, é sobre o espírito de nunca desistir. A última dança dos ídolos tem que acontecer, o brasileiro precisava provar mais um pouco. Se não for para ganhar é pelo menos para dar o último sabor de que ainda poderia dar certo.

A IMPORTÂNCIA DO “NETO DO COUNTER-STRIKE”

Aproveitando o espaço para os leitores que conseguiram chegar até aqui, me vejo na necessidade de contrapor o Professor (talvez uma das poucas vezes que fiz isso na minha vida).

Com a opinião da HLTV, FalleN não foi tão receptivo (direito dele), porém a forma com que foi feita inibe vários de dar a opinião. Ora, se a HLTV, maior portal especializado em Counter-Strike do planeta, referência para todos, recebeu esse tipo de resposta, quem mais ergueria a mão para dar a opinião num cenário já carregado de "pré ideias" formadas por um Tweet.

Acreditando no caráter e profissionalismo dos companheiros da HLTV, julgo que o objetivo era trazer um debate rico com relação a um dos grandes acontecimentos dos últimos anos no Counter-Strike. O retorno de uma line-up vencedora e que também mexeu com a vida deles durante vários anos, ou acredita você que ninguém de lá tem relação com os jogadores?

Uma opinião não são palavras jogadas ao vento, são para agregar conhecimento, outras facetas sobre o assunto. É visando amadurecer, ampliando a visão das pessoas. Ao mesmo tempo, tal opinião vindo de quem for, deve ter a responsabilidade e se ater a tais prerrogativas.

Nosso cenário é miserável de formadores de opiniões, e nem me refiro a jornalista, me refiro ao resto. Infelizmente, nós não podemos nos abastecer só de brincadeiras em live, o cenário cresceu, se profissionalizou e o business envolve mais do que só isso. Eu vou, você vai, nós vamos, o que a próxima geração do Counter-Strike vai ter em mãos se todo mundo se abster de dar a opinião? O Neto do CS sempre existiu ele só tem medo de dar uma opinião contra uma avalanche provocada.

Da mesma forma quem opina deve saber lidar com as respostas, assim como já me preparo para lidar com as minhas.

*as opiniões expressas nesse texto não refletem as opiniões das empresas DRAFT5 e Gamers Club
PUBLICADO POR:Lucas SpricigoChefe de Redação Gamers Club Media e Editor-Chefe na DRAFT5.@LucasSpricigo

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